BRASÍLIA - Em 12 horas, a reação negativa nas redes sociais forçou o presidente Jair Bolsonaro a recuar da recondução do assessor da Casa Civil, Vicente Santini, depois de ser demitido publicamente por ter utilizado um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para ir à Europa e à Ásia.
Ainda na tarde de quarta-feira, 29, com a portaria da demissão já publicada, Bolsonaro demonstrava indignação com a atitude de Santini e insistia em mantê-lo afastado do governo.
Para interlocutores do presidente, a nomeação de Santini em um novo cargo no mesmo dia em que sua exoneração foi publicada no Diário Oficial da União levanta questionamentos, pois contraria o discurso do próprio presidente da véspera. Na ocasião, ao retornar de viagem à Índia, Bolsonaro disse que o "voo particular" de Santini era "inadmissível". "O que ele fez não é ilegal, mas é completamente imoral. Ministros antigos foram de avião comercial, classe econômica", disse Bolsonaro ontem.
Mas Bolsonaro cedeu ao apelo do seu filho, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o "03", e autorizou a recondução a outro cargo. Além de Eduardo, Santini contou ainda com o apoio do assessor especial para assuntos internacionais, Filipe Martins. Eduardo, Filipe e Vicente têm formado um trio que marca presença constante em viagens internacionais de Bolsonaro.
O senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) também é próximo ao assessor que chegou a ser readmitido no governo. Nesta quinta, ele negou que o ex-secretário tenha sido readmitido no governo após apelo dos filhos de Bolsonaro. "As tais 'fontes' são usadas reiteradamente para dar suporte a intrigas, fofocas e, às vezes, crimes contra o governo".
Na primeira função, como secretário-executivo, Santini recebia R$ 17.327,6. Na nova, cuja admissão foi revogada, segundo o presidente, receberia R$ 16.944,90.
A decisão anterior do presidente de readmitir Vicente Santini para um outro cargo na própria Casa Civil chegou a ser comemorada no órgão. Mas, na manhã de hoje, a nulidade da medida pegou todos no ministério de surpresa. Além disso, a Casa Civil ficou sem comando com a exoneração do secretário-executivo Fernando Moura, que assumiu por apenas um dia no lugar de Santini.
A família Santini é próxima dos Bolsonaro. O irmão de Vicente, o Tenente Santini, é vereador em Campinas e será candidato a prefeito da cidade em outubro pela Aliança pelo Brasil. Além disso, a família tem uma empresa que cuida da segurança de integrantes da família Bolsonaro há anos. /COLABOROU DANIEL WETERMAN