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Quem é Fred Wassef, dono do imóvel em que Queiroz foi preso e advogado de Flávio Bolsonaro

Ex-assessor de Flávio foi preso nesta quinta em imóvel do advogado que se aproximou da família Bolsonaro ainda em 2014

Por Ricardo Galhardo
Atualização:

O advogado criminalista paulistano Frederick Wassef comanda a defesa de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) no caso Queiroz, revelado pelo Estadão, desde o dia 6 de junho de 2019. Foi num imóvel dele, nesta quinta, 18, que o ex-assessor de Flávio Fabrício Queiroz, foi encontrado e preso em operação da Polícia Civil e do Ministério Público de São Paulo em Atibaia.

Wassef já atuou de forma informal na defesa de Jair Bolsonaro e opinou sobre temas jurídicos envolvendo o presidente. 

Fred Wassef, advogado de Bolsonaro e Flávio, em evento no Palácio do Planalto no dia 17 de junho Foto: Gabriela Biló/Estadão

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Integrante do círculo mais próximo da família Bolsonaro, Wassef frequenta os palácios da Alvorada e do Planalto mas não costuma aparecer nas agendas oficiais do presidente. Um dia antes da prisão de Queiroz, o advogado participou da cerimônia de posse do ministro das Comunicações, Fábio Faria, em Brasília. Na semana anterior, passou a tarde com o presidente na sede do Poder Executivo e deixou o local por volta das 20 horas. O motivo do encontro não foi informado.

Wassef é o que se pode chamar de bolsonarista “raiz”. Crítico do que chama de “indústria dos radares”, defensor de “ações mais efetivas da polícia” no combate à violência, católico praticante, adversário da esquerda, Wassef costuma fazer rondas de carro pela madrugada paulistana, nas quais grava em vídeo flagrantes de desperdício de dinheiro público ou suspeita de corrupção.

O primeiro contato entre Jair Bolsonaro e Fred, como é conhecido, foi por acaso. Wassef ganhou de presente um smartphone quando estava internado para tratamento de câncer, clicou no ícone do Youtube e caiu sem querer em um discurso do atual presidente sobre controle de natalidade. A identificação foi imediata. No dia seguinte Fred telefonou para o gabinete de Bolsonaro na Câmara. Com seu temperamento intenso, convenceu a secretária a passar a ligação ao então deputado. Depois de mais de uma hora de conversa, marcaram um encontro pessoal. Isso foi em 2014.

Fred Wassef (de gravata amarela, no canto superior direito), dono da casa onde Queiroz foi preso, estava em Brasília na quarta, 17 Foto: Marcos Corrêa/Planalto

Desde então, Bolsonaro e a primeira-dama, Michelle, passaram a frequentar a casa de Fred e sua ex-mulher, a empresária Cristina Boner, em Brasília. Em 2015, Bolsonaro comprou por R$ 50 mil uma Land Rover de uma das empresas de Cristina. Wassef gosta de dizer que foi o primeiro a incentivar o então deputado do baixo clero a disputar a Presidência. Quando a ideia não passava de um devaneio, Fred, nascido e criado em bairro nobre de São Paulo, levou o capitão para circular nos salões da elite paulistana.

Além da amizade, Wassef passou a orientar Bolsonaro juridicamente. “Conheço a família desde 2014 e tive uma atuação de consultoria jurídica e advocacia. Sempre no sentido do restabelecimento da verdade. Bolsonaro é, há tempos, vítima de crimes como denunciação caluniosa, calúnia e difamação. Ele foi vítima de uma insana perseguição contra um homem que é um verdadeiro herói.”

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O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) teve quebra de sigilo decretada pela Justiça Foto: Dida Sampaio/Estadão

Relação. A relação de extrema confiança levou Wassef a desbancar medalhões da advocacia criminal que se ofereciam para defender Flávio. Antes de assumir o caso do senador, Fred atuava como consultor, às vezes aconselhando as advogadas Nara Nishizawa e Paula Barione, que continuam na equipe.  

Avesso aos holofotes, Wassef costuma manter a discrição nos casos em que atua. A decisão de levar Flávio para a frente das câmeras é uma exceção. “Eu não vejo que o papel do advogado seja ficar dando entrevista nem publicidade à defesa técnica do cliente. Via de regra, nunca falo com imprensa, não dou entrevista, jamais permiti ser fotografado.” Mudou nesse caso. “Excepcionalmente, entendi que a situação é atípica, fora da curva. Flávio está sofrendo um massacre midiático.” 

Além do flanco midiático, Wassef quer se aproximar do Ministério Público do Rio, onde corre a investigação contra Flávio. “Vou atuar diretamente dentro do MP-RJ cooperando, indicando assistência técnica e pretendo provar na própria investigação os equívocos e distorções propagadas pela imprensa.” Uma das bases da argumentação jurídica será a versão dada pelo ex-assessor de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) Fabrício Queiroz, investigado por movimentações suspeitas de R$ 1,2 milhão.  

O advogado Frederick Wassef, defensor do senador Flávio Bolsonaro Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

“Queiroz falou várias vezes que Flávio nunca teve conhecimento de tudo o que ele fez no passado, que jamais foi repassado qualquer valor financeiro a ele. A tal da ‘rachadinha’ não existe.” Indagado sobre o fato de Queiroz ter admitido que recolhia parte dos salários dos funcionários do gabinete para contratar outras pessoas, Wassef disse que se houve algum ilícito, a culpa é do ex-assessor. 

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“Na verdade não acredito nem em ilícito. Às vezes, a pessoa pode ter feito o que fez achando que era a melhor forma de administrar seu trabalho. Mas, se houve irregularidade, com certeza a responsabilidade é dele. Meu cliente jamais teve ciência”. Embora tenha dois habeas corpus na Justiça do Rio nos quais alega que a investigação contra Flávio é ilegal, Wassef já se prepara para recorrer às Cortes superiores. 

A argumentação que,segundo ele, tem o objetivo de “restabelecer a verdade”, se baseia em cinco pontos: a defesa teve uma vitória quando o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), trancou a investigação admitindo que houve quebra ilegal do sigilo de Flávio pelo MP do Rioe Coaf (decisão revertida pelo ministro Marco Aurélio Mello); houve vazamento de informações sigilosas; o MP negou que o senador fosse investigado quando, segundo a defesa, era o verdadeiro alvo dos promotores; o filho do presidente foi o único dos 26 integrantes da Alerj investigados por movimentações atípicas cujo caso foi vazado; houve quebra de sigilos e investigação contra um parlamentar sem autorização da Justiça.

Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro (PSL), em entrevista ao SBT antes de passar por cirurgia em São Paulo Foto: Reprodução/SBT
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