Bolsonaro e coronavírus: sentimento de medo nas redes é maior que de confiança, diz estudo

'Menções ao presidente são mais negativas do que positivas, o que mostra ele em isolamento em seu grupo de apoio, falando para convertidos', diz analista

PUBLICIDADE

Por Matheus Lara
Atualização:

Levantamento da AP/Exata, empresa de comunicação digital, mostra que, em uma semana, o sentimento de medo foi o mais presente em publicações de usuários de Twitter, Instagram e Youtube que comentaram a atuação do presidente Jair Bolsonaro frente à pandemia de coronavírus.

Este sentimento caracterizou 21,55% das 148.835 publicações analisadas, superando discursos de confiança, que representaram 19,17% do que foi publicado no período. O sentimento de tristeza foi identificado em 18,80% das publicações e de raiva em 12,03%. Desgosto vem em seguida com 9.77%.

Presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, usam máscaras cirúrgicas em liveno Facebook Foto: Facebook / Reprodução

PUBLICIDADE

De acordo com o CEO de Big Data da empresa, Sérgio Denicoli, a proporção se insere num contexto de aumento das menções negativas a Bolsonaro nas redes. "Desde que a Organização Mundial da Saúde decretou que as contaminações pelo novo coronavírus eram uma pandemia, Bolsonaro vem enfrentando dias bastante negativos nas redes. Mesmo com manifestações a favor dele, as menções negativas estão mais altas do que as positivas."

Para identificar os sentimentos nas publicações, a empresa leva em conta oito sentimentos básicos que, de acordo com Denicoli, são os sentimentos descritos na Teoria da Psicologia Evolutiva: medo, alegria, tristeza, confiança, raiva, antecipação, desgosto e surpresa. Um algoritmo identifica palavras associadas a esses sentimentos, "odeio" associada ao sentimento de "raiva", por exemplo, para fazer a contagem.

"Bolsonaro pediu que as pessoas não fossem às ruas, mas os perfis continuaram divulgando a manifestação e ainda levantaram a tag #BolsonaroDay. Mas curiosamente, as menções ao presidente são mais negativas do que positivas, o que mostra ele em isolamento em seu grupo de apoio, falando para 'convertidos'", analisa Denicoli.

A pedido do Estado, a Diretoria de Análise de Políticas Públicas (DAPP) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), fez uma contagem a partir do comportamento do Twitter em relação a Bolsonaro e coronavírus nos últimos dias. 

Nas primeiras 24h após a OMS declarar uma pandemia de coronavírus - antes da transmissão ao vivo em que o presidente sugeriria aos apoiadores que adiassem os atos pró-governo que estavam marcados para o dia 15, domingo, as principais hashtags no Twitter eram relativas à convocação, como #dia15vaisergigante, usada em cerca 54,4 mil postagens.

Publicidade

Depois que Bolsonaro pediu a seus apoiadores que não fosse às ruas, as hashtags com maior repercussão no Twitter eram #desculpejairmaseuvou, em 169,2 mil postagens em 24h. Essas mesmas hashtags se mantiveram no topo das mais utilizadas no fim de semana em que, por fim, atos aconteceram no País. #bolsonaroday (mobilizada por apoiadores dos atos) foi usada em 751 mil postagens.

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.