Bolsonaro promete 'contagem de votos' nas eleições e diz que militares darão vida pela liberdade

Presidente evita usar expressão 'voto impresso',  mas insiste em discurso radicalizado

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Por Eduardo Gayer
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BRASÍLIA - Nesta véspera dos 58 anos do golpe militar de 1964, que mergulhou o Brasil em 21 anos de ditadura, o presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a fazer discursos tom radicalizado. Durante pronunciamento na inauguração da estação de VLT Cajupiranga, em Parnamirim, Rio Grande do Norte, Bolsonaro prometeu contagem de votos nas eleições, proposta já rejeitada pelo Congresso, e disse que os militares brasileiros darão a vida pela liberdade.

“Povo armado jamais será escravizado. Pode ter certeza, por ocasião das eleições, que os votos serão contados no Brasil. Não serão dois ou três que decidirão como serão contados esses votos”, declarou o presidente, em uma referência indireta aos ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que articularam a rejeição da proposta do voto impresso junto aos parlamentares.

No Piauí, o presidente reforçou sua posição supostamente neutra sobre a guerra na Ucrânia, condenada pelo próprio Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU). Foto: Clauber Cleber Caetano/PR

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À tarde, em cerimônia de lançamento do 5G no agronegócio em Baixa Grande do Ribeiro, Piauí, Bolsonaro disse que a contagem é “a alma do voto”. “A alma da democracia é o voto e a contagem dele faz parte dessa alma”.

Como revelou o Estadão, o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, chegou a ameaçar o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), que não haveria eleição neste ano se o voto impresso fosse rejeitado - como foi.

A tensão entre bolsonaristas e Supremo ganhou força nos últimos dias, depois de o ministro Alexandre ordenar a reimposição de tornozeleira eletrônica no deputado federal Alexandre Silveira (União Brasil-RJ) por ameaças à democracia. Para não colocar a tornozeleira, Silveira está morando dentro da Câmara desde a terça-feira. 

Insistindo na tese de que há uma corrosão nas liberdades individuais no Brasil, Bolsonaro também voltou a citar sua suposta boa relação com militares, um dia antes do “aniversário” do golpe. 

“Talvez o que eu vá falar nesse exato momento seja aquilo de mais importante para o futuro da nossa pátria. Creiam vocês que pouquíssimas pessoas podem muito em Brasília, mas nenhuma delas pode tudo, porque acima delas está a vontade de vocês. Nós, que lá atrás, militares das Forças Armadas e auxiliares, juramos dar nossa vida pela pátria, daremos nossa vida pela nossa liberdade”, disse o chefe do Executivo no Rio Grande do Norte. 

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Apesar das declarações, Bolsonaro declarou no mesmo discurso que o Brasil tem “um dos presidentes mais democratas da história” e afirmou que “acabou o tempo da demagogia, da mentira e da corrupção” - apenas dois dias após a exoneração de Milton Ribeiro do Ministério da Educação após o Estadão revelar a existência de um gabinete paralelo na pasta com pedido de propina em ouro. 

Guerra

À tarde, já no Piauí, o presidente reforçou sua posição supostamente neutra sobre a guerra na Ucrânia, condenada pelo próprio Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU). "Se alguns, em especial da imprensa, queriam que eu tomasse partido, vão continuar querendo", afirmou no Piauí.

Ele também defendeu sua visita oficial ao presidente russo, Vladimir Putin, em Moscou às vésperas da guerra. O conflito ainda não tinha começado, mas já era iminente. "A nossa ida à Rússia há poucas semanas bem demonstrou como nosso governo trata a questão da política externa brasileira", disse o presidente.

"Buscamos um ponto de equilíbrio, buscando o consenso, sempre buscamos a paz, mas não podemos trazer para dentro do nosso Brasil um problema lá de fora. Lamentamos todas as mortes ocorridas, mas não podemos trazer problema para nosso País", acrescentou.

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