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Bastidores: Improviso, fast-food e crise na madrugada marcam viagem de Bolsonaro

Passados mais de dez dias fora, assessores contavam que o presidente estava cansado e insistia para antecipar o retorno ao Brasil

Foto do author Julia Lindner
Por Julia Lindner
Atualização:

RIAD - O presidente Jair Bolsonaro viajou por cinco países da Ásia e do Oriente Médio nas últimas duas semanas. Em todos eles, manteve os mesmos padrões: passear de improviso pelas ruas da cidade logo após a chegada para se adaptar ao fuso horário, evitar as comidas típicas orientais e falar com a imprensa sempre que possível.

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Mesmo após ter sido submetido a uma cirurgia recentemente, a dieta passou longe daquilo que foi recomendado pelos médicos. No cardápio, hambúrguer e macarrão instantâneo. No último caso, o prato era feito no quarto do hotel, ora por ele, ora por seus auxiliares.

Bolsonaro aproveitou as peculiaridades gastronômicas para fazer política. Ao dizer que preferia um bom churrasco ao peixe cru japonês, falou que evitaria comer carne no Japão por causa das dificuldades que o país impõe para a exportação brasileira do produto.

Jair Bolsonaro circula por ruas de Tóquio, no Japão Foto: Julia Lindner/Estadão

O presidente também foi às compras. Logo nos primeiros dias, adquiriu um relógio de pulso no Japão ao custo de US$ 100 (preço bastante salgado, segundo ele). Na China, o presidente circulou por um shopping a céu aberto a fim de reforçar o discurso de que o país é, em essência, capitalista. Em uma das lojas, só entrou após ouvir que a marca era reconhecida pelo preço baixo. Ele também observou alguns produtos esportivos, incluindo um blusão verde, que disse ser a cor do seu time, o Palmeiras.

Bolsonaro disse que o encontro com Xi Jinping, que faz parte do Partido Comunista, é "normal" Foto: Koji Sashara / EFE

Foi justamente um agasalho de futebol que ele escolheu para presentear o presidente chinês, Xi Jinping, fã do esporte. O time escolhido, no entanto, foi o Flamengo - clube com a maior torcida do País.

Nos Emirados Árabes, após cumprir agenda oficial, levou os integrantes mais próximos da comitiva, como o ministro Augusto Heleno (GSI), para um banho noturno na praia privativa do hotel luxuoso onde ficou hospedado a convite da família real de Abu Dabi. Bolsonaro e Heleno contaram que ficaram “boiando” no mar por cerca de uma hora, mas que o presidente evitou nadar por questões de saúde e condicionamento físico.

Na segunda-feira, Bolsonaro se encontrou com o emir do Catar, o xequeTamim bin Hamad al-Thani Foto: Qatar News Agency / AFP

Bolsonaro manteve o contato com o Brasil sempre que possível. Ele conversou com o ministro da Economia, Paulo Guedes, para alinhar o discurso sobre as mudanças para os servidores públicos e mandou mensagens para integrantes da bancada do PSL no auge dos conflitos na sigla.

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Nos últimos dois dias da viagem, na Arábia Saudita, o presidente atuou diretamente para conter a crise gerada pela divulgação do depoimento de um porteiro que o envolveu no caso Marielle Franco - o Ministério Público posteriormente disse que o funcionário mentiu. Após divulgação da reportagem no Jornal Nacional, da TV Globo, transmitida de madrugada em Riad, Bolsonaro acordou assessores para que o ajudassem a fazer uma transmissão ao vivo nas redes sociais.

“Acho que todo mundo gostaria de passar uma tarde com um príncipe, principalmente vocês, mulheres. Vou ter essa oportunidade hoje. Nós dois temos certa afinidade”, disse Bolsonaro Foto: José Dias / Presidência da República

O resultado foi um pronunciamento de improviso em um tom bastante exaltado. O presidente também chamou outros veículos de televisão, como SBT, Band e Record TV, para conceder entrevistas às 5 horas da manhã (horário local) e apresentar a sua versão sobre o episódio. Ele dormiu cerca de uma hora naquele noite.

Como já fez em outras ocasiões, Bolsonaro não escondeu o desconforto que sente por exercer o cargo. Em Pequim, ao reclamar de uma reportagem sobre os seus filhos, um dos temas mais sensíveis para ele, o presidente disse que preferia estar ali de férias a estar trabalhando, mas não tinha opção. Depois, em entrevista ao Estado concedida em Riad, afirmou que se engana quem pensa que ele está “felicíssimo” pela posição que ocupa. O presidente descreveu o posto como sacrificante e desgastante.

Passados mais de dez dias de viagem, assessores contavam que Bolsonaro estava cansado e insistia para antecipar o retorno ao Brasil, mas não conseguiu desmarcar os compromissos. Ele só voltou para casa nesta quinta-feira, 31.

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