Assessor de Palocci ligou 237 vezes para celular de ´laranja´

Por Agencia Estado
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Entre abril de 2003 e janeiro de 2004, Ademirson Ariosvaldo da Silva, assessor particular do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, telefonou 237 vezes para dois celulares registrados em nome de um "laranja". Os aparelhos também foram usados para receber e fazer ligações para outros integrantes da chamada República de Ribeirão Preto, como Vladimir Poleto e Ralf Barquete, ex-auxiliares de Palocci. Há registro de conversas com a "promotora de eventos" Jeany Mary Córner, com funcionários da empreiteira Leão Leão e com outros nomes investigados pela CPI dos Bingos. Esses dados foram obtidos com a quebra do sigilo telefônico do motorista Francisco das Chagas Costa e complementam o que ele já tinha dito em depoimento à Polícia Federal. O motorista contou ter dado sua documentação para habilitar os dois celulares, atendendo a um pedido do economista Poleto. A quebra do sigilo telefônico feita pela CPI revela intensa comunicação entre os envolvidos em denúncias, como a da tentativa extorsão praticada por ocasião da renovação do contrato das loterias da Caixa Econômica Federal (CEF) com a multinacional Gtech, a da suposta doação de US$ 3 milhões de Cuba para a campanha eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a do esquema de superfaturamento de contratos presumivelmente montado em Ribeirão Preto nos tempos em que Palocci era prefeito. Entre abril e dezembro de 2003, foram feitas, por exemplo, 40 ligações da Leão Leão, onde Buratti trabalhava, para os telefones que estavam em nome de Francisco. O celular da Presidência da República usado por Ademirson - e por meio do qual o advogado Buratti também falava com Palocci - recebeu 107 ligações feitas pelos dois números, entre 26 de abril e 19 de dezembro de 2003. Jeany Mary ligou 27 vezes para esses telefones, entre 19 de agosto de 2003 a 1º de fevereiro de 2004. Recebeu de volta 30 ligações entre junho e setembro de 2003. Protagonista de um dos depoimento mais constrangedores à CPI dos Bingos, à qual afirmou que gostava de beber, o economista Poleto é o recordista das chamadas feitas nos telefones do "laranja". Ele recebeu 239 ligações entre 6 de maio a 9 de janeiro de 2004 e ligou para os números 115 vezes entre abril e dezembro de 2003. Além de receber centenas de ligações "não identificadas", os telefones em nome de Francisco ligaram 56 vezes, entre maio e agosto de 2003, para o Serviço de Processamento de Dados (Serpro). É ali que trabalha Donizetti Rosa, ex-secretário de Palocci em Ribeirão e marido de Isabel Bordini, acusada de atuar no esquema de superfaturamento de contratos em favor da Leão Leão. