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Bolsonaro quer autorizar GLO para reintegração de posse no campo

Ideia é que o próprio presidente possa determinar a ação após uma decisão da Justiça para retomar o controle da propriedade rural

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Por Mateus Vargas e Ricardo Galhardo
Atualização:

BRASÍLIA - Em gesto para agradar a proprietários rurais, o presidente Jair Bolsonaro disse nesta segunda-feira, 25, que vai apresentar um projeto de lei para permitir ações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) em reintegrações de posse no campo. O objetivo é liberar as forças federais de segurança, como Exército e Polícia Federal, para retirar invasores de propriedades rurais. À noite, o presidente sugeriu que pretende dar garantia legal a quem reagir armado dentro de casa contra invasor. “Dentro de casa, você tem de ser dono de você.”

O presidente Jair Bolsonaro Foto: Alan Santos/PR

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Sem esclarecer detalhes da proposta sobre a GLO, Bolsonaro disse que a ideia é que o presidente possa determinar a ação após uma decisão da Justiça para retomar o controle da propriedade rural. Um dos argumentos é de que há lentidão de governos estaduais na retomada das propriedades mesmo após decisões judiciais. “Como sempre os governadores protelam (para cumprir a decisão judicial)”, afirmou, ao anunciar a medida.

As operações de GLO são realizadas exclusivamente por determinação do presidente da República nos casos em que há esgotamento das forças tradicionais de segurança, em situações graves de perturbação da ordem. Neste ano, Bolsonaro autorizou o emprego das Forças Armadas na região amazônica durante a crise das queimadas.

Ao tratar do assunto, Bolsonaro batizou o emprego das forças federais no campo como “GLO Rural”. O presidente disse que a medida não será imposta, pois passará pelo Congresso. “Se o Parlamento assim achar que deve ser tratada a propriedade privada, eles aprovam. (Se) Achar que não vale nada, daí não aprova”, disse.

Bolsonaro citou a “GLO Rural” uma semana após o governo enviar ao Congresso um projeto que prevê excludente de ilicitude – instrumento que ameniza e até isenta de pena agentes que, por exemplo, matam em serviço – para participantes de ações de GLO. A Câmara já rejeitou por duas vezes neste ano medidas semelhantes, sob o argumento de que seriam uma espécie de “licença para matar”. 

A medida é defendida por deputados ligados ao agronegócio no Congresso – na Câmara, 247 integrantes, quase metade dos 513 deputados, são ligados ao agronegócio. No Senado, 38 dos 81 senadores fazem parte deste grupo. “A gente vê questões indígenas, invasão de propriedade por MST, sei lá o quê. E muitas vezes governos estaduais não têm agilidade, demoram para resolver”, afirmou o senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS), vice-presidente da Frente Parlamentar do Agronegócio, o nome oficial da bancada ruralista.

Na avaliação do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), da Igreja Católica, a proposta vai aumentar a violência na zona rural. Para Kelli Mafort, da coordenação nacional do MST, o anúncio é uma forma de “requentar” a proposta de ampliação do excludente de ilicitude. “É uma licença para matar”, disse. “A pergunta que a gente faz é: Bolsonaro pretende usar essa GLO para expulsar grileiros e madeireiros que invadem terras indígenas ou áreas da União ocupadas ilegalmente ou vai continuar fingindo que isso não está acontecendo?”, questionou. 

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Ruben Siqueira, da coordenação nacional da CPT, disse que a GLO Rural vai formalizar a violência contra quem luta pela reforma agrária. “Isso vai legalizar a violência do Estado.”

O que é GLO?

As operações de GLO são realizadas exclusivamente por ordem expressa da Presidência da República e ocorrem nos casos em que há esgotamento das forças tradicionais de segurança pública, em situações graves de perturbação da ordem. A GLO é regulada pela Constituição Federal e concede aos militares a faculdade de atuar com poder de polícia até o restabelecimento da normalidade.

Um exemplo de uso da GLO foi na ocupação de algumas comunidades dominadas pelo tráfico no Rio de Janeiro e no Espírito Santo, com a greve da Polícia Militar. A medida também foi usada para grandes eventos, como na Copa do Mundo de 2014. Neste ano, o governo Bolsonaro autorizou o emprego das Forças Armadas para ajudar Estados da região amazônica durante a crise por queimadas e desmatamento.

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