BASTIDORES: ‘Você não vê que Lula pode ser preso?’, indagou deputado
Por Vera Rosa
Atualização:
Foram pelo menos três os pedidos de demissão apresentados pelo ministro José Eduardo Cardozo à presidente Dilma Rousseff, desde o ano passado. Dilma sempre o segurou, mas em 22 de fevereiro – dia em que o juiz Sérgio Moro decretou a prisão do marqueteiro João Santana – percebeu que a pressão do PT ficara insustentável.
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Na tarde daquele dia, Cardozo recebeu no Ministério da Justiça, por uma hora e meia, dez deputados do PT que, em tom duro, cobraram dele providências sobre a ofensiva da Operação Lava Jato contra o ex-presidente Lula e pediram abertura de inquérito para apurar denúncias envolvendo o também ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
“Você não vê que o Lula pode ser preso?”, perguntou um dos deputados ao ministro do PT. “É um abuso atrás do outro da Polícia Federal e você não faz nada.” Eram por volta de 17 horas quando os petistas saíram do gabinete. Abatido, Cardozo desabafou com um amigo: “Eu não entendo o que eles querem que eu faça”.
O ministro de Dilma que o PT nunca engoliu
1 / 10O ministro de Dilma que o PT nunca engoliu
Caso CPEM
Em 1997, Cardozo integrou a comissão interna do PT que investigou o caso da Consultoria para Empresas e Municípios (Cpem), com sede em São Bernardo do... Foto: Luiz Paulo Lima|EstadãoMais
CPI dos Correios
Deputado em 2005, Cardozo foi um dos petistas que participou da CPI dos Correios na Câmara para investigar as denúncias de Roberto Jefferson. Foto: Celso Junior/Estadão
CPI dos Correios
O petista foi alvo de críticas internas do partido ao defender as investigações e adotar posturas como apoiar a convocação do ex-ministro da Casa Civi... Foto: Beto Barata/EstadãoMais
Mudanças na sigla
Com a crise do mensalão, a corrente da qual Cardozo faz parte defende em 2005 a "refundação" do PT. Dentre as propostas do grupo, chamado Mensagem ao ... Foto: Dida Sampaio/EstadãoMais
Mudanças na legenda
"Temos de fazer um processo interno criterioso, duro e imparcial, para aplicar punições severas a todos que se desviaram da conduta ética", disse Card... Foto: Antonio Milena/EstadãoMais
'Três porquinhos'
Em 2010, Cardozo foi um dos coordenadores da campanha vitoriosa de Dilma Rousseff à Presidência, ao lado do então presidente do PT, José Eduardo Dutra... Foto: EstadãoMais
'Três porquinhos'
O trio recebeu a alcunha de 'três porquinhos'. No ano seguinte, Palocci foi nomeado para a Casa Civil e Cardozo para o Ministério da Justiça. Envolvid... Foto: Soraya Ursine/EstadãoMais
Lava Jato
Em meio aos desdobramentos da investigação que revelou o esquema de corrupção na Petrobrás para abastecer o caixa de partidos e políticos, levando até... Foto: GERALDO BUBNIAK/AGBMais
Lava Jato
Em junho de 2015, a Executiva Nacional do PT decidiu convocar Cardozo para dar explicações sobre a Lava Jato. Em conversas reservadas, lideranças peti... Foto: André Dusek/EstadãoMais
Lula
Com o avanço da Lava Jato, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal apuram suspeitas de irregularidades em obras tocadas por empreiteiras em u... Foto: Dida Sampaio/EstadãoMais
No dia seguinte, o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, desembarcou em São Paulo para conversar com Lula, a pedido de Dilma. O ex-presidente desfiou um rosário de queixas contra Cardozo. No ano passado, Lula chegou a convidar o vice Michel Temer (PMDB) para assumir a Justiça.
Wagner sugeriu a Lula o nome de Wellington César Lima e Silva, que foi procurador-geral de Justiça da Bahia. Dilma conheceu Lima e Silva ainda na semana passada, com aval de Cardozo.
Apesar disso, ela ainda não tinha batido o martelo sobre a indicação. Pretendia convencer Cardozo a ficar mais um pouco, mas petistas trataram de vazar a notícia sobre a saída para criar um fato consumado. Dilma ficou irritada. Cardozo pediu demissão, mas não queria ser transferido para a Advocacia-Geral da União. Pretendia voltar para São Paulo. A presidente, porém, fez um apelo. “Eu preciso de você aqui”, disse ela.