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Bolsonaro acusa ex-coordenador da Lava Jato de perseguir sua família

Presidente fala em 'tentativa de cooptação' para escolha de PGR em 2019

Por Emilly Behnke
Atualização:

BRASÍLIA - Após dizer que vai pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) acesso a mensagens de integrantes da Lava Jato vazadas por hackers, o presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta sexta-feira, 26, que "vários diálogos" entre o procurador da República Deltan Dallagnol, ex-coordenador da operação no Paraná, e membros do Ministério Público demonstram "perseguição à sua família".

Em postagem nas redes sociais, o presidente aponta uma "tentativa de cooptar o entorno do Presidente da República para a escolha do PGR (procurador-geral da República) em 2019", quando indicou Augusto Aras para o cargo, nome que estava fora da lista tríplice formulada pela associação da categoria. 

O presidente da República, Jair Bolsonaro, durante cerimônia no Palácio do Planalto Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

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Eleito com discurso de combate à corrupção, Bolsonaro nomeou o ex-juiz da Lava Jato Sérgio Moro como seu ministro da Justiça logo no início do governo. Em abril do ano passado, porém, os dois romperam e Moro deixou o cargo acusando o presidente de tentar interferir na Polícia Federal para favorecer aliados. Desde então, o presidente mudou o discurso e passou a ser crítico à operação e aos seus antigos integrantes. A acusação sobre interferência na PF é investigada em um inquérito no Supremo Tribunal Federal.

"A perseguição à família Bolsonaro se mostra em vários diálogos entre Dallagnol e membros do MP (Ministério Público)", escreveu Bolsonaro, citando como fonte um texto do site "Agora Paraná" assinado por Sandra Terena, ex-secretária do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, comandado por Damares Alves.

Nas mensagens atribuídas a Dallagnol citadas no texto, o procurador afirma que dados da família Bolsonaro foram vazados pelo Ministério Público e pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). A conversa, ainda segundo o site, se deu em janeiro de 2019, um mês após o Estadão revelar que Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), movimentou mais de R$ 1,2 milhão em sua conta. O relatório revelado pelo jornal deu origem à denúncia que aponta o filho mais velho do presidente como chefe de um esquema de "rachadinha" na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. 

Desde então, o Coaf entrou na mira do presidente. Logo no início do seu governo, ele transferiu o órgão do Ministério da Justiça, até então comandado por Moro, para o Banco Central, uma autarquia mais burocrática do que a pasta. 

Bolsonaro já colocou veracidade de mensagens em dúvida

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Na postagem feita nesta sexta, o presidente também criticou uma manifestação dos procuradores do Paraná que atribui as conversas a "uma brincadeira entre colegas de trabalho". "Dellagnol querer dizer ser brincadeira tais diálogos demonstra querer fugir de sua responsabilidade. Os diálogos do vazamento da família ocorreram em 2019, onde Bolsonaro já era Presidente da República. ISSO É CRIME!", afirma o presidente.

Em 2019, porém, o próprio Bolsonaro disse que o vazamento das mensagens era “criminoso” e duvidou do conteúdo revelado: “Vazou. Se vazar o meu aqui tem muita brincadeira que faço com colegas . Houve uma quebra criminosa, uma invasão criminosa. Se é que o que está sendo vazado é verdadeiro ou não”.

As mensagens hackeadas foram reveladas em junho de 2019 pelo site The Intercept Brasil. Pouco mais de dois meses depois, a Polícia Federal prendeu um grupo de hackers responsáveis pelo vazamento e descobriu que os ataques virtuais também tinham como alvo integrantes da cúpula da República, incluindo Bolsonaro. Nenhuma conversa do presidente, porém, chegou a ser divulgada. Até hoje a PF não descobriu quem encomendou o ataque.

Procurados pela reportagem, os procuradores da Lava Jato do Paraná afirmaram, em nota, não reconhecer a autenticidade das mensagens. Informam, ainda, que não tinham acesso ao conteúdo de eventuais investigações envolvendo o presidente e sua família.

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Leia abaixo a nota na íntegra:

Os procuradores da República que integraram a força-tarefa Lava Jato esclarecem sobre recente publicação do presidente Bolsonaro envolvendo supostas mensagens:

1. Os procuradores da República que integraram a força tarefa Lava Jato reafirmam que não reconhecem a autenticidade e a veracidade das mensagens criminosamente obtidas por hackers que estão lhe sendo atribuídas. Os supostos diálogos constantes nessas mensagens, editados, descontextualizados e deturpados, vem sendo utilizados de forma deliberada e sistemática por condenados da operação e simpatizantes que, não conseguindo enfrentar as provas e fatos que constam em centenas de autos judiciais, limitam-se a fazer e renovar, por dezenas de vezes, falsas acusações.

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2. No caso específico, ainda que os diálogos tivessem ocorrido da forma como apresentados – embora não se reconheça o seu conteúdo, seja pelo tempo, seja pela ordem em que são apresentados, seja pelo conteúdo – as mensagens mostram, evidentemente, somente uma brincadeira entre colegas de trabalho. Qualquer interpretação diferente que se faça da questão, além de ser totalmente contrária ao contexto jocoso revelado pelas próprias supostas mensagens, não tem qualquer amparo na realidade. A força-tarefa do caso Lava Jato em Curitiba tinha atribuição limitada à investigação de crimes relacionados às empresas do Grupo Petrobras, não alcançando eventuais investigações relacionados ao presidente ou a sua família.

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