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Bolsonaro diz estar próximo de se filiar ao PP ou ao PL para disputar a reeleição

Em entrevista nesta manhã, presidente ainda criticou julgamento de chapa com Mourão no TSE, chamou relatório final da CPI de ‘palhaçada’ e disse que Renan Calheiros agiu por ‘vingança’

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Por , Eduardo Gayer e
Atualização:

BRASÍLIA - Sem ainda ter um partido para disputar a reeleição em 2022, o presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira, 27, manter conversas com PP e PL para definir sua filiação. As duas siglas fazem parte da sua base de apoio e o presidente avalia qual o poder de influência terá sobre cada uma antes de bater o martelo. Na mesa de negociações está o controle de diretórios regionais e a escolha de candidatos ao Senado.

“Hoje em dia está mais para PP ou PL, me dou muito bem com os dois partidos”, afirmou o chefe do Executivo em entrevista à Jovem Pan News. “Mas a escolha é igual a casamento. Às vezes, até escolhendo a gente tem problema. Imagina se fizer de atropelo”, completou, admitindo estar “atrasado” para decidir sobre uma sigla. Bolsonaro está sem partido há quase dois anos, quando deixou o PSL.

O presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia de apresentacao de cartas credenciais denovos embaixadores. Foto: Gabriela Biló/Estadão

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Na segunda-feira, o presidente do PL, o ex-deputado Valdemar Costa Neto, preso no escândalo do mensalão, publicou um vídeo com um convite oficial de filiação ao presidente. Como mostrou a Coluna do Estadão, a sigla ofereceu diretórios estaduais para controle de Bolsonaro, que, no entanto, também é cortejado pelo PP, o partido do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), aliado de primeira hora do governo.

“Tenho interesse em indicar metade dos candidatos ao Senado, pessoas perfeitamente alinhadas conosco”, afirmou o presidente à rádio. A ideia do presidente é, em uma eventual reeleição, ampliar a bancada aliada na Casa, que hoje oferece resistência às pautas do Palácio do Planalto.

'Ele dorme pensando no PL e acordo pensando no PP', diz Flávio

A indefinição de Bolsonaro também tem atrasado mudanças de aliados, que pretendem acompanhá-lo na nova sigla, seja ela qual for. O filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), é um deles. "Ele dorme pensando no PL e acorda pensando no PP (Progressistas)", disse o senador ao Estadão.

O "Zero Um" avalia que em ambos há prós e contras à filiação de Bolsonaro. Para Flávio, o alinhamento de dirigentes regionais do Progressistas com o PT, como ocorre na Bahia, em Pernambuco e na Paraíba, é um fator que pode pesar na escolha. Por outro lado, o fato de o presidente já ter sido filiado à sigla pode facilitar a sua volta.

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"(O Progressistas é) um partido com um pouquinho mais de capilaridade. É o partido que meu pai se candidatou pela primeira vez, começou pelo PDC, depois fundiu e formou o PPB (nome que o partido adotava até 2003)", afirmou Flávio.

Já o PL é o partido da ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, e faz parte da base do governo no Congresso. O Progressistas também é da base, além de Ciro e Lira, tem como filiado o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PR).

"O que ele entender que for melhor para ele, para o futuro político, eu estou junto. Os dois partidos são maravilhosos, são partidos que têm capilaridade e têm pessoas no comando que têm palavra", afirmou Flávio. "A decisão está demorando por causa disso, é tão difícil escolher entre dois partidos que tratariam tão bem ele", completou.

Oitava troca

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Jair Bolsonaro está sem legenda desde o final de 2019, quando se desfiliou do PSL após uma disputa com o comando da sigla por influência financeira e política. Está será sua oitava troca de partido desde que iniciou a carreira política, ainda na década de 1980. 

A exemplo do pai, Flávio admitiu que há um atraso para a definição. "Já está atrasado, as conversas estão acontecendo para formação dos palanques dos Estados", afirmou.

Independentemente da filiação de Bolsonaro, o senador afirmou que o presidente quer ter na coligação os dois partidos e também o Republicanos e o PTB. "A ideia é essa e outros também que tenham ali uma identidade maior com o nosso projeto do que com o projeto do PT".

