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Por Dora Kramer e dora.kramer@grupoestado.com.br
Atualização:

As brigas entre os partidos governistas pelo apoio explícito do presidente Luiz Inácio da Silva aos respectivos candidatos deixaram de fazer sentido depois da amazônica bobagem da campanha de Marta Suplicy. Se Lula já resistia em pôr sua popularidade em xeque de novo antes mesmo de o PT entronizar Gilberto Kassab no altar das grandes vítimas da História, desde o último domingo o presidente recebeu de presente um ótimo pretexto para cuidar da vida bem distante dos palanques no segundo turno das eleições municipais. Com ele fora da cena, as outras legendas da coalizão federal ganharam segurança no tocante ao equilíbrio das disputas. Em conseqüência, não têm mais motivos para reclamar do PT que, segundo dirigentes de partidos aliados, tentou capitalizar sozinho a condição de representante do governo federal. Vista assim do alto, a discussão do primeiro turno por causa da presença do presidente - ou pela neutralidade da ausência - parecia relacionada à expectativa de transferência de popularidade e, claro, de votos. Examinada no detalhe e mediante explicações de personagens envolvidos, a disputa pelo apoio de Lula revela outro motivo mais consistente: a perspectiva de tratamento privilegiado da parte da União para com o município que tiver como prefeito o candidato visto como o predileto do presidente. Se esse dado conta nas capitais, nos pequenos municípios conta muito mais. Daí a razão da elevadíssima temperatura entre partidos da base aliada, notadamente no Nordeste, onde o peso do Estado é crucial na relação entre representantes e representados. Isso quer dizer que o desequilíbrio nas disputas municipais é ditado pela simbologia da caneta presidencial e pela força do Diário Oficial. De acordo com dirigentes aliados, o PT foi alvo de reclamações porque tentava passar ao eleitor a mensagem de que só ele representava essa garantia. Mas, contabilizados os votos do primeiro turno, se alguém conseguiu transmitir com competência esse recado foi o PMDB, um dos mais queixosos e também o partido que mais se beneficiou da adesão total ao governo Lula no segundo mandato. Diante disso, é de se imaginar, então, que o PMDB continue na aliança governista e em 2010 apóie a candidatura sustentada pelo Palácio do Planalto. Não necessariamente. Daqui a dois anos a regra válida agora para os municípios não valerá para as eleições dos governos dos Estados porque o Diário Oficial, a caneta e a cadeira presidenciais não terão um dono (ou dona) certo. Com o poder central em disputa, a menos de uma situação de absoluto favoritismo do grupo governista, a tendência é a dispersão até a definição sobre o rumo mais seguro da perspectiva segura de relações privilegiadas com o Estado. Mal comparado O pior nos defensores da tática de difamação da campanha de Marta Suplicy - a própria incluída - não é nem o cinismo de soltar o veneno fazendo cara de inocente e pouco caso dos neurônios alheios. Erro grosseiro de cálculo mesmo foi acreditar piamente que a candidata poderia ficar imune aos maus efeitos do uso da malícia de caráter sexual contra o adversário, da mesma forma como Lula conseguiu ficar distante dos escândalos ocorridos no PT e no governo. Há diferenças abissais entre os personagens e as situações que não foram consideradas: além do poder que intimida, Lula tem o perfil do oprimido e contou o tempo inteiro com a ausência do contraditório. Este último fator, subestimado, talvez tenha sido determinante na conta do fracasso ou sucesso das estratégias e explique muito a respeito da frustração de outros candidatos favoritos que confiaram no peso do exemplo de cima, mas foram atropelados por adversários supostamente mais fracos. Menosprezaram o fato de que Lula não é regra, é exceção. É aí onde reside a falácia do automatismo da transferência de votos. Moral da história Do alto da lista dos derrotados do primeiro turno, o governador de Minas, Aécio Neves, teve pelo menos um ganho: levou adiante a idéia da candidatura de Fernando Gabeira no Rio, apresentada sem maiores pretensões pelo deputado mineiro Rodrigo de Castro, secretário-geral do PSDB. O lance até agora foi mais bem-sucedido do que o inicialmente pretendido. Aécio imaginava que se Gabeira conseguisse obter 25% dos votos, a aliança já teria valido a pena para o combalido PSDB fluminense. Na primeira pesquisa do segundo turno, o candidato apareceu com 43% das preferências. Um sucesso tão surpreendente quanto o fracasso da primeira tentativa do governador de projetar a imagem do articulador de um "modo novo" de fazer política e até hipotético candidato a presidente pelo PMDB, com o apoio de Lula. Noves fora, Aécio errou quando ciscou para fora e acertou quando ciscou para dentro.

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