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Belém deve decidir plebiscito sobre divisão do Pará

Com a maior parte dos paraenses vivendo na capital, sonho de Carajás e Tapajós pode evaporar.

Por Maurício Moraes
Atualização:

Convocado por forças políticas que reclamam do isolamento no interior do Pará, o plebiscito que no domingo pode criar duas novas unidades federativas no Brasil deve ser decidido pelo principal centro do Estado - Belém. A capital é justamente a região que os moradores das áreas de Carajás e Tapajós acusam de concentrar os recursos do Estado, em detrimento do distante interior amazônico. A princípio, apenas os eleitores das áreas que pleiteiam a emancipação votariam no plebiscito, mas uma decisão do Supremo Tribunal Federal acabou estendendo a consulta a todo o Pará, dificultando a concretização de um projeto que no caso de Tapajós já se arrasta por mais de um século. Pesquisa do Instituto Datafolha divulgada nesta sexta-feira mostra que 65% da totalidade dos eleitores paraenses são contrários à criação de Carajás e 64% contra Tapajós. O percentual de rejeição cresceu em relação às duas pesquisas anteriores. Na pesquisa do dia 25 de novembro, mais detalhada, na área que restaria ao Pará, já chamada de "Parazinho", reduto de Belém e da maioria da população estadual, apenas 9% da população eram a favor da criação de Carajás e 8% favoráveis a Tapajós. Os resultados se mostraram inversos aos das regiões que formariam as novas unidades federativas. Em Carajás, 78% apoiavam o próprio desmembramento, e em Tapajós eram 74%. Para o diretor do Datafolha, Mário Paulino, "há uma clara divisão de opiniões. A população de Belém é majoritariamente contra a divisão, que tem amplo apoio na área de Carajás e Tapajós", diz. Os resultados da segunda e da terceira pesquisa tiveram variação pouco signicativa em relação ao primeiro levantamento, feito em 11 de novembro. "Há uma tendência estabilizada da rejeição. A segunda pesquisa foi feita uma semana após o início do horário eleitoral. O que dá para concluir é que as primeiras inserções não foram suficientes para reverter o quadro", diz. Aposta na abstenção A dois dias da votação, o líder da Frente pelo Sim de Tapajós, deputado Joaquim Lira Maia (DEM), se dizia "otimista" com os resultados de domingo. De Santarém, por telefone, ele desdenhou os dados do Datafolha, dizendo que o instituto "já deu a vitória a um candidato que acabou derrotado em Belém", dizendo que a pesquisa não possui credibilidade. Lira Maia, no entanto, não esconde a estratégia: ele aposta em uma alta abstenção em Belém para reverter as projeções, até agora desfavoráveis. "Belém não está em ritmo de campanha. As pessoas não estão envolvidas como aqui (Tapajós). Eu espero que tenha uma abstenção maior que a média", diz. Segundo o Datafolha, a abstenção média no Pará tem sido de 21% nas últimas eleições, acima da brasileira, de 18%. O líder da Frente pelo Sim de Carajás, deputado Giovanni Queiroz (PDT) também aponta a "abstenção histórica" dos paraenses e diz que "acredita na vitória do Sim". Ele reconhece, no entanto, que "o resultado ainda é uma icógnita". "A imprensa de Belém iniciou uma campanha extensiva contra a divisão", diz. "Também houve certo terrorismo, com funcionário público em Belém sendo impedido de usar material do Sim", afirma. 'Falha na comunicação' Líder da Frente pelo Não, o deputado Zenaldo Coutinho (PSDB) diz que sua "expectativa é muito positiva". "Consolidamos o Não, uma diferença que já era expressiva antes da campanha", diz. Coutinho diz que a abstenção esperada pela Frente do Sim não é um fenômeno exclusivo de Belém, mas de todo o Pará, onde em muitos casos a distância entre os eleitores e as urnas é grande. Para Coutinho, a Frente do Sim errou na propaganda eleitoral. "Eles fizeram uma campanha depreciando o Pará, falando em miséria. O paraense sente as dificuldades, mas gosta do Estado. É um sentimento muito forte. E o eleitor acabou se sentindo agredido", diz. Dia depois Caso a divisão do Pará seja aprovada pelos paraenses, a criação de Tapajós e Carajás ainda será discutida pelo Congresso Nacional. Caso vença o Não, os dois líderes da Frente pelo Sim garantem que o Pará, mesmo mantendo o território intacto, não será mais o mesmo. Tanto Maia quanto Queiroz acreditam que Belém terá de repensar a atenção que dá às regiões separatistas. Já Coutinho diz que a discussão será outra: "O Pará é vítima de um pacto federativo perverso. Nós produzimos muita riqueza mineral e somos o segundo Estado que mais contribuímos com o saldo da balança comercial brasileira. Mas os impostos não são recolhidos no Estado", diz. "É nisso que vamos trabalhar", garante, na redivisão tributária do país. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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