'Bolivarianos' reagem ao impeachment e Brasil chama embaixadores de volta

Governos da Venezuela, Equador e Bolívia anunciaram a retirada de seus embaixadores no Brasil em protesto contra impeachment

Por Lu Aiko Otta
Atualização:

BRASÍLIA - Em protesto contra a aprovação do impeachment de Dilma Rousseff, os governos da Venezuela, Equador e Bolívia anunciaram a retirada de seus embaixadores no Brasil. Essa medida, que na linguagem diplomática significa uma profunda discordância, não ficou sem resposta. Os embaixadores brasileiros nos três países já foram chamados de volta, segundo informou o ministro das Relações Exteriores, José Serra.

Além de convocar seus embaixadores, o Itamaraty emitiu na noite de ontem duas notas. A primeira, para rebater especificamente às críticas feitas pelo governo da Venezuela e informar sobre a retirada do embaixador. A segunda, para responder às manifestações contrárias de Bolívia, Equador e Cuba.

PUBLICIDADE

A reação se enquadra numa orientação dada por Temer na abertura da reunião ministerial de ontem. Após admitir que Dilma e seus apoiadores conseguiram difundir no exterior a tese do “golpe”, ele pediu à sua equipe para não deixar “nenhuma palavra” sem resposta.

“O Brasil chamou de volta o embaixador na Venezuela, porque eles fizeram o mesmo" , disse Serra, após a cerimônia de posse do presidente Michel Temer no Congresso Nacional.

A notadiz que o governo venezuelano “condena categoricamente o golpe de Estado parlamentar consumado no Brasil” contra Dilma e diz que a decisão contraria a vontade popular expressa no voto de 54 milhões de brasileiros e “altera a democracia nesse país irmão.”

Em resposta, a nota emitida pelo Itamaraty “repudia” essa manifestação. “Revela profundo desconhecimento da Constituição e das leis do Brasil e nega frontalmente os princípios e objetivos da integração latino-americana”, afirma.

Até o início da noite de ontem, além da Venezuela, o Equador havia formalizado a retirada de seu representante no País. No caso, é o encarregado de negócios, porque o posto de embaixador está vago há algum tempo.

Publicidade

O governo da Bolívia ainda não havia oficializado a retirada de seu embaixador. Mas a expectativa é que o faça, uma vez que a medida foi anunciada pelo presidente, Evo Morales, em sua conta no Twitter. “Condenamos o golpe parlamentar contra a democracia brasileira. Acompanhamos Dilma, Lula e seu povo nesta hora difícil”, escreveu. “Estamos convocando nosso embaixador no Brasil para assumir as medidas que em este momento se aconselham.”

O presidente do Equador, Rafael Correa, também usou o Twitter para protestar. “Destituíram Dilma. Uma apologia ao abuso e à traição”, afirmou. “Retiraremos nosso encarregado da embaixada.”

A chancelaria cubana também divulgou uma longa nota em que ressalta os feitos dos governos do PT e afirma que o impeachment é uma “ofensiva do imperialismo” contra os “governos revolucionários” da América Latina e do Caribe. Porém, nesse caso, não menciona a retirada do embaixador.

Em resposta, a nota do Itamaraty “lamenta as manifestações de incompreesão” de Bolívia, Equador e Cuba. “Os Governos desses países reincidem em expressões equivocadas que ignoram os fundamentos de um Estado democrático de direito, como o que vige de maneira plena no Brasil”, afirma. “O Governo brasileiro conclama as autoridades desses países a manterem a serenidade e a respeitarem os princípios e valores que regem as relações entre as nações latino-americanas.”