Bolsonaro liga para Renan Filho em busca de aproximação com Renan Calheiros, relator da CPI da Covid

Gesto é movimento do Planalto para abrir algum tipo de canal com o relator da CPI, pai do governador de Alagoas, já que há preocupação que as investigações se concentrem nos erros cometidos pelo governo no combate à pandemia

PUBLICIDADE

Por Marcelo de Moraes
Atualização:

BRASÍLIA – O presidente Jair Bolsonaro ligou, ontem, para o governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), numa tentativa de aproximação com o senador Renan Calheiros (MDB-AL), seu pai, que será o relator da CPI da Covid no Senado. O gesto mostra o movimento do Planalto para abrir algum tipo de canal com o relator da CPI, já que há preocupação que as investigações se concentrem nos erros cometidos pelo governo no combate à pandemia do coronavírus. A telefonema foi revelado ontem pelo site G1.

Renan Calheiros confirmou que houve a conversa do presidente com seu filho. Mas disse que esse diálogo acontece frequentemente porque ambos precisam ter uma “relação administrativa” em função dos cargos que ocupam. Ele garante que nunca se recusou a conversar com Bolsonaro. Em entrevista ao Estadão, semana passada, Renan afirmou que a CPI não iria se transformar numa “Comissão Parlamentar de Inquisição”. E tem repetido que a CPI não é inimiga de ninguém, “mas, sim, da pandemia”.

Jair Bolsonaro, presidente da República Foto: Adriano Machado/ Reuters

PUBLICIDADE

Apesar disso, o governo sabe que o trabalho de Renan na relatoria deve desgastar Bolsonaro e outros integrantes e ex-membros de sua equipe. Com 380 mil mortes já registradas e com atraso na compra e entrega de vacinas, a pressão política contra o governo segue muito elevada. E Renan tem feito oposição sistemática à gestão federal, além de ter dado declarações que acenam para um possível apoio à uma eventual candidatura presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva.

Por causa disso, Bolsonaro foi aconselhado por seus auxiliares a tentar fazer uma ponte política com Renan via governador de Alagoas. Dentro da CPI, o grupo governista tem pouca força - possui apenas 4 dos 11 titulares.

Mas, ao mesmo tempo em que o presidente procura esse canal de conversa, seus aliados seguem atacando violentamente Renan nas redes sociais, inflando uma campanha de suspeição por causa dos processos de investigação que ele responde ou respondeu na Justiça. Além disso, levantam também suspeitas sobre sua parcialidade justamente por ser pai de governador, já que a CPI poderá analisar o destino de verbas enviadas pelo governo aos Estados para o combate à pandemia. Há também uma iniciativa da deputada bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP), que pede na Justiça que Renan não assuma a relatoria da CPI. Com isso, parece pouco provável que o gesto de Bolsonaro possa ter algum efeito político prático nesse momento.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.