Bolsa-Família vai priorizar cidades por causa da crise

Nordeste terá ''crescimento modesto'', diz secretária de Renda e Cidadania

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Por Jamil Chade
Atualização:

O governo vai concentrar a ampliação do Bolsa-Família em áreas metropolitanas e reduzir o foco no Nordeste. Este ano, o governo vai expandir os benefícios a 1,3 milhão de novas famílias e insiste em que a medida é parte da resposta à crise econômica. A secretária nacional de Renda e Cidadania, Lúcia Modesto, disse que há um "potencial" de expansão na cidade de São Paulo, mas indicou que isso dependeria da atuação da prefeitura. Já um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) destaca que o Brasil precisará de 28 anos para atingir as taxas de igualdade social que existem hoje no Chile. "Vemos que, num momento de crise, a pobreza migra para as cidades. A crise é industrial", afirmou a secretária. Segundo ela, o Nordeste terá um "crescimento modesto" nessa ampliação do Bolsa-Família. Observou que apenas em abril se saberá quanto cada região terá de recursos. Admitiu, porém, que há espaço para ampliação do programa na cidade de São Paulo. "Achamos que São Paulo teria o potencial de ter 120 mil famílias beneficiadas. Hoje, tem 90 mil", disse. Indagada por que isso ainda não ocorre, alegou que "depende da priorização" feita pela prefeitura. E negou qualquer interferência do calendário eleitoral na escolha dos beneficiados. Esse também foi o discurso do ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, ao apresentar o Bolsa-Família à Organização Internacional do Trabalho (OIT). Ele assegurou que as pessoas atendidas serão escolhidas por "critérios técnicos". Patrus confirmou a estratégia de dar "prioridade às grandes cidades e à população de rua". Outro foco é a Amazônia, com suas comunidades indígenas e ribeirinhas. Com a ampliação, 12,4 milhões de famílias vão receber o benefício. Outra estratégia é aproveitar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para inserir beneficiários do Bolsa-Família no mercado de trabalho. TRABALHO INFANTIL A OIT publicou ontem um relatório que classifica o Bolsa-Família como "o maior programa de transferência de renda do mundo". Mas advertiu que as medidas são ainda insuficientes para lidar com o trabalho infantil. "Estudos indicam que uma criança pode receber, ao trabalhar, quase 12 vezes mais do que o valor da parcela de ajuda social transferida pelo programa", alerta o estudo. Os recursos, portanto, seriam insuficientes para manter crianças fora do mercado de trabalho. Segundo a OIT, o Brasil já conseguiu atingir as metas da ONU, de reduzir a pobreza pela metade, previstas para 2015. Segundo dados brasileiros, 4,2% da população ainda vive em situação crítica de pobreza. FRAUDES Paraguaios e bolivianos estão cruzando a fronteira e conseguindo fraudar a distribuição da Bolsa-Família. Segundo o governo, foram identificados "inúmeros" casos de estrangeiros que, vivendo na região de fronteira, conseguem endereço de um amigo ou familiar no Brasil e conseguem receber benefício do programa. O Ministério do Desenvolvimento Social informou que está em contato com as cidades de fronteira para corrigir esses desvios.

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