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Um olhar crítico no poder e nos poderosos

Opinião|Bolsonaro pulou em PF, Coaf, Receita, STJ e Câmara, agora avança sobre STF e TCU

Sem Supremo e mídia, quem segura o presidente?

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Atualização:

Depois de jogar fora o discurso de 2018 e não pôr nada no lugar, o presidente Jair Bolsonaro vai construindo a sua persona de 2022 com base em pautas conservadoras e no avanço sobre o Supremo, o STJ, o TCU e a Polícia Federal, tudo junto e misturado. A Câmara já está no bolso.

Se os ministros indicados para o Supremo na era PT não votaram como agentes dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, nem no mensalão nem no petrolão, muito pelo contrário, os dois da era Bolsonaro vão na linha do general Eduardo Pazuello: “Um manda, o(s) outro(s) obedece(m)”.

O novo ministro do STF André Mendonça tentou agradar a Bolsonaro e oposição, Lava Jato e políticos, evangélicos e não evangélicos na sabatina. Foto: Alan Santos/PR

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Kassio Nunes Marques vota sempre, ou quase sempre, com o presidente. E o novo ministro André Mendonça, que toma posse no dia 16, antes do recesso do Judiciário, vai pelo mesmo caminho, com uma diferença: tende a fazer tudo o que, não um, mas seus dois mestres mandarem – Bolsonaro e evangélicos.

Mendonça chega fraco ao Supremo, depois de esperar quatro meses para ser sabatinado no Senado, ter o pior placar no plenário entre todos os últimos ministros (6 votos a mais do que o necessário) e admitir que vai ser representante de uma religião na corte. É inédito.

Pior: Mendonça foi um na sabatina da CCJ e outro depois de aprovado no plenário. Aos senadores, declarou: “Na vida, a Bíblia; no STF, a Constituição”. Ao País, já com a vaga garantida, abriu o jogo: “Um passo para um homem, um salto para os evangélicos”.

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Ele tentou agradar a Bolsonaro e oposição, Lava Jato e políticos, evangélicos e não evangélicos na sabatina. Já aprovado, jogou fora a neutralidade e trocou democracia e Constituição por “família”, “Deus” e “evangélicos”. Portanto, pode até surpreender e se revelar independente, um real magistrado, mas não é essa a expectativa.

O Bolsonaro de 2022 não tem como falar de corrupção, “velha política”, economia, pandemia, vacina, educação, cultura, política externa e justiça social, apesar de o Auxílio Brasil e a PEC dos Precatórios estarem andando no Congresso. Mas ele terá as instituições nas mãos. A lista de delegados e delegadas afastados cresce a olhos vistos na PF, com uma “curiosidade”: todos contrariaram Bolsonaro de alguma forma, três em ações (até burocráticas) envolvendo o blogueiro Alan dos Santos, que mudou (fugiu?) para os EUA com ajuda dos Bolsonaro e é alvo de um pedido de extradição do Supremo.

Bolsonaro interveio na PF, Coaf e Receita, pulou no STJ, dominou a Câmara e avança sobre o TCU e sobre o próprio Supremo, com vitórias dos filhos e a proposta para os ministros se aposentarem mais cedo e abrirem vagas para novos Kassios e Mendonças. Sem Supremo e mídia, quem segura Bolsonaro?

Opinião por Eliane Cantanhêde

Comentarista da Rádio Eldorado, Rádio Jornal (PE) e do telejornal GloboNews em Pauta

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