BRASÍLIA - O deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) completa uma semana na prisão nesta terça-feira, 23, e, segundo apurou o Estadão, ainda não ganhou a liberdade, entre outros motivos, porque a Polícia Federal encontrou dois celulares em sua cela na superintendência do órgão no Rio de Janeiro. A apreensão dos aparelhos, na semana passada, repercutiu mal entre integrantes do Supremo Tribunal Federal e da Procuradoria-Geral da República. A PF abriu um inquérito para investigar o caso.
Pessoas que acompanham as investigações avaliam que a perícia nos aparelhos celulares pode revelar se Silveira, que foi policial militar do Rio, tem algum envolvimento com grupos de milicianos. A análise também poderá demonstrar a relação do deputado com o presidente Jair Bolsonaro e com dirigentes partidários.
Correligionário de Silveira, o deputado Felício Laterça (PSL-RJ) afirmou que o colega gravou clandestinamente conversas reservadas com autoridades, como Bolsonaro e o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ). “Ele era um gravador ambulante”, disse Laterça ao Estadão na segunda-feira, 22. Segundo o parlamentar, Silveira também o procurou para “facilitar a vida de empresas” e “ganhar dinheiro na boa”, em atos de corrupção. A defesa do deputado ainda não se manifestou sobre as acusações.
Silveira foi preso em flagrante por crime inafiançável, no dia 16, ao divulgar vídeo com ataques e ofensas a integrantes do STF e, ainda, com apologia ao Ato Institucional nº 5, o mais duro da ditadura militar. A ordem de prisão, determinada por Alexandre de Moraes, foi confirmada por unanimidade pelo plenário da Corte um dia depois. Na sexta-feira passada, por 364 votos a 170, a Câmara manteve a decisão.
Ao oferecer denúncia contra o parlamentar, na semana passada, a Procuradoria-Geral da República havia sugerido medidas cautelares alternativas à prisão, como o monitoramento por tornozeleira eletrônica. A previsão é de que Moraes possa reconsiderar a situação do deputado ainda nesta semana.
Procurado pela reportagem, o advogado de Silveira, Maurizio Spinelli, informou apenas que protocolou junto ao STF as "representações pertinentes até o momento", mas que prefere não dar detalhes, por uma questão de estratégia.
Por videoconferência, Silveira apresentou sua defesa na Câmara, na sexta-feira. Na ocasião, disse não ser bandido e que se arrependeu das declarações feitas dias antes. A maioria decidiu abandonar o bolsonarista para evitar um choque institucional com o Supremo. Nesta terça, 23, tem início a tramitação do caso no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara, que pode levar à cassação do mandato de Silveira./ COLABOROU FELIPE FRAZÃO