Aumento da renda não reflete em indicadores sociais

Por Agencia Estado
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O aumento da renda per capita fez o Brasil subir duas posições no ranking de desenvolvimento humano das Nações Unidas este ano, mas isso não reverteu em melhoria das condições de vida da população. Essa é uma das conclusões que se extrai do Relatório de Desenvolvimento Humano 2002, divulgado hoje. De acordo com o relatório, o Brasil é o 73.º colocado em um ranking de 173 países e tem um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,757. Considerando a mesma escala, o Brasil seria o 75.º em 2001, com um IDH de 0,753. Esta classificação resulta de um ajuste feito pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) no levantamento do ano passado, a fim de permitir a comparação dos resultados. O ajuste foi necessário porque em 2001 o ranking era formado por menos países (162). Na escala de 2001, o Brasil era o 69º. Pela segunda vez consecutiva a Noruega é o país com o mais alto grau de desenvolvimento humano com um IDH de 0,942. Não houve alterações significativas na lista dos países mais avançados em relação ao ano passado. Bélgica, Austrália e Estados Unidos ficaram com o mesmo IDH, mas pelos critérios de desempate, os norte-americanos acabaram na 6ª colocação. O relatório deste ano foi elaborado com informações colhidas em 2000. Naquele ano, a renda per capita ajustada pelo poder de compra foi de US$ 7.625 ante a US$ 7.037 em 1999. Mas é preciso considerar que em 2000, foi registrada a maior taxa de crescimento do governo Fernando Henrique Cardoso, 4,36%. Além da renda, o IDH é composto por indicadores de saúde e educação. No caso do Brasil, eles também avançaram, porém não na mesma proporção da renda. Apesar disso, a melhora da renda não influiu positivamente na qualidade de vida dos brasileiros, conforme mostra o relatório. Ao contrário, aumentou a distância entre a renda e os indicadores sociais: no ano passado, a diferença entre as duas escalas era de 12 pontos; hoje é de 13. Ou seja, se fosse considerada apenas a renda, o Brasil seria o 60º do mundo. "Isso mostra que o País não está conseguindo transformar o aumento de renda em bem-estar", analisa o especialista em desenvolvimento humano do Pnud no Brasil, José Carlos Libânio. A avaliação do Pnud é que o hiato é significativo, pois só não é maior do que o existente nos países árabes, onde uma renda per capita alto convive com baixas taxas de alfabetização e longevidade. América Latina Dois dos países mais pobres da América do Sul, um deles conturbado permanentemente por guerrilhas e por cartéis da cocaína, apresentaram os maiores crescimentos do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do continente na última década. De 1990 a 2000, o índice da Bolívia - 114º no ranking geral - cresceu 9,36%, enquanto o da Colômbia melhorou 7,22%. Esse fenômeno também é verificado em outras nações da América Central, principalmente aquelas que saíram de situações de guerra civil. É o caso de El Salvador e Guatemala, que evoluíram respectivamente 9,97% e 9,36% em 10 anos - o melhor desempenho da região. Em alguns casos, isso pode ter ocorrido porque o simples fim dos conflitos permitiu que os indicadores de educação e expectativa de vida avançassem. A melhora da Colômbia, no entanto, não tem uma boa explicação, além do fato de que se trata de um país pobre e que os mais pobres têm mais espaço para melhoras. Uma prova disso é que o número 1 do ranking - a Noruega cresceu apenas 4,78% no mesmo período, e os Estados Unidos, 2 96%. Os países mais desenvolvidos da América do Sul, como Argentina (34º) e Chile (38º), também tiveram uma evolução modesta: 4,58% e 6,68% de crescimento no IDH. O indicador do Brasil passou de 0,710 em 1990 para 0,757 em 2000 - um aumento de 6,62%. A comparação dos índices de diferentes períodos mostra que a Venezuela é o país mais estagnado do continente. Tinha um IDH de 0,757 em 1990, que hoje está em 0,770 - uma ampliação de apenas 1,85%. No resto do mundo, a China é o país que literalmente decolou. Seu IDH cresceu 16,35% na última década. Outros tigres asiáticos apresentam boa evolução: Coréia, Cingapura e Malásia, por exemplo, avançaram mais de 8%.

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