Bolsonaro: 'Quem defende fechamento do STF e do Congresso está na manifestação errada'

Presidente diz que ataques ao Judiciário e ao Legislativo nos atos pró-governo, no domingo, ‘estão mais para Maduro’, em referência ao líder venezuelano

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Por Tania Monteiro , Julia Lindner , Altamiro Silva Junior (Broadcast) e
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BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro criticou nesta quinta-feira, 23, a inclusão de pautas contra o Congresso e o Judiciário nas manifestações a seu favor marcadas para o próximo domingo. Em café com jornalistas no Palácio do Planalto, o presidente afirmou que estas bandeiras “estão mais para o Maduro”, numa referência ao presidente venezuelano, Nicolás Maduro, acusado por opositores de implantar uma ditadura no país. “Quem defende o fechamento do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional está na manifestação errada”, disse ele, segundo a Rádio BandNews, que estava no café. O Estado não participou do encontro.

Presidente Jair Bolsonaro no Planalto Foto: ADRIANO MACHADO/REUTERS

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O presidente também reiterou que não irá aos atos previstos em várias capitais do País. A mobilização de apoio ao governo foi marcada como uma resposta aos protestos contra o contingenciamento de verbas para a Educação, que levou milhares às ruas no último dia 15.

Os atos ganharam força após o próprio presidente compartilhar um texto, via WhatsApp, dizendo que o Brasil é “ingovernável” fora dos “conchavos”, conforme revelou o Estado. Uma declaração de Bolsonaro, na segunda-feira, de que o “grande problema do País é a classe política” também ajudou a dar combustível para a convocação, que é capitaneada pela rede bolsonarista.

Segundo interlocutores do presidente no Palácio do Planalto, embora as manifestações sejam vistas como irreversíveis, a mudança de tom de Bolsonaro tem como objetivo desvincular o governo dos atos e evitar ruídos com os demais Poderes, colocando em risco sua governabilidade.

O presidente, inclusive, tem desestimulado auxiliares a participarem das manifestações. Segundo o Estado apurou, até mesmo o filho Carlos Bolsonaro, o mais ativo nas redes sociais, tem dito que não vai às ruas no domingo em apoio ao governo do pai.

Nesta quinta, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, defendeu as manifestações, mas repetiu que não se trata de atos organizados pelo governo. “Essa é uma manifestação da sociedade. Ela será apenas acompanhada e respeitada pelo governo. É da mesma maneira com as que podem ser favoráveis ou contrárias (ao governo). O que cabe a quem está no governo é ter equilíbrio, serenidade, respeito, porque é a cidadania se manifestando”, disse o ministro, em entrevista à Rádio Gaúcha.

Questionado sobre a inclusão de ataques ao Congresso e ao Judiciário como foco da mobilização, Onyx disse que não é uma pauta do governo. “Não sei (quais são as reivindicações). Não fomos nós que organizamos, não fomos nós que chamamos”, afirmou o chefe da Casa Civil, responsável pela articulação do governo com o Congresso.

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O Planalto não arrisca estimar o tamanho que as manifestações terão no domingo, mas a avaliação no governo é de que um eventual fracasso pode ser encarado como uma falta de apoio popular a Bolsonaro. Há ainda uma percepção de que a aprovação na Câmara da medida provisória que reduziu o número de ministérios de 29 para 22 arrefeceu o movimento.

Conforme mostrou o Estado na quarta-feira, uma análise feita pelo WhatsApp Monitor, ferramenta de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – que acompanha 350 grupos públicos do aplicativo –, indica que as mensagens favoráveis ao presidente com convocações para os atos começaram a se destacar entre as mais compartilhadas no dia 16 último, logo após os protestos pelos cortes na Educação.

Nas redes sociais, é possível identificar convocações para atos em ao menos 296 cidades brasileiras. Estão registradas também mobilizações em nove municípios no exterior, com destaque aos Estados Unidos, com cinco localidades.

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Os principais grupos à frente dos atos do próximo domingo são Avança Brasil, Consciência Patriótica, Direita São Paulo e Movimento Brasil Conservador. Além deles, dezenas de outros grupos menores atuam nas redes sociais. A esses movimentos, articulados majoritariamente pelo WhatsApp, se soma uma rede de influenciadores digitais alinhados com o clã Bolsonaro e com o chamado “núcleo ideológico” do governo.

Os atos, porém, têm sido alvo de críticas de aliados e potenciais aliados do Planalto. Nesta quinta, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), voltou a classificar as manifestações como “totalmente desnecessárias”. “O Brasil já foi às ruas, o Brasil já votou, já elegeu, não tem que voltar às ruas neste momento.” Para Doria, o País precisa de “paz, harmonia e entendimento” do povo e dos poderes. “Não precisamos de rua para confrontar nada, é perda de tempo. Vamos concentrar energia aprovando a reforma da Previdência”, afirmou o governador tucano.

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