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O chefe do Poder Executivo já chegou a negociar uma filiação com pelo menos nove partidos, mas nenhuma das tentativas obteve sucesso até agora.

A última negociação foi com o Patriota, partido ao qual Flávio se filiou para preparar o terreno para a entrada do pai. Apesar disso, a sigla viveu uma guerra interna porque se dividiu sobre entregar o comando de diretórios para o grupo de Bolsonaro. Por causa disso, Adilson Barroso, o principal patrocinador da filiação do presidente, acabou destituído da presidência da legenda.

CPI da Covid

Um dia depois de a CPI da Covid aprovar relatório que pede o indiciamento de Bolsonaro, outras 77 pessoas e duas empresas (Precisa Medicamentos e VTCLog), o presidente chamou o parecer proposto pela relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL), de “palhaçada”. 

Com 1.288 páginas, o documento que foi aprovado por 7 votos a favor e 4 contra, pede o indiciamento do presidente por nove crimes.

Questionado sobre o que espera do encaminhamento que o Ministério Público Federal dará ao parecer final, Bolsonaro sugeriu que o relator da comissão teria usado sua atuação na CPI para promover vingança contra o chefe do Executivo. “Antes de falar em MP, quem tem um pouco de juízo sabe que foi uma palhaçada aquilo lá. Foi a CPI do Renan”, disse nesta manhã. 

O argumento de Bolsonaro é de que o senador teria agido contra o chefe do Executivo movido por vingança, por conta do apoio dado pelo Palácio do Planalto, em 2019, durante a eleição para a presidência do Senado, quando Renan e o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) estavam entre os nomes que disputavam o cargo. Na ocasião, o amapaense recebeu 42 dos 77 votos.

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Em outro momento, ao ser perguntado sobre se pretende adotar um tom mais moderado nas redes sociais, após ter conteúdo da live da última quinta-feira, 21, excluído pelo Facebook, Instagram e Youtube (onde ficará bloqueado por sete dias), por divulgar fake news que relaciona a vacina contra a covid-19 com a aids, Bolsonaro manteve o argumento de que “não inventou” a informação e seguiu atribuindo a responsabilidade à revista Exame

O vídeo da live foi removido pelas redes sociais por violar diretrizes de desinformação médica sobre a covid-19. O episódio refletiu da última sessão da CPI da Covid, que incluiu no relatório final o pedido para que Bolsonaro seja afastado de todas as redes sociais.

“A revista Exame faz uma conotação de que quem toma vacina está mais propenso, ao ter contato com o HIV, a se contaminar”, disse Bolsonaro. E seguiu: “Eu não invento nada. Botaram na minha conta. Daí foi para a CPI do Renan, aquele santuário à honestidade, aquele monumento à honestidade, que pedepara o Supremo me bloquear de todas as páginas. Olha, não fui eu que falei aquilo. Agora, falar qualquer coisa sobre vacina virou um crime que derruba página, te bloqueia. Você não pode desconfiar da vacina nem da urna eletrônica. Não pode falar nada”, reclamou.

Segundo Bolsonaro, ele é defensor de que “quem quer tomar, toma”.

Auxílio Brasil

Após grande estresse no mercado financeiro com o acordo do governo para mudar o teto de gastos e financiar o pagamento de R$ 400 do Auxílio Brasil em 2022, ano eleitoral, o presidente Bolsonaro disse que recebeu sugestões para elevar o valor do programa. 

“Muita gente diz para eu passar para R$ 600 que estou garantido na reeleição”, disse o chefe do Executivo. No entanto, Bolsonaro declarou que não pensa em política neste momento e sabe dos impactos econômicos de subir ainda mais o piso do Auxílio Brasil. “Imagina se eu falo em R$ 600 do Bolsa Família, o que acontece com a bolsa e com o dólar?”, questionou. “Bagunça na economia não interessa para ninguém”, acrescentou. 

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Bolsonaro voltou a defender o lançamento do Auxílio Brasil neste momento de crise. “Temos que atender os mais pobres, Paulo Guedes tem coração”, disse. Contudo, como mostrou o Broadcast/Estadão, o governo ignorou sugestões de financiamento do programa para alterar o teto de gastos, considerado a âncora fiscal do País. 

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