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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Bolsa Família faz de Agreste pernambucano reduto de Dilma

Elogios ao programa de distribuição de renda surgem espontaneamente em qualquer conversa com moradores de São Vicente Ferrer

Foto do author Lourival Sant'Anna
Atualização:

São Vicente Ferrer - No meio da manhã de quinta-feira, fim de mês, cerca de 20 mulheres esperam para receber o Bolsa Família na agência lotérica de São Vicente Ferrer, no Agreste pernambucano. “Antes do Bolsa Família, faltava tudo”, lembra Selma Silva, de 40 anos, sentada em um degrau da calçada. “A sorte da gente é esse Bolsa Família. A gente vive mais é dele.” O nome do programa surge invariável e espontaneamente quando se conversa com moradores da cidade das classes D e E ( renda familiar até R$ 1.486). O marido de Selma é eletricista e ganha diária de R$ 25, segundo ela, quando encontra bicos, o que numa semana ocorre duas, três vezes e noutras, nenhuma. O casal tem cinco filhos. Selma não trabalha, mas recebe R$ 255 do Bolsa Família e diz que usa o dinheiro em alimentação, roupa para os filhos e material escolar. “Vou votar na Dilma porque acho que ela é uma presidente ótima”, diz Selma, que não tem nem celular, em contraste com a maioria dos entrevistados. “Ela fez muitas coisas boas e vai fazer outras.” “Desde que sou nascido, o primeiro presidente que teve pena dos pobres foi Lula”, avalia Arnaldo Santos, marceneiro de 64 anos. “Toda mulher hoje tem Bolsa Escola”, acrescenta, usando o nome do programa da época de Fernando Henrique Cardoso, que o criou. “A felicidade da gente é isso”, intervém sua mulher, Severina, de 59 anos. “Todo mês a gente vai e tira o dinheiro da gente.” Ela recebe R$ 102 de Bolsa Família.

"Dilma trabalha bem, apesar de ser mulher. Gostei dela demais. Ela é igual a Lula. Para mim, está tudo bonzinho, graças a Deus", Maria da Penha Gomes da Silva, 54, vive da pensão do marido Foto: Clayton de Souza/Estadão

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“Lula fez o que prometeu”, continua Arnaldo, de pé com a mulher e a filha Ilda, de 42 anos, na porta de sua casa, na periferia de São Vicente. “Os outros para trás, a gente fazia feira hoje (terça-feira), depois no sábado tinha de juntar mais uns quantos porque tudo tinha subido. Agora, quando sobe um preço um pouquinho, a gente se espanta”, observa. “Pena que Lula não vai entrar mais.” Arnaldo está desempregado: “Trabalho graças a Deus oito anos em nada”. Ele espera se aposentar em breve, ao completar 65.

Severina faria 60 anos poucos dias depois da entrevista. “Só queria que Deus abençoasse. Faz cinco anos que estou com pedido de aposentadoria e nada”, diz ela, que “trabalhava na roça”. Cinco dos nove filhos do casal moram no Rio, trabalham em quiosques na Praia de Copacabana e ajudam os pais: “Um manda R$ 50, outro R$ 30, assim”. O filho de Ilda de 19 anos trabalha com os tios no Rio - destino muito mais comum dos emigrantes do lugar do que São Paulo.

Viúva, Ilda trabalhava numa fábrica de doces. “Saí porque minha filha de 18 anos teve uma filha e pediu para eu ficar com a menina”, conta. “Com Bolsa Família, não dá para viver. Se for para depender só do Bolsa Família, é difícil. A pessoa não deve só esperar por isso.” Ela mora em um “quartinho” oferecido pelo pai com a filha de 18 anos, que se casou com um gesseiro, e um filho de 16, que trabalha com seu cunhado.

Medo. “Se entrar outro, pode ser que não faça o que Dilma está fazendo”, teme Maria Auxiliadora da Silva, de 26 anos, que vive à beira de uma estrada de terra para a divisa com a Paraíba, na zona rural de São Vicente. Seu marido, Antônio, de 28 anos, recebe diárias de R$ 25 a R$ 30 para podar e colher uvas. Mas só tem trabalho no máximo três dias por semana, e isso no verão, que na região vai de novembro a maio. No resto do tempo, as chuvas atrapalham. O casal tem um filho de seis anos. Quando em 2009 começou a receber o Bolsa Família, eram R$ 20. “Hoje tiro R$ 100. Compro material para a escola dele, calçado, roupinha. Não roupa boa, porque não dá com R$ 100”, explica Maria. “Compro leite, comê para a gente, feijão. Dá para viver porque não moro numa casa, mas num cômodo só.”

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Ivonete Maciel, de 50 anos, tem carrocinha de cachorro-quente que lhe rende R$ 70 por semana e recebe outros R$ 70 por mês do Bolsa Família. Seus filhos, de 26 e 27 anos, são casados. Ela é separada e mora sozinha. “Do jeito que está, tá bom”, avalia a moradora do bairro do Recreio, no alto de uma colina que domina a cidade. “O pessoal tem tudo na mão. Quem não podia comprar um celular agora tem. Era muito difícil a pessoa comprar um som, uma televisão. Agora é mais fácil com ela lá. Antes do Lula, não tinha no que trabalhar. Depois que Lula entrou, melhorou e muito.”

Aos 47 anos, Rosinalva Silva faz crochê e seu marido, servente, vive de biscates. Ela recebia R$ 130 de Bolsa Família, mas diminuiu para R$ 70 depois que seu filho completou 18 anos. “O dinheiro é para pagar o gás, comprar alguma coisa de alimento. É pouquinho mas serve, ajuda.”

“O governo está sendo bom”, avalia Rosinalva. “Tem muito esses Bolsa Família, esses benefícios. Votei em Dilma e, antes, em Lula, porque foi um ótimo presidente. Fez muitas coisas.” Antes de Lula, ela não se lembra em quem votou. “No próximo governo, gostaria que saísse casa própria”, reivindica Rosinalva, que paga R$ 130 de aluguel.

Moradia também é a aspiração de Maria Aparecida da Silva, de 23 anos, que cria cabritos e cultiva uvas para vender na cidade em um pequeno terreno herdado do avô do marido. Ela ainda não tem Bolsa Família - “Fiz o cadastro, mas não chegou, não” - e acha que o problema é que seu marido, de 32 anos, que trabalha roçando bananais de outras pessoas, não tem carteira de identidade. “Vou votar para continuar porque está tudo bom assim. Estão melhorando as coisas”, acredita. “E também por causa da campanha dela para mudar casa de taipa para tijolo. A minha é de taipa e tenho esperança de fazer um dia de tijolo.”

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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