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Bolsonaro envolve Abin e GSI em reunião com advogados de Flávio sobre ‘rachadinha’

Sem registrar na agenda, presidente discutiu supostas ‘irregularidades’ em informações de relatórios sobre o senador; Augusto Heleno, do GSI, e Alexandre Ramagem, da Abin, participaram do encontro em agosto

Por Fabio Grellet
Atualização:

RIO – O presidente Jair Bolsonaro participou de uma reunião, em 25 de agosto, com advogados do filho, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). O objetivo foi debater supostas “irregularidades das informações constantes de Relatórios de Investigação Fiscal” produzidos por órgãos federais sobre o senador. Também foram ao encontro o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, e o diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem.

A reunião, que não foi registrada nas agendas oficiais do presidente nem de Augusto Heleno, foi revelada nesta sexta-feira, 23, pela revista Época e confirmada pelo Estadão.

O presidente Jair Bolsonaro em evento por videoconferência segunda-feira. Foto: Marcos Corrêa/PR

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Desde julho de 2018, Flávio Bolsonaro é investigado pelo Ministério Público do Estado do Rio (MP-RJ) por suspeita de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. A investigação começou a partir de um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). O trabalho identificou “movimentações financeiras atípicas” de 75 assessores ou ex-assessores de deputados estaduais do Rio.

Fabrício Queiroz, assessor de Flávio quando o filho do presidente era deputado estadual fluminense, foi um dos citados. Ele movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. A quantia era incompatível com a renda dele. O MP suspeita que Queiroz operava, a mando de Flávio, um esquema de “rachadinha”. Ou seja, ele recolheria a maior parte dos salários dos colegas de gabinete, para repassá-lo ao filhodo presidente.

O então deputado Flávio Bolsonaro com seu assessor Fabrício Queiroz Foto: Reprodução

Tanto Queiroz como Flávio negam irregularidades. O hoje senador atribui as acusações a “perseguição política”. O verdadeiro alvo seria o governo do presidente, diz. Já o MP do Rio afirma agir tecnicamente e dentro da lei.

Em nota, a defesa de Flávio Bolsonaro afirmou que “levou ao conhecimento do Gabinete de Segurança Institucional as suspeitas de irregularidades” em relatórios sobre Flávio. O motivo seria que os documentos “diferiam, em muito, das características, do conteúdo e da forma dos mesmos Relatórios elaborados em outros casos”.

Ainda segundo os advogados de Flávio, os relatórios anteriores não apontavam qualquer indício de atividade atípica por parte do senador”. O caso foi levado ao GSI “por ter sido praticado contra membro da família” do presidente, argumentaram os advogados.

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A assessoria de comunicação do GSI reconheceu que o caso envolvendo o filho do presidente não é um assunto dentro das atribuições legais do órgão e disse, em nota, que a informação de “supostas irregularidades” em relatórios da Receita Federal foi trazida de “maneira informal” pelas advogadas Luciana Pires e Juliana Bieerenbach com a justificativa de que as denúncias atingiam a “integrante da família presidencial”.

“Entretanto, à luz do que nos foi apresentado, o que poderia parecer um assunto de segurança institucional, configurou-se como um tema, tratado no âmbito da Corregedoria da Receita Federal, de cunho interno daquele órgão e já judicializado. Diante disso, o GSI não realizou qualquer ação decorrente. Entendeu que, dentro das suas atribuições legais, não lhe competia qualquer providência a respeito do tema”, diz a nota. 

CPI

O deputado Alessandro Molon, líder do PSB na Câmara, afirmou nesta sexta-feira que está coletando assinaturas para instalar uma CPI sobre o caso. “É gravíssima a informação de que o presidente usou o cargo e as instituições para tentar livrar o filho de investigação criminal”, escreveu o deputado em seu Twitter. 

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Interferência na PF

Bolsonaro é alvo de inquérito que corre no Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar se ele interferiu politicamente na Polícia Federal (PF), como acusou o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, ao deixar o governo. Em reunião com ministros no dia 22 de abril, o presidente disse: “Eu não vou esperar f… minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha.” 

Na época, investigadores que assistiram ao vídeo disseram ao Estadão terem entendido que o presidente vinculou mudanças na Superintendência da PF no Rio à proteção de sua família.

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