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Bové tem 24 horas para sair do Brasil

Por Agencia Estado
Atualização:

A Polícia Federal notificou nesta segunda-feira à noite o ativista francês José Bové para que ele deixe o Brasil em 24 horas. Às 22h30, agentes da PF encontraram Bové na garagem do Hotel San Raphael e, em seguida, o levaram para a sede da PF, na Avenida Paraná. Cerca de 20 pessoas que acompanhavam a ação gritaram "Libertem Bové". O advogado da Comissão Pastoral da Terra, Darcy Frido, disse que entrará com pedido de habeas-corpus para tentar reverter a decisão. O superintendente em exercício da Polícia Federal no Rio Grande do Sul, Dagoberto Garcia, afirmou que a notificação baseia-se no Estatuto do Estrangeiro, que permite à instituição tomar esse tipo de atitude quando um visitante pratica atos indevidos ou incompatíveis com sua permanência como turista no País. A PF resolveu notificar Bové atendendo a uma representação apresentada pelo deputado estadual Frederico Antunes (PPB). O deputado pediu abertura de inquérito policial, sob alegação de que os atos praticados pelo MST, com a participação do ativista francês, constituem "flagrante invasão da propriedade alheia". Na sexta-feira, Bové e João Pedro Stédile, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), participaram da destruição de dois hectares de lavouras de soja da multinacional Monsanto, na cidade gaúcha de Não-Me-Toque. Bové, que tem passagem de volta para a França marcada para o dia 31 à noite, soube que seria notificado quando estava participando de um debate com Stédile, no Fórum Social Mundial. "Não tenho nada a esconder", afirmou, para, em seguida, revelar onde estava hospedado para "facilitar" o trabalho dos agentes da Polícia Federal que poderiam lhe encontrar. "Estou hospedado no Hotel San Raphael e, se a Polícia vier de madrugada me encontrará no quarto 1.414." O líder camponês, que ganhou fama internacional depois de comandar a destruição de uma loja do McDonald´s, em 1999, disse ter ter ficado "muito surpreso" com a decisão da Polícia Federal. "O Fórum não precisa disso", observou. "Vim aqui como convidado para participar desse primeiro encontro de movimentos sociais em todo o planeta e discutir uma via nova para a agricultura." Stédile disse ter ficado "estarrecido" com a decisão. "Acreditamos que isso seja resquício da ditadura militar e estamos perplexos diante de tamanha gafe do governo de Fernando Henrique Cardoso", criticou. Ele interpretou a decisão da PF como uma iniciativa de "setores conservadores preocupados com o sucesso do fórum". "Essas corporações multinacionais que querem controlar nossa agricultura se articularam e, via Polícia Federal, tentaram criar uma situação de constrangimento", afirmou Stédile. O jornalista Bernard Cassen, diretor do Le Monde Diplomatique e um dos idealizadores do fórum, disse ter confiança na revisão da decisão da Polícia Federal, por causa das boas relações diplomáticas entre o Brasil e a França. (Colaborou Sandra Hahn)

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