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Bové e Stédile comemoram habeas-corpus

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Por Agencia Estado
Atualização:

Para o Movimento dos Sem-Terra (MST), a tentativa da Polícia Federal, de forçar a saída do líder camponês francês José Bové ajudou a organização. Para Bové, "graças ao governo brasileiro, ficou mais clara ainda a legitimidade do MST". Em entrevista coletiva concedida hoje, a partir das 15h, depois de ter sabido do habeas-corpus preventivo concedido para sua permanência no Brasil, Bové informou que parte nesta quarta-feira de Porto Alegre às 16h, de acordo com sua programação inicial. Os advogados que representaram Bové no caso, da Rede Nacional Autônoma de Advogados Populares, distribuíram cópias da decisão do juiz da Segunda Vara Criminal de Porto Alegre, Ricardo Humberto Silva, que classificou a detenção de Bové pela Polícia Federal um gesto de "mera represália" e feito "de modo abusivo". Segundo um dos advogados, Darcy Frigo, o pedido para que Bové saísse do País deveria vir acompanhado de "uma narrativa que explicasse como ele teria ferido os interesses nacionais e a ordem pública". O juiz afirma, na ordem preventiva, que a invasão da empresa Monsanto por Bové e pelo MST, na sexta-feira passada, foi apenas "uma atividade em desfavor" da multinacional. De boné vermelho do MST e fumando um charuto diante de cartazes com as frases "Todos Bové" (abreviatura do bordão distribuído hoje no Fórum Social Mundial em adesivos, "Todos somos Bové") e "Globalizemos a luta", o líder da Via Campesina, organização internacional à qual o MST pertence, reafirmou que a invasão foi uma "ação legítima". Usando a palavra mais repetida em seus discursos, disse que o "combate" pela distribuição de terra em todos os continentes foi fortalecido pela medida fracassada das autoridades brasileiras, que comparou à repressão do regime militar. "Foi uma medida política, que demonstrou a vontade de evitar o crescimento da Via Campesina e de todos que lutam pela distribuição da terra." Bové também disse que ficou orgulhoso de ter recebido demonstrações de solidariedade pelos integrantes do Fórum e que "a luta dos camponeses é a mesma em toda parte". Para ele, os países devem ser auto-sustentáveis em agricultura, e a reivindicação de produtores nacionais de que a Europa reduza as barreiras aos alimentos do País não é importante. "Temos de lutar pela reforma agrária no Brasil." Outra promessa da cooperação entre trabalhadores rurais de todo o mundo é fazer "a destruição total dos transgênicos", por meio de invasões e protestos. Bové disse não saber ainda se vai poder vir ao Brasil em junho ou julho, como previsto, porque sofre processo por invasão de propriedades privadas na França, e pode ser preso. Ele quer vir lançar seu livro ?O Mundo Não É uma Mercadoria?. João Pedro Stédile, líder do MST, conduziu a coletiva intercalando-a com ironias. Pediu "organização" às pessoas que vieram apoiar Bové, para que os jornalistas fizessem as perguntas, "senão não vamos ter tempo para fazer a revolução". Em outro momento, quando foi perguntado a Bové se ele e o MST planejavam fazer novos atos contra a Monsanto, Stédile interveio em tom de brincadeira: "Vamos ocupar o escritório da Monsanto em Nova York." O líder do MST, de origem gaúcha, disse ao Estado que quer fazer "a revolução brasileira pregada por Caio Prado Jr", que envolve, além de distribuir a terra, "reorganizar a economia e o Estado nacional". Stédile respondeu de forma genérica sobre a possibilidade de a projeção mundial ganhada pelo MST durante o Fórum contrastar com a imagem mais moderada que o PT utilizou nas eleições municipais do ano passado. "O MST acredita que o País só vai mudar se houver lutas de massa", disse. "E todo mundo que contribui para esse longo processo histórico que temos pela frente é considerado um parceiro."

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