Avaliação positiva de Bolsonaro cai ao menor patamar desde a posse, mostra pesquisa CNT/MDA

Levantamento realizado entre os dias 1 e 3 de julho mostra que apenas 27,7% dos entrevistados consideram governo ótimo ou bom

Por Camila Turtelli
Atualização:

BRASÍLIA – Com o avanço das investigações sobre denúncias de irregularidades na compra de vacinas contra a covid-19, a popularidade do presidente Jair Bolsonaro caiu ao seu patamar mais baixo desde o início do governo, aponta pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) em parceria com o Instituto MDA. As entrevistas foram efetuadas entre 1º e 3 de julho.

A avaliação positiva do governo (quando o entrevistado diz considerar a gestão ótima ou boa) caiu de 33%, em fevereiro de 2020, para 27,7% em julho deste ano. A queda levou a aprovação para o pior patamar desde o início da atual gestão, em janeiro de 2019.

Ambiente político instável, com as eleições e a CPI da Covid, pode abalar otimismo com a retomada. Foto: Dida Sampaio/Estadão

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A porcentagem de pessoas que responderam à pesquisa dizendo considerar o governo ruim ou péssimo subiu de 35% para 48,3% de fevereiro para julho. Outros 22,7% consideram a administração regular. Nesse quesito, os entrevistados são questionados de que maneira avaliam o governo do presidente Jair Bolsonaro: ótimo, bom, regular ou péssimo.

As entrevistas nas quais se baseia a pesquisa foram realizadas após a revelação de suspeitas de corrupção envolvendo a compra de vacinas. Na sexta-feira, 2, o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a Procuradoria-Geral da República (PGR) a investigar se Bolsonaro prevaricou no caso da compra da vacina indiana Covaxin. A suspeita é de que ele não comunicou aos órgãos de investigação indícios de irregularidades na aquisição do imunizante pelo Ministério da Saúde.

Além disso, cresceram nos últimos meses movimentos de rua pedindo o impeachment de Bolsonaro. Neste sábado, 3, atos foram registrados em todas as capitais com o nome de “3JForaBolsonaro”. Os organizadores contabilizaram ações em 347 municípios no Brasil e em 16 países do exterior. Foi a terceira manifestação em um período de dois meses. Os manifestantes pedem o afastamento do presidente, a retomada do auxílio emergencial de R$ 600 e a vacinação em massa da população.

A Câmara também recebeu, na semana passada, o chamado “superpedido”de impeachment de Bolsonaro, assinado por movimentos e partidos de esquerda, siglas de centro, centro-direita e ex-bolsonaristas, com 46 assinaturas e 271 páginas.

Com esse cenário, a aprovação pessoal de Bolsonaro também caiu, indo de 43,5% para 33,8%. Nessa pergunta, o instituto questiona as pessoas consultadas se elas aprovam ou desaprovam o desempenho pessoal do presidente da República. A rejeição subiu de 51,4% para 62,5% no mesmo período. Ou seja, a quantidade de reprovação superou a de aprovação.

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Cenário eleitoral 

A pesquisa CNT/MDA também questionou os entrevistados em quem eles votariam caso as eleições presidenciais do ano que vem fosse hoje. O ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva lidera as intenções de voto, com 41,3%, enquanto Bolsonaro tem 26,6%.

Lula e Jair Bolsonaro são candidatos competitivos para a eleição presidencial de 2022. Foto: Antonio Cruz e Valter Campanato/Agência-Brasil

O ex-candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT), por sua vez, registrou 5,9%, o mesmo patamar do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro.

Se Bolsonaro for candidato a presidente no ano que vem, 22,8% disseram que votariam nele com certeza e 11,6% disseram que poderiam votar nele. Por outro lado, 61,8% disseram que não votariam nele para presidente de jeito nenhum e 0,4% disse não conhecê-lo ou saber quem é.

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Se Lula confirmar a candidatura a presidente no ano que vem, 35,4% disseram que votariam nele com certeza e 17,1% disseram que poderiam votar nele. Por outro lado, 44,5% disseram que não votariam nele para presidente de jeito nenhum e 0,1% disse não conhecê-lo ou saber quem é.

Se a eleição para presidente fosse hoje, 52,6% votariam em Lula e 33,3% disseram que votariam em Bolsonaro, no caso de uma disputa no segundo turno entre os dois candidatos. Para este cenário, 11,5% votariam branco ou nulo.

Em outra simulação de segundo turno, Ciro aparece com 43,2% contra 33,7% de Bolsonaro. Para este cenário, 18,8% votariam branco ou nulo.

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Foram realizadas 2.002 entrevistas presenciais, em 137 municípios de 25 Unidades da Federação. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos, com 95% de nível de confiança.

Urna eletrônica

A pesquisa mostrou ainda que a confiança na urna eletrônica é elevada ou moderada para 64% dos entrevistados, enquanto 34% relatam ter pouca confiança. Apesar disso, o levantamento aponta também que mais da metade dos entrevistados, 55,4%, considera que os candidatos à Presidência derrotados não aceitarão o resultado final, caso as eleições ocorram por meio de urna eletrônica sem o voto impresso. Já para 30,5%, os candidatos à Presidência derrotados aceitarão o resultado final. Um total de 14,1% não sabe ou não respondeu.

Sobre o grau de confiança nas atuais urnas eletrônicas utilizadas nas eleições no Brasil, os entrevistados afirmaram ter: confiança elevada, 32,9%; confiança moderara, 30,8%; confiança baixa, 15,8%; e sem confiança, 18,7%.

Quando o modelo atual é confrontado com uma possível alteração para urna com impressão do voto, a maioria se mostra favorável a essa opção: 58,0% disseram ser favoráveis às urnas com impressão do voto, “pois elas geram mais confiança nos resultados”, e 34,9% disseram ser contrários à impressão do voto, pois o sistema atual já funciona bem.

A Câmara discute atualmente uma mudança na Constituição para adoção da impressão do voto eletrônico e a apuração do resultado das eleições pela contagem dos papéis. Levantamento feito pelo Broadcast Político em junho mostrou maioria pela aprovação da mudança na comissão especial que avalia a proposta. Mais recentemente, no entanto, presidentes de 11 partidos assinaram uma carta contrários à mudança.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), defendeu a manutenção do atual sistema eletrônico de votações, em entrevista à CNN Brasil exibida na noite deste domingo, 4. O senador declarou que não identifica indícios de fraudes em eleições e que confia na Justiça Eleitoral.

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A proposta de impressão do voto é bandeira de Bolsonaro, que alega fraudes na urna eletrônica, sem apresentar provas. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, é contra a mudança, mas disse que irá adotá-la, caso o Congresso aprove.

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