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Bolsonaro avança com Mendonça, mas Moro e Lula acirram disputa pelo eleitor evangélico; leia análise

Olhar para o cenário eleitoral pode ajudar a entender as futuras ações do novo membro do STF; presidente está longe da vantagem que já teve no segmento religioso, onde têm atuado com força Lula e agora Moro

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Por Vinicius do Valle
Atualização:

A posse de André Mendonça nesta quinta-feira, 16, concretiza a promessa do presidente Jair Bolsonaro de levar um ministro “terrivelmente evangélico” para o Supremo Tribunal Federal (STF). Aprovado pelo Senado, o ex-ministro da Justiça definiu o fato como “um pequeno passo para um homem, mas um grande salto para os evangélicos”. A declaração, vinda imediatamente após ele passar horas de sabatina reafirmando seu compromisso pela laicidade do Estado, bem como as comemorações da sua aprovação pela ala evangélica do governo e do Congresso, deixam dúvidas sobre o que de fato se pode esperar do novo ministro: um alinhamento total com as pautas defendidas pelos conservadores religiosos do Congresso e da sociedade ou uma conduta pautada na Constituição? Olhar para o cenário eleitoral pode ajudar a entender as futuras ações do novo membro do STF.

Em primeiro lugar, a aprovação e posse de Mendonça vêm em momento frágil para o governo, quando as pesquisas indicam queda de popularidade de Bolsonaro e rejeição recorde à sua gestão. Entre os evangélicos - é verdade - diferentes pesquisas vêm mostrando que a rejeição ao governo é menor, comparada aos outros grupos religiosos. Ainda assim, mesmo entre esse segmento, é inegável que a aprovação do presidente é apenas uma fração da que foi um dia. Tal quadro vem, inclusive, fazendo com que líderes evangélicos especulem sobre a debandada do barco do bolsonarismo para o embarque na candidatura de um não-tão-antigo aliado: Sérgio Moro. Estariam trabalhando para essa aproximação o ex-procurador lavajatista e também evangélico Deltan Delagnol, além de ex-bolsonaristas renegados, entre militares e parlamentares da bancada evangélica.

Durante sabatina, ex-ministro da Justiça,André Mendonça, tentou agradar a Bolsonaro e oposição, Lava Jato e políticos, evangélicos e não evangélicos.Mendonça foi aprovado pelo Senado por 47 votos a favor e 32 contrários. Foto: Alan Santos/PR

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A condução de Mendonça deve ser vista como parte dessa disputa com Moro pelo apoio de líderes político-religiosos. A indicação de um ministro evangélico certamente rende ao presidente apoios, mas esses só devem ser consolidados se Mendonça tomar ações que não contrariem os religiosos conservadores próximos ao governo. Caso as tome, o novo ministro pode tirar o gosto da conquista dos evangélicos, dando mais elementos para o afastamento destes do governo. Por tal motivo, Mendonça - fiel escudeiro do presidente – dificilmente deve seguir por essa linha. 

Vale dizer que, na disputa por esse segmento religioso, além de Moro e Bolsonaro, há um importante ator correndo por fora: Lula. Na pesquisa IPEC, divulgada dia 14 de dezembro, o petista aparece liderando as intenções de voto entre esse segmento, com 34 pontos, frente a 33 do atual presidente. Lula sabe se comunicar como ninguém com os mais vulneráveis, e a crise econômica, o desemprego e a inflação vêm afetando sobretudo os fiéis evangélicos - setor com maior proporção de famílias de baixa renda. Ao olhar apenas para os líderes religiosos, muitos – inclusive Moro e Bolsonaro – poderão se surpreender ao conferir o apoio dado a Lula pelos fiéis, que são muito mais complexos do que seus líderes fazem parecer.           

*Vinicius do Valle é doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo e autor de Entre a Religião e o Lulismo (Ed. Recriar, 2019)

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