Bolsonaro rebate Lula e diz que ex-presidente já está em campanha para 2022

'No meu entender vai ficar tagarelando não sei por quanto tempo', diz presidente após pronunciamento em que petista fez críticas ao combate da pandemia

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Por Daniel Weterman e Silvia Araújo
Atualização:

BRASÍLIA – O presidente Jair Bolsonaro rebateu nesta quarta-feira, 10, as críticas que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez mais cedo, e afirmou que o petista já está em campanha eleitoral. As críticas ocorreram no primeiro pronunciamento de Lula após suas condenações na Lava Jato serem anuladas pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), o que o tornou apto a se candidatar novamente. 

"Eu não assisti todo o pronunciamento, mas a parte que eu vi ele está em plena campanha política. Para ele, tudo é fácil, tudo pode se resolvido", afirmou Bolsonaro em entrevista no Palácio da Alvorada. "Ele não sabe o que fala, não tem argumento e no meu entender vai ficar tagarelando não sei por quanto tempo", declarou o presidente. 

Presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia para sanção dos projetos de lei que ampliam a aquisição de vacinas Foto: MARCELO CAMARGO/AG. BRASIL

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Para Bolsonaro, porém, Lula está "comemorando cedo", pois a decisão de Fachin ainda pode ser revertida pelos demais ministros do Supremo. 

Pesquisa do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) divulgada pelo Estadão no último domingo, 7, mostrou que o atual ocupante do Palácio do Planalto tem um potencial de votos menor do que o petista

No levantamento, o novo instituto de pesquisas da estatística Márcia Cavallari (ex-Ibope), 50% dos entrevistados disseram que votariam com certeza ou poderiam votar em Lula se ele se candidatasse novamente à Presidência, e 44% afirmaram que não o escolheriam de jeito nenhum. Bolsonaro aparece com 12 pontos porcentuais a menos no potencial de voto (38%), e 12 a mais na rejeição (56%).

No discurso feito na manhã desta quarta, em São Bernardo do Campo, Lula adotou um tom de candidato, com ataques a Bolsonaro e seus ministros, além de criticas à condução do governo federal no enfrentamento da pandemia de covid-19. Numa tentativa de se colocar como um contraponto ao bolsonarismo, o petista recomendou que a população não siga nenhuma "decisão imbecil do presidente da República ou ministro da Saúde", além de apoiar governadores que tentam obter vacinas por conta própria. Ele, no entanto, negou que esteja pensando em eleição.

"Em nenhum momento ele falou dos seus governadores de esquerda que destruíram milhões de empregos nos Estados obrigando o povo a ficar em casa", rebateu Bolsonaro no fim da tarde, em referência a medidas de isolamento social adotados para evitar a propagação da covid-19 no País. 

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Bolsonaro disse que as críticas de Lula não se justificam. O presidente argumentou que o governo não deixou de atender a população, e citou o auxílio emergencial e os repasses feitos para Estados e municípios. "Imagina a pandemia com o Lula presidente da República. Seriam roubados no mínimo 90% do que foi entregue para esses entes federados", afirmou o chefe do Planalto na entrevista.

Mudança na conduta

Pouco antes, horas após o discurso de Lula, o presidente mudou radicalmente sua conduta em relação à covid-19 e apareceu de máscara em evento no Palácio do Planalto em qual sancionou projetos para facilitar a compra de vacinas. Desde o começo da pandemia, Bolsonaro tem minimizado a doença, desestimulado o uso da proteção e o distanciamento social e rejeitado propostas de compra de imunizantes.

O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) também mudou o tom e pediu aos seus seguidores para compartilhar nas redes sociais uma foto de seu pai com a frase: "Nossa arma é a vacina". O filho do presidente também disse que nos próximos meses o Brasil vai vacinar "dezenas de milhões de brasileiros". 

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No fim do ano passado, porém, o próprio presidente disse que a pressa pela chegada dos imunizantes "não se justifica" e que as farmacêuticas é que deveriam estar interessadas em negociar com o governo. "Pessoal diz que eu tenho que ir atrás. Não, quem quer vender (que tem). Se sou vendedor, eu quero apresentar", disse Bolsonaro em 28 de dezembro.

Ele também a rejeitar a compra de imunizantes da China por causa da "origem" e desdenhou do imunizante da Pfizer ao dizer que não se responsabilizaria caso alguém virasse "jacaré" ao tomar a vacina. "Não nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral. Se você virar um jacaré, é problema de você’”, disse Bolsonaro em 17 de dezembro.

Na entrevista no Alvorada desta quarta, Bolsonaro também lamentou as mortes pela covid-19. Após decretar por diversas ocasiões que a pandemia estava chegando ao fim, admitiu hoje que a situação da doença no País é grave. "Ninguém esperava por essa cepa que apareceu porque lá atrás o (Luiz Henrique) Mandetta (ex-ministro da Saúde) sempre dizia: o pico vai ser em abril, o pico vai ser em maio, o pico vai ser em junho. E assim foi indo. E apareceu realmente agora, lamentavelmente, uma situação bastante grave onde tem aumentado o número de mortes no Brasil. Agora, digo que o que for possível fazer nós faremos e as vidas têm ser preservadas em primeiro lugar", afirmou Bolsonaro, que no ano passado chegou a responder com um "e daí?" quando questionado sobre o aumento de mortes. 

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