Autonomia financeira da universidade volta à pauta

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Por Agencia Estado
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O modelo de ensino superior das 52 instituições federais está esgotado, afirmam reitores. Depois de mais de três meses de greve dos professores federais, o Ministério da Educação (MEC) vai montar, nas próximas semanas, uma comissão de dirigentes e pesquisadores para retomar o projeto de autonomia financeira das universidades, arquivado pelo governo. Só para a folha de pessoal e a manutenção dos campi, o MEC repassa anualmente cerca de R$ 7 bilhões. Cerca de 90% deste total é para pagar ativos e aposentados. O reitor da federal de Pernambuco (UFPE), Mozart Ramos, diz que o atual governo não tem mais tempo para tocar o projeto de autonomia universitária. No máximo, o MEC conseguirá apresentar diretrizes para a discussão. "A base de cálculos de financiamentos deverá ser acertada pelo novo governo", avalia. Ramos e reitores ligados à Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) vão tentar levar essa discussão aos presidenciáveis ainda neste ano. A proposta de autonomia deverá considerar as diferenças entre as universidades das diferentes regiões do País. "O desafio é vencer a heterogeneidade das instituições", diz Ramos. Depois de mais de três meses de brigas entre docentes e representantes do governo, a reitora da federal do Rio Grande do Sul (UFRS), Wrana Panizzi, afirma que as "eventuais" intransigências estão superadas e é possível discutir autonomia. "Mais que brigas, tivemos pontos de vistas divergentes", alega. "Nos resta pensar um sistema de financiamento." Segundo ela, os campi terão pela frente um conjunto de temas importantes para a vida universitária, formado por questões de médio e longo prazos. "As universidades representam 90% da pesquisa do País. E cada vez mais são chamadas a desempenhar um papel que exige um olhar interno, mas com um foco no mundo lá fora." A greve dos professores, ressalta a reitora, mostrou o respeito social conquistado pelas universidades. Nunca se falou tanto no papel das instituições, destaca Wrana. "Foram apresentados nossos defeitos e nossas qualidades, mas ninguém falou em fechar as universidades." A Universidade Federal de Pelotas (UFPel), se tivesse menos impedimentos legais e uma estrutura administrativa ágil, aumentaria o número de vagas nos cursos de graduação e treinamentos desenvolvidos em parceria com 22 municípios gaúchos. "A estrutura pesada e os múltiplos degraus de decisões tornam lenta a administração da universidade", afirma a reitora Ingelore Scheunemann. Mais de 600 mil pessoas, entre pequenos agricultores e professores de segundo graus, foram atendidas na região de Pelotas no ano passado. Esse número aumentaria, segundo a reitora, se a UFPel tivesse menos amarras legais e financeiras para contratar professores. O orçamento global da instituição é de R$ 125 milhões por ano. Inguelore ressalta, porém, que 38% do montante vai para a folha de aposentados. A situação dos inativos das federais foi um dos motivos que emperraram o projeto de autonomia.

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