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Bastidores: Governo monta um 'quartel general' no Palácio do Planalto

Todos os ministros 'da Casa' serão militares; presidente Jair Bolsonaro já dava sinais de que queria uma pessoa operacional, com perfil militar, para conduzir a coordenação do governo

Por Tania Monteiro
Atualização:

BRASÍLIA – A escolha do atual chefe do Estado-Maior do Exército, general Walter Braga Netto, para o cargo de ministro-chefe da Casa Civil, no lugar de Onyx Lorenzoni levará a uma situação, no mínimo inusitada, a ser vivida no Palácio do Planalto. Todos os ministros “da Casa” serão militares. Até o ministro-chefe da Secretaria Geral, Jorge Oliveira, apesar de ter um perfil mais civil, na verdade, é um Major da Polícia Militar do Distrito Federal, ou seja, tem origem militar.

General Braga Netto, chefe do Estado-Maior do Exército, foi o escolhido por Bolsonaro para assumir a cadeira de Onyx na Casa Civil Foto: Fábio Motta/Estadão

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O presidente Jair Bolsonaro já dava sinais de que queria uma pessoa operacional, com perfil militar, para conduzir a coordenação do governo. Na semana passada, conforme antecipou o Estado, ele convidou o almirante da ativa Flávio Rocha para auxiliá-lo nesta função de coordenação. Bolsonaro estava se sentindo sobrecarregado com acompanhamento de tantos assuntos do governo ao mesmo tempo e Onyx Lorenzoni não estava dando conta do recado. 

O sinal era de que o almirante Rocha seria uma espécie de chefe de Estado-Maior do presidente. Recolheria os problemas da pasta, os dissolveria e os levaria de volta a Bolsonaro. Mas o próprio presidente chegou a avisar que o almirante Rocha não seria ministro. Bolsonaro queria alguém com bastão de comando para fazer funcionar áreas que considera que não estão apresentando resultados favoráveis.

Desde o início, Bolsonaro tem recorrido a militares para resolver seus problemas. Não se cansa de ressaltar que, entre seus ministros eficientes, os de origem militar têm lugar de destaque. O argumento central é ter ao lado alguém que “ponha ordem na casa” e tenha autoridade para cobrar dos demais ministros, embora não esteja acima desses, hierarquicamente falando. O primeiro passo foi escolher seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão, para coordenar o Conselho da Amazônia, instalado nesta terça-fiera, 11, quando se ouviu na cerimônia um tradicional brado da tropa: "Selva!".

A escolha de Bolsonaro entre os seus pares da caserna, no entanto, amplia um “pequeno desconforto” que já existia entre os generais: mais um quatro-estrelas da ativa deixará o Alto Comando da Força, que se reunirá para tratar de promoções na semana que vem, para ocupar uma função eminentemente política no governo. A leitura é que há uma preocupação na tropa de que não se pode deixar confundir o governo com o Exército e que essa mistura pode ter um custo alto para a caserna, no futuro. Por isso, o atual comandante, Leal Pujol, se mantém afastado dos holofotes e da imprensa.

Os oficiais generais insistem em dizer que este não é um governo militar, mas que tem militares em seus quadros. Minimizam ainda a situação, lembrando que os governantes procuram auxiliares entre os seus pares e que Bolsonaro, oriundo do Exército, estaria fazendo o mesmo.

O primeiro a se licenciar do comando para assumir um posto no Planalto foi o general Luiz Eduardo Ramos, que deixou o comando do Sudeste para assumir a Secretaria de Governo, função que, de acordo com interlocutores do presidente, está desempenhando bem, apesar de ainda existirem críticas de congressistas.

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O general Walter Braga só deixa o serviço ativo em julho. Mas, do mesmo jeito, reforçaria a ideia dos críticos de que este poderia ser rotulado como um governo militar. No primeiro escalão, existe ainda o almirante Bento Albuquerque, atual ministro das Minas e Energia, que está indo para a reserva no fim de março. Com isso, os militares que estavam um pouco afastados em alguns momentos do primeiro ano de mandato, voltam com mais força.

Braga Netto vai para a Casa Civil levando no currículo a função de interventor federal no Rio de Janeiro, até 31 dezembro de 2018, um dia antes de Bolsonaro tomar posse. No Rio, reorganizou as forças policiais do Estado, trabalho que o governador Wilson Witzel tem jogado de lado.

Ao deixar o Rio, o general foi nomeado chefe do Estado Maior do Exército. Nunca deu sinais de ter qualquer pretensão política. É tudo o que Bolsonaro quer, neste momento, para alavancar o seu governo e permitir que apresente resultados, abrindo caminho para sua reeleição.