Ativistas a favor e contra Cuba protestam em Brasília

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Por Rafael Moraes Moura
Atualização:

Previamente informados de um ato pela libertação de presos políticos cubanos, cerca de 50 manifestantes de entidades esquerdistas deram as caras hoje, em frente à embaixada de Cuba, em Brasília. Segundo Afonso Magalhães, um dos organizadores do movimento pró-Castro, o grupo teve como objetivo ofuscar o protesto contra o regime, que ocorreu no mesmo local e hora, mas com um número muito menor de participantes: 10."Somos solidários a Cuba e aos cubanos. A campanha que estão fazendo (por causa do falecimento do preso político Orlando Zapata Tamayo) está provocando um estardalhaço", afirmou Magalhães, secretário de relações internacionais da Central de Movimentos Populares (CMP). Em folheto distribuído aos presentes, a CMP chama Tamayo de "delinquente comum", "vítima de uma autodestrutiva ''guerra de fome''" e "preso que não tem nenhuma relevância política ou social em Cuba".Dissidente cubano, Tamayo faleceu em fevereiro passado após uma greve de fome que durou 85 dias; sua morte coincidiu com a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país. Em entrevista à agência de notícias Associated Press, Lula comparou presos políticos da ilha a criminosos comuns. "Imagine se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrassem em greve de fome e pedissem libertação", disse.Com palavras de exaltação ao socialismo e faixas contra o bloqueio econômico, o lado pró-Castro reuniu integrantes da União Nacional dos Estudantes (UNE), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e União da Juventude Socialista (UJS). Esta, por sinal, fretou um ônibus que levou os manifestantes para o local do protesto, segundo apurou o Estado. De acordo com Magalhães, não houve ajuda logística ou financeira da embaixada cubana. "Eles apenas nos distribuíram água", afirmou.Quando chegaram os opositores ao regime de Havana, houve bate-boca e discussão. "Não sei se os demais manifestantes são pagos ou estão equivocados, mas certamente não conhecem Cuba. Eles tentaram nos intimidar e sabotar o nosso ato, mas não conseguiram", disse o médico cubano Carlos Rafael Jorge, radicado há 10 anos no Brasil. Ao lado de três compatriotas, ele distribuía uma carta aberta a José Serra, Aécio Neves, Dilma Rousseff, Ciro Gomes e Marina Silva, em que é solicitada a ajuda de autoridades brasileiras para a libertação de todos os presos políticos.O protesto havia sido marcado para lembrar o sétimo ano da "Primavera Negra", período de repressão que levou à prisão de 75 dissidentes em março de 2003. "Fidel e Raúl Castro são os carcereiros de todos os cubanos", criticou uma manifestante que pediu para não ser identificada. Um representante do grupo foi convidado a falar em cima de um carro de som, mas terminou sendo vaiado. Ao final do ato pró-Castro, o embaixador cubano no Brasil, Carlos Zamora, abriu as portas para os grupos esquerdistas. Ele agradeceu a "solidariedade" e disse que "Cuba se manterá firme e erguida". O líder do PT na Câmara dos Deputados, Fernando Ferro (PE), participou da manifestação, defendeu o regime, cumprimentou Zamora e, em entrevista ao Estado, concordou com a classificação de "delinquente comum" para Tamayo. "Ele não é um mártir, era uma pessoa que tinha problemas com a Justiça e a polícia em Cuba", analisou.

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