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Atlas racial do Brasil ressalta diferenças entre negros e brancos

Por Agencia Estado
Atualização:

A população negra brasileira continua mais pobre que a branca, morre mais cedo, tem a escolaridade mais baixa, menor acesso a saúde. Apesar desses indicadores terem melhorado desde 1991, uma análise de todos os dados sobre raça disponíveis no Brasil mostra que, em muitos casos, mesmo tendo havido progresso entre os negros, a diferença entre as duas populações não diminui. A conclusão é do estudo Atlas Racial Brasileiro, apresentada pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD) e a Universidade Federal de Minas Gerais, com base em dados do IBGE. O Atlas mostra, por exemplo, que os negros representam, ainda, 60% dos pobres do País e 70% dos indigentes. Na contagem geral da população, 50% dos brasileiros negros ou pardos são pobres enquanto apenas 25% dos brancos estão nessa condição. Essa condição de pobreza tem reflexo nos demais indicadores, piorando a condição de saúde e escolaridade dessa população. Apesar da melhoria na expectativa de vida dos brasileiros em geral, a diferença entre as duas populações permanece alta. Um menino negro nascido em 2000 deve viver, em média, 5,3 anos a menos que um branco. Uma menina branca vive, em média, 4,3 anos a mais do que uma negra. A mesma desproporção é encontrada quando se compara a mortalidade infantil. Uma criança negra tem 66% mais chances de morrer durante seu primeiro ano de vida que uma branca. "É imperativo que as metas do milênio sejam vistas também pelo prisma da raça. Dizer que a mortalidade infantil está caindo não quer dizer que esteja caindo igualmente para brancos e negros", disse o representante das Nações Unidas no Brasil, Carlos Lopes. As metas do milênio são oito objetivos de desenvolvimento que devem ser cumpridos pelos países até 2015. No caso do Brasil, a mortalidade infantil terá que ser de 16 por mil nascidos vivos naquele ano. Mantendo o atual ritmo de redução, o País atingiria a meta para a população branca, mas não para a negra. O Atlas mostra, ainda, uma diminuição da diferença de matrícula entre crianças negras e brancas no ensino fundamental, mas a manutenção de uma grande desigualdade no ensino médio. De acordo com Eduardo Rios-Neto, do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da UFMG, isso mostra que a população negra tem mais dificuldade de continuar na escola. "O dados mostram que o acesso não é mais problema. A diferença agora é o desempenho, a manutenção da criança na escola. É preciso que as políticas educacionais consigam fazer com que crianças com históricos familiares de pobreza, sejam negras ou não, consigam sair da escola com o mesmo nível de uma com um histórico melhor", disse Rios-Neto. Os dados de demografia apontam para uma fecundidade maior entre mulheres negras que entre as brancas. Enquanto no segundo grupo a taxa é de 2,1 filhos por mulher - chamada de taxa de manutenção, em que a população se mantém mas não aumenta - entre as negras essa taxa é um pouco acima, de 2,7 filhos por mulher. Segundo Rios-Neto, isso significa que a população brasileira negra está aumentando e, de acordo com a pirâmide etária, é muito jovem.

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