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Bolsonaro diz que governadores não 'achataram a curva' da covid-19 e questiona número de mortos

Presidente voltou a dizer que responsabilidade do combate à pandemia é dos governadores e atacou mais uma vez o governador de São Paulo, João Doria; Witzel criticou falta de humildade de Bolsonaro

Por Emilly Behnke e Caio Sartori
Atualização:

BRASÍLIA E RIO - O presidente Jair Bolsonaro acusou nesta quinta-feira, 30, governadores e prefeitos de não "achatarem a curva" de contágio do novo coronavírus. O presidente também questionou a veracidade dos números sobre as mortes doença.

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"O Supremo Tribunal Federal decidiu, o placar foi a zero, que as medidas para evitar, ou melhor para fazer com que a curva fosse achatada, caberia aos governadores e prefeitos. Não achataram a curva", disse.

"Governadores e prefeitos que tomaram medidas bastante rígidas não achataram a curva, a curva tá aí. Partindo do princípio que o número de óbitos é verdadeiros", afirmou. Bolsonaro citou a imprensa quer "colocar no seu colo a responsabilidade por mortes" pela covid-19.

O presidente da República, Jair Bolsonaro Foto: Evaristo Sá / AFP

Ele questionou, em especial, os óbitos em São Paulo, Estado mais afetado pela doença. "Cada vez mais chega informações, que o próprio Diário Oficial lá do Estado de São Paulo que na dúvida (sobre a causa da morte) bota coronavírus para inflar o número para fazer uso político disso", declarou.

Em mais uma crítica pública, Bolsonaro acusou o governador João Doria (PSDB-SP) de usar a pandemia de forma política. "É o governador gravatinha de São Paulo fazendo 'politicalha' em cima de mortos, zombando de familiares que tiveram seus entes queridos que morreram por vírus ou outra causa", afirmou.

Segundo o presidente, "o governo federal fez tudo" que era possível para o combater o novo coronavírus e mencionou a liberação de liberação de verba para os Estados.

"Nós fizemos tudo que foi possível e mais alguma coisa. Agora cabe aos governadores gerir esse recurso. O que mais nós temos, por parte de alguns Estados, é desvio de recursos. É isso que está acontecendo. Por isso, precisamos da Polícia Federal isente, sem interferência para poder tratar desse assunto, para poder coibir possíveis abusos."

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Bolsonaro negou, contudo, que esteja em um "embate" com os governadores, a quem vem criticando a atuação desde o início da pandemia. "Esse problema (da pandemia) é para todo mundo resolver, não é para ser politizado."

Sobre o desemprego causado pela pandemia, o chefe do Executivo citou que "milhões" de brasileiros já perderam seus trabalhos e que a volta da economia não será "rápida". "Só não está uma desgraça maior porque fizemos esse plano emergencial para pagar os R$ 600 para as pessoas". Ele destacou ainda que cerca de 30 milhões de cidadãos já receberam o benefício, mas pontuou que "muita gente se inscreveu de má fé".

Witzel critica Bolsonaro: 'Nenhum ato de humildade do presidente'

Um dos governadores mais atacados pelo presidente Jair Bolsonaro, Wilson Witzel (PSC-RJ) voltou a criticá-lo no Twitter na manhã desta quinta. O mandatário do Rio já havia feito publicações duras contra Bolsonaro na tarde de quarta. "Todo dia acordamos com esse pesadelo matinal que é a aparição do presidente Jair Bolsonaro diante da imprensa, em Brasília. Nenhum dia assistimos a qualquer ato de humildade do presidente, qualquer ato de boas intenções ou declarações que tranquilizem os brasileiros", publicou o governador.

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As críticas dele também recaem sobre o fato de o presidente questionar a eficácia do isolamento social. "São sempre discursos raivosos contra algo ou alguém. Para o presidente tudo é pessoal. Não é possível que até agora ele continue afirmando que o isolamento social não gerou resultados, numa opinião que não resiste a um embasamento científico, à avaliação de um especialista", disse Witzel, que ainda prestou solidariedade à imprensa que cobre o governo Bolsonaro.

Em nota, a secretaria estadual da Saúde de São Paulo classificou a fala de Bolsonaro de "irresponsável". "A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo lamenta a fala enviesada e irresponsável do Presidente da República Jair Bolsonaro na manhã desta quinta-feira, que ignora que o fato que o isolamento social em São Paulo é fator determinante para o achatamento da curva, e consequentemente diminuição no número de infectados e de doentes que precisam de UTI, evitando um colapso no sistema público de saúde", diz o texto. 

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