Bolsonaro no PL: entenda os obstáculos para concretizar a filiação

Presidente e sigla adiaram filiação prevista para dia 22; principal entrave é apoio do PL já negociado com PT e PSDB nos Estados

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Por Redação
Atualização:

Após o cancelamento de sua filiação ao PL, marcada para a próxima segunda, o presidente Jair Bolsonaro avisou que "tem um limite" e, em "duas ou três semanas", no máximo, vai "casar ou desfazer o noivado". Nesta segunda, 15, em Dubai, ele destacou que tem convites de outros partidos, como PP e Progressistas, e que não vai aceitar que sua futura sigla apoie "a esquerda" nos Estados. Este é o principal entrave colocado até aqui, que inclui acordos do PL negociados anteriormente com o PT no Nordeste e o PSDB em São Paulo, principal colégio eleitoral do País. Nesta quarta-feira, 17, o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, reúne dirigentes dos 27 Estados para tentar conciliar os interesses locais e as prioridades de Bolsonaro. Entenda as principais pendências a serem superadas entre os liberais e o presidente para selar a filiação:

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Concessões dos Estados

Bolsonaro espera que o PL concorde em lançar candidato próprio ou aliado em diversos Estados, sobretudo São Paulo e Estados do Nordeste. O partido já firmou apoio à candidatura de Rodrigo Garcia (PSDB) ao governo de São Paulo e não ofereceu ainda alternativa a isso. Para o presidente, essa aliança é inadmissível. Garcia é vice do governador João Doria, um dos principais oponentes do presidente no xadrez político e, possivelmente, seu adversário na corrida eleitoral do ano que vem. O PL também apoia o governo e faz parte da base aliada a Doria na Assembleia Legislativa. 

Jair Bolsonaro, presidente da República. Foto: Dida Sampaio/ Estadão

Como mostrou o Estadão, não bastasse o PSDB, o PL tem alianças locais com adversários do governo em Estados do Norte e Nordeste — em especial governos petistas, como de Wellington Dias (Piauí). No total, o partido apoia governadores de oposição em sete Estados: Alagoas, Ceará, São Paulo, Pará, Piauí, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul. Costa Neto convocou para esta quarta-feira, 17, em Brasília, uma reunião com dirigentes do PL nos 27 colégios eleitorais para discutir os impactos da entrada do presidente na sigla e ajustes necessários. 

Histórico complicado

O presidente sentiu o peso do histórico complicado do PL nas mídias sociais. Seguidores reclamaram da aliança, lembrando da proximidade dos liberais com os governos do PT, e do envolvimento do partido nos escândalos do mensalão e da Lava Jato. Costa Neto foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no âmbito do mensalão, e foi preso por isso.

Então deputado federal, Costa Neto foi condenado a sete anos e 10 meses. Em novembro de 2014, o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, autorizou que ele cumprisse o restante da pena em prisão domiciliar. A participação de integrantes do PL no esquema de corrupção foi denunciada pelo presidente nacional do PTB e atual aliado de Bolsonaro, Roberto Jefferson. Ao todo, 25 pessoas foram condenadas no Mensalão.

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Conforme mostrou a Coluna do Estadão, Bolsonaro tentou se desvencilhar de Costa Neto em 2018, quando o nome de Magno Malta, do PL — que, à época, se chamava PR — era cotado para ser seu vice. “Valdemar Costa Neto, já condenado no Mensalão, já foi citado… ou melhor, citado não, estão bastante avançadas as citações dele no tocando à Lava Jato…", disse.

O PL abrigou por anos o então vice-presidente da República, José Alencar, que compôs chapa e esteve com Lula até 2010. Estar no mesmo partido de Costa Neto enfraquece o viés de combate à corrupção da campanha bolsonarista. O tema foi crucial no pleito de 2018, e deve seguir em alta com a provável entrada de Sergio Moro, agora filiado ao Podemos, na corrida presidencial.

Nas redes, apoiadores do presidente pedem que ele "tome cuidado" com o PL. Um usuário do Twitter descreveu os integrantes do partido como "interesseiros" e outra como "petistas disfarçados". "Não à filiação no PL.  O PSDB está por trás de toda a trama", escreveu uma apoiadora de Bolsonaro. 

 

Oferta

No cálculo político para trazer Bolsonaro, o PL oferece ao presidente a vantagem de ser a terceira maior bancada da Câmara dos Deputados, com 43 parlamentares. O partido está atrás apenas do PSL, antiga casa do presidente, que acaba de anunciar a fusão com o DEM, e do PT.  No acumulado até outubro, o PL ficou com a oitava maior fatia do fundo partidário este ano, tendo recebido R$ 40 milhões. A dotação de recursos para o partido está atrás do PSL (R$ 87 milhões), PT (R$ 77 milhões), PSDB (R$ 45 milhões), PSD (R$ 44 milhões), e PSB, PP e MDB, todos com R$ 42 milhões.

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