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Batalha da quarta-feira é só o começo

Se escapar da cassação, presidente do Senado tem pela frente novos processos no Conselho de Ética

Por Gabriel Manzano Filho
Atualização:

Mesmo que seja absolvido pelos colegas na votação da quarta-feira, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), não terá grandes motivos para festejar: outros dois processos o esperam no Conselho de Ética da Casa, e um terceiro foi apresentado pelo PSOL à Mesa diretora. Eles prometem tirar-lhe o sossego e deixá-lo nas mãos de senadores adversários por mais um bom tempo. O longo teste de sobrevivência política que o espera é fruto de uma enxurrada de denúncias que, entre maio e a semana passada, atiraram Renan no pior momento de seus 30 anos de carreira - um inferno astral do qual ele jamais suspeitaria nos anos 70, quando era um animado líder estudantil em Maceió, ou nos 90, quando foi por algum tempo ministro da Justiça do governo Fernando Henrique. Em resumo, se escapar na quarta-feira Renan entra na mira de outras três operações suspeitas. A primeira é a venda, muito acima do preço, de uma pequena fábrica de bebidas. A segunda, a compra não declarada de um jornal e duas emissoras de rádio. E a última, que pode ou não chegar ao conselho, o implica como suposto recebedor de propinas para ajudar o banco BMG a operar o crédito consignado sozinho, antes dos concorrentes. Suas agruras começaram em 25 de maio, quando a revista Veja informou que ele teria recebido ajuda de um lobista da construtora Mendes Jr. para pagar despesas - bem acima de suas posses - com Mônica Veloso, uma jornalista com a qual tem uma filha fora do casamento. Entre vários compromissos, Renan fez uma série de pagamentos mensais de R$ 12 mil à jornalista. Em julho, enquanto Renan batalhava para controlar as coisas no Conselho de Ética, trocando relator e presidente, apareceu a segunda denúncia: ele também teria quebrado o decoro parlamentar ao beneficiar-se da venda de uma pequena fábrica de refrigerantes da qual era sócio em Alagoas. Embora estivesse praticamente falida, a Conny foi comprada pela cervejaria Schincariol por R$ 27 milhões. Polícia e Ministério Público suspeitaram que parte desse dinheiro seria um pagamento ao senador, por favores prestados à compradora perante o INSS e a Receita Federal. O terceiro golpe, também executado pela revista Veja, piorou as coisas: Renan havia comprado, segundo a denúncia, um jornal e uma emissora de rádio, usando como laranja seu velho amigo Tito Uchôa. O negócio, de R$ 2,6 milhões, foi em sociedade com o ex-deputado João Lyra e nada foi informado à Receita. Lyra, hoje inimigo do senador, confirmou o negócio à PF. E a quarta denúncia, que pode ou não chegar ao conselho, partiu de Bruno de Miranda Lins, advogado de Brasília. Renan teria se beneficiado, diz ele, de operação para dar ao banco BMG exclusividade, por alguns meses, na concessão de crédito consignado. Neste fim de semana, edição da revista Época levanta suspeitas sobre mais um possível favorecimento a Renan em irregularidades cometidas na Fundação Nacional da Saúde (Funasa), órgão que faz parte das cotas de indicação do PMDB dentro do governo. Contratos considerados irregulares teriam sido feitos pelo ex-presidente da Funasa Paulo Lustosa (indicado por Renan) e pelo coordenador de Recursos Logísticos, Paulo Roberto Garcia - sobrinho do lobista Luiz Carlos Coelho, amigo do senador e sogro de Bruno Lins. Se os ataques minaram o prestígio do presidente do Senado, sua defesa pouco o ajudou. Renan irritou muita gente ao defender-se sentado na cadeira de presidente, e não em pé, na tribuna. Enrolou-se ao contar uma história inverossímil e apresentar notas frias para justificar uma operação de venda de gado. Acuado, começou a bater no Grupo Abril, que edita a revista Veja, acusando-o de ter vendido de forma ilegal o canal a cabo TVA para a Telefônica, que é espanhola. A Abril negou todas as acusações. Por fim, em 7 de agosto foi pedida a quebra de seu sigilo bancário e fiscal. Parlamentares até então neutros se afastaram.

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