PUBLICIDADE

Ataque a jornalista cria terceira pior onda de publicações negativas para Bolsonaro, diz consultoria

Dados foram compilados pela consultoria Bites e abrangem o período que teve início com a pandemia do novo coronavírus no País

Por Fernanda Boldrin
Atualização:

O movimento nas redes sociais iniciado neste domingo, após a ameaça feita pelo presidente Jair Bolsonaro a um repórter que o questionou sobre o suposto esquema de rachadinha envolvendo sua família, gerou a terceira maior onda de repercussão negativa para o presidente nas redes sociais desde o início da pandemia, segundo dados compilados pela consultoria Bites.

O presidente Jair Bolsonaro ameçou o jornalista durante visita a uma feirinha de artesanato em Brasília Foto: Gabriela Biló/Estadão

PUBLICIDADE

O levantamento, que inclui dados atualizados até as 17h30 desta segunda-feira, indica que o epidódio só ficou atrás da repercussão negativa gerada no dia da prisão de Fabrício Queiroz, em 18 de junho, e à repercussão dos dias que se seguiram à ida do presidente a atos antidemocráticos em 31 de maio. Na ocasião, o presidente chegou a cavalgar na Esplanada dos Ministérios antes de encerrar sua participação ao lado de apoiadores.

Segundo a Bites, entre o último domingo, quando o presidente disse que tinha vontade de “encher de porrada” o jornalista que o questionou sobre repasses de R$ 89 mil feitos por Fabrício Queiroz à primeira-dama Michelle Bolsonaro, e as 17h30 desta segunda-feira, foram feitas 912 mil publicações no Twitter que repetiram o questionamento feito pelo jornalista ou que utilizaram as hashtags “#respondebolsonaro”, “#respondepresidente” e “#porradanaonoscala”.

Neste período, foram 336 mil os usuários a publicarem conteúdos do tipo - como uma mesma conta pode fazer várias publicações sobre o tema, o número de usuários que publicaram tende a ser menor que o número de publicações em si. Cálculo feito com base no número de seguidores de cada conta e no número de publicações que cada uma fez sobre o tema indica ainda que postagens sobre o suposto repasse para Michelle apareceram pelo menos 1,96 bilhão de vezes para usuários no Twitter. 

Os apoiadores do presidente chegaram a tentar articular uma mobilização de apoio nas redes. Mas, até as 17h30 desta segunda, publicações que utilizaram as hashtags escolhidas pela base de Jair Bolsonaro para defendê-lo não haviam chegado nem a um décimo do volume alcançado pelas publicações críticas ao presidente, segundo dados da Bites.

“Realmente é um dia excepcional, em que o Bolsonaro está perdendo nas redes sociais - ele geralmente consegue reagir mais rápido e com mais intensidade. Hoje é um dia em que eles (apoiadores do presidente) nao conseguiram responder”, avalia André Eler, gerente de Relações Governamentais da Bites.

O analista pondera, no entanto, que o episódio não marca necessariamente uma guinada nas redes para o presidente. “Quando Bolsonaro sofre derrotas nas redes sociais, ele costuma conseguir reorganizar a sua base. Na verdade, é ainda provável que as pessoas mais leais a ele voltem a se aglutinar para defendê-lo. Apesar dessa derrota de hoje, é provável que ele volte a crescer, como ele cresce depois que polariza.”

Publicidade

Furou a Bolha

De acordo com o pesquisador Fábio Malini, coordenador do Laboratório de Estudo sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo, o movimento iniciado nas redes sociais teve ainda a particularidade de romper a bolha das contas que são tradicionalmente críticas ao presidente.

“A gente está falando das principais contas de internet, de rede social, do Brasil. Estamos falando de Anitta, de cantores, de gente do entretenimento. É gente de fora da política. Ao meu ver, (esse episódio) é muito grave do ponto de vista do alcance”, afirma Malini, que destaca que o caso foi capaz de unir forças que tradicionalmente divergem.

Dados levantados pelo pesquisador na tarde desta segunda-feira indicam ainda que publicações que questionaram Bolsonaro sobre o tema foram feitas, em português, de 45 países diferentes.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.