Reforma administrativa não deve incorporar Secretaria de Relações Institucionais à Casa Civil

Um dos motivos seria a forte resistência de parte da base aliada e do PT ao ministro da Pasta, Aloizio Mercadante; atualmente, posto vem sendo conduzido pelo secretário especial de Dilma, Giles Azevedo

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Por Erich Decat
Atualização:

BRASÍLIA - Nas discussões realizadas nos últimos dias em torno do novo desenho da articulação política do governo com o Congresso, ministros palacianos dão como certo que o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, não irá acumular as funções da Secretaria de Relações Institucionais (SRI). Até o final deste mês, a presidente Dilma Rousseff deve anunciar a redução do número de ministérios e cargos comissionados. No âmbito da articulação política, um dos principais motivos para que não seja retomado o modelo adotado no governo Lula, em que a Casa Civil também atuava nas questões de “varejos” com os congressistas, está na forte resistência de parte da base aliada e do próprio PT a Mercadante. O ministro é considerado de perfil pouco agregador e no trato com os parlamentares nada amistoso.

O ministro da Casa Civil,AloizioMercadante Foto: André Dusek/ESTADÃO

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Segundo fontes ouvidas pelo Estado, conhecedor desse ambiente adverso, estabelecido desde que chegou à Casa Civil no início de 2014, Mercadante não pretende ficar na linha de frente e assumir as negociações que envolvem a ocupação de espaços de segundo e terceiro escalões do governo e liberação de emendas parlamentares. Essa atribuição, atualmente, é conduzida pelo ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha (PMDB), braço direito na articulação política do vice-presidente da República, Michel Temer. Ambos informaram ao Palácio do Planalto na semana passada que se afastarão das negociações de “varejo”. Em razão do afastamento dos dois, o posto vem sendo conduzido gradualmente e de maneira informal pelo secretário especial da presidente, Giles Azevedo, que tem realizado rodadas de conversas com liderança da base aliada.

Dentro das discussões sobre o futuro da SRI não está descartada a possibilidade de a secretaria voltar a receber o status de ministério, como ocorria até ela ser incorporada, no último mês de abril, por Michel Temer. Apesar da incorporação feita naquela ocasião, a estrutura de cargos da SRI permaneceu intacta. Embora Temer tenha a intenção de atuar apenas na “macropolítica” e em questões institucionais, a ideia inicial de integrantes da cúpula do Palácio, caso se avancem as discussões da retomada da SRI, é deixá-la sob o comando de um integrante do PMDB. Um dos motivos é não ampliar o desgaste com o principal aliado. Além de Eliseu Padilha, atualmente, a SRI também abriga indicações do vice-presidente e do ex-senador José Sarney. Há também o entendimento de integrantes do Palácio envolvidos nas discussões sobre a reforma administrativa de que a escolha de um petista para a SRI, neste momento, poderia ampliar os atritos com integrantes da base aliada, que defendem que os maiores cortes sejam feitos nos espaços do PT, detentor da ampla maioria dos cargos no governo federal.

Enquanto o novo modelo da articulação política não é definido, o governo vem acumulando, nos últimos dias, vários tropeços em temas sensíveis como a discussão em torno do proposta de Orçamento da União de 2016. Sem uma negociação prévia com as principais lideranças do Congresso, a presidente Dilma teve que recuar da tentativa de recriar a CPMF defendida por setores da equipe econômica do governo. O impasse gerado com congressistas e setores do mercado levou o governo a apresentar, nessa segunda-feira, 31, um orçamento com previsão de déficit primário de R$ 30 bilhões para o próximo ano. 

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