Ataques ao 'Estado' visam desqualificar trabalho jornalístico, dizem ANJ, Abert e Aner

Para OAB e Abraji, Bolsonaro usa poder para tentar intimidar imprensa; Fenaj vê 'desrespeito às regras democráticas'

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Por Matheus Lara
Atualização:

A Associação Nacional de Jornais (ANJ), a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) e a Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) emitiram uma nota conjunta em que lamentam o ataque do presidente Jair Bolsonaro ao jornal 'O Estado de S. Paulo' e à repórter Constança Rezende na noite de domingo, 10.

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As entidades afirmam que os ataques à repórter têm o objetivo de desqualificar o trabalho jornalístico. "ABERT, ANER e ANJ assinalam que a tentativa de produzir na imprensa a imagem de inimiga ignora o papel do jornalismo independente de acompanhar e fiscalizar os atos das autoridades públicas".

Para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), o episódio mostra por parte do presidente o "descompromisso com a veracidade dos fatos" e se carateriza como "o uso de sua posição de poder para tentar intimidar veículos de mídia e jornalistas".

O presidente Jair Bolsonaro Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Maria José Braga afirma que o ataque é um atentado à libertade de imprensa. "O presidente e seus seguidores tentam intimidar os profissionais jornalistas por meio de agressões verbais e ameaças", diz.

Maria diz que o episódio evidencia um "flagrante desrespeito às instituições e regras democráticas" no País. "Utilizam a tática da agressão e da disseminação de mentiras para buscar desqualificar os autores de notícias/reportagens críticas ao governo ou com denúncias contra integrantes do governo e aliados próximos, caso dos filhos do presidente que também têm vida pública, num flagrante desrespeito às instituições e regras democráticas."

No Twitter, Bolsonaro endossou tese levantada pelo site Terça Livre, que falsamente atribuiu a uma jornalista do Estado a declaração de que teria “intenção” de “arruinar Flávio Bolsonaro e o governo”. A suposta declaração, que aparece entre aspas no título do texto do Terça Livre, foi atribuída pelo site à repórter. A frase teria sido dita, segundo “denúncia” de um jornalista francês citado pelo Terça Livre, em uma conversa gravada em que a repórter fala da cobertura jornalística das movimentações suspeitas de Fabrício Queiroz, ex-motorista de Flávio.

A gravação do diálogo, porém, mostra que Constança em nenhum momento fala em “intenção” de arruinar o governo ou o presidente. A conversa, em inglês, tem frases truncadas e com pausas. Só trechos selecionados foram divulgados. Em um deles, a repórter avalia que “o caso pode comprometer” e “está arruinando Bolsonaro”, mas não relaciona seu trabalho a nenhuma intenção nesse sentido.

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Allan Santos, editor do Terça Livre, no entanto, expôs a conversa como evidência de suposta irregularidade. “Bomba!!!!! Jornalista do Estadão confessa: “a intenção é arruinar Flávio Bolsonaro e o governo”. A frase jamais foi dita. 

Leia a nota conjunta assinada pela Abert, Aner e ANJ

"A propósito do episódio relacionado à repórter Constança Rezende, do jornal O Estado de S.Paulo, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), a Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) lamentam que o presidente da República reproduza pelas redes sociais informações deturpadas e deliberadamente distorcidas com o sentido de intimidar a jornalista e a liberdade de expressão.

Os ataques à repórter têm o objetivo de desqualificar o trabalho jornalístico, fundamental para os cidadãos e a própria democracia. ABERT, ANER e ANJ assinalam que a tentativa de produzir na imprensa a imagem de inimiga ignora o papel do jornalismo independente de acompanhar e fiscalizar os atos das autoridades públicas.

Brasília, 11 de março de 2019.

Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão

Associação Nacional de Editores de Revistas

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Associação Nacional de Jornais"

Leia a nota da OAB e da Abraji na íntegra:

Em altaPolítica
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"Na noite de domingo, o presidente Jair Bolsonaro fez um novo ataque público à imprensa, desta vez valendo-se de informações falsas. Isso mostra não apenas descompromisso com a veracidade dos fatos, o que em si já seria grave, mas também o uso de sua posição de poder para tentar intimidar veículos de mídia e jornalistas, uma atitude incompatível com seu discurso de defesa da liberdade de expressão. Quando um governante mobiliza parte significativa da população para agredir jornalistas e veículos, abala um dos pilares da democracia, a existência de uma imprensa livre e crítica.

A onda de ataques no domingo começou antes da manifestação do presidente. Grupos que apoiam Bolsonaro difundiram e amplificaram nas redes sociais declarações distorcidas da repórter Constança Rezende, de O Estado de S.Paulo, para alimentar a narrativa governista de que a imprensa mente quando se refere às investigações sobre as movimentações financeiras atípicas de Fabrício Queiroz, ex-motorista do senador Flávio Bolsonaro. Como é comum nesse tipo de ataque, a família de Constança também virou alvo. O grave nesse episódio é que o próprio presidente instigou esse comportamento, ao citar como indício de suposta conspiração que Constança é filha de um jornalista de O Globo.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) se unem neste momento no repúdio a qualquer tentativa de intimidação de jornalistas. Profissionais atacados por fazer seu trabalho terão sempre nosso apoio.

Diretoria da Abraji

Felipe Santa Cruz - presidente do Conselho Federal da OAB

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Pierpaolo Cruz Bottini - coordenador do Observatório de Liberdade de Imprensa do Conselho Federal da OAB"

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