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Bolsonaro fala de interferência externa na eleição dos EUA e prevê o mesmo no Brasil em 2022

‘Nosso bem maior, a liberdade, continua sendo ameaçado’, afirmou o presidente brasileiro, que acompanha o dia decisivo da eleição americana

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Foto do author Felipe Frazão
Por Emilly Behnke e Felipe Frazão
Atualização:

BRASÍLIA– O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira, 3, haver uma “ingerência de outras potências” na eleição dos Estados Unidos por “interesses globais” e lançou dúvidas sobre a possibilidade de interferência no processo eleitoral de 2022 no Brasil, quando ele pretende tentar um segundo mandato. Com a manifestação, Bolsonaro tentou vincular uma eventual derrota de seu principal aliado internacional ao que pode ocorrer na disputa pelo Palácio do Planalto, daqui a dois anos.

Bolsonaro acompanha o desempenho do presidente dos EUA Donald Trump no confronto com o democrata Joe Biden como um laboratório para 2022. Uma eventual derrota do líder americano representa um forte revés para a ala ideológica do governo Bolsonaro e põe em xeque sua agenda para o meio ambiente, além da política externa.

Jair Bolsonaro, presidente da República Foto: Evaristo Sá/ AFP

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“É inegável que as eleições norte-americanas despertam interesses globais, em especial, por influir na geopolítica e na projeção de poder mundiais”, escreveu Bolsonaro no Twitter. “Até por isso, no campo das informações, há sempre uma forte suspeita da ingerência de outras potências, no resultado final das urnas. No Brasil, em especial pelo seu potencial agropecuário, poderemos sofrer uma decisiva interferência externa, na busca, desde já, de uma política interna simpática a essas potências, visando às eleições de 2022.”

Mesmo sem citar a quem se referia quando falou em “ingerência de outras potências”, Bolsonaro deu um recado. Nas eleições de 2016 houve acusações de que o governo russo interferiu para ajudar Trump. O presidente afirmou no post que também vê a América Latina caminhando para a esquerda.

“Não se trata apenas do Brasil. Devemos nos inteirar, cada vez mais, do porquê, e por ação de quem, a América do Sul está caminhando para a esquerda. Nosso bem maior, a liberdade, continua sendo ameaçado. Nessa batalha, fica evidente que a segurança alimentar, para alguns países, torna-se tão importante e aí se inclui, como prioridade, o domínio da própria Amazônia”, argumentou.

“Bolsonaro tem uma vaga noção do que ocorre no mundo e confunde os interesses de mercado com posição ideológica”, diz o cientista político José Álvaro Moisés, da USP. “Ele não aceita a diversidade política que pode levar a esquerda ao poder. Seu conceito de liberdade é restritivo, se refere apenas às correntes que ele defende. Seria interessante saber se ele vai recusar apoio externo a sua candidatura e como faria isso.”

Embora as pesquisas indiquem vantagem de Biden, Bolsonaro disse acreditar na reeleição de Trump. “Estou confiante com a reeleição de Donald Trump, porque será boa para as relações comerciais e diplomáticas com o Brasil”, afirmou ele à emissora de televisão CNN.

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Relação do Brasil com os EUA independe de quem estiver no governo, diz Mourão

O vice-presidente Hamilton Mourão assegurou, por sua vez, que a relação do Brasil com os EUA “independe” de quem estiver no governo. “O relacionamento do Brasil com os Estados Unidos é um relacionamento de Estado para Estado, independente do governo que estiver lá. Óbvio que cada governo tem suas prioridades e tem suas características”, afirmou ele. Ao ser lembrado por jornalistas de que Bolsonaro não esconde a torcida por Trump, Mourão minimizou o fato. “Ah, isso é bobagem”, respondeu. “Opinião pessoal dele. Se bem que, quando o presidente fala, ele fala por todos do governo”, disse.

Se a disputa americana terminar na Justiça, a posição brasileira será de neutralidade, de acordo com Mourão. “Neutra, lógico. Nós não temos nada a ver com as questões internas americanas. A gente não admite ingerências nos nossos assuntos internos e também não fazemos com os assuntos internos dos outros”, argumentou. Nos últimos dias, Trump indicou que a eleição pode ser alvo de disputa judicial em caso de sua derrota.

Diante das ameaças de contestação, o confronto vem sendo tratado com cautela por assessores de Bolsonaro. Mais cedo, o presidente pediu que o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, permanecesse em Brasília à disposição para contatos diplomáticos. O chanceler ficará para o acompanhamento da eleição norte-americana, nas análises e aconselhamentos, além de estar presente num eventual telefonema de congratulação ao vencedor. 

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Ernesto não integrará mais a comitiva da viagem com embaixadores estrangeiros para a Amazônia. O roteiro começa nesta quarta-feira, 4, e vai até sexta, 6. A viagem tem o objetivo de melhorar a imagem do Brasil, desgastada com as queimadas na Amazônia e no Pantanal. Foi planejada em setembro, quando oito países europeus enviaram uma carta aberta a Mourão, que comanda o Conselho da Amazônia, e disseram que a “tendência crescente de desflorestamento” no País dificultaria a compra de produtos brasileiros por consumidores daquele continente.

O Planalto já se prepara para que Bolsonaro telefone ao vitorioso logo após o resultado. Mas, se o embate for alvo de uma disputa judicial, a recomendação é a de que o presidente opte pela neutralidade até o desfecho, segundo apurou o Estadão.

No fim de setembro, Bolsonaro rebateu declaração do candidato democrata Joe Biden sobre auxílio financeiro à Amazônia e possíveis consequências econômicas, caso a preservação da região não melhorasse. Na ocasião, o chefe do Executivo avaliou a fala de Biden como “lamentável”, além de “gratuita e desastrosa”. A publicação nas redes sociais recebeu aval do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, que comanda a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara.

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“Visão geopolítica é essencial neste mundo globalizado. O que acontece nos EUA tem reflexos no Brasil e na região”, comentou Eduardo no texto publicado na página do Facebook de Bolsonaro. 

Nesta terça, 3, à saída do Palácio da Alvorada, Bolsonaro perguntou a apoiadores: “Vai dar Trump ou vai dar Biden?". Na sequência, depois de ouvir de um apoiador que “tem que dar Trump”, o presidente desconversou: “Não vou nem responder. Tem gente que acha que o Brasil está livre de problemas. Cheio de estrategista político por aí”.

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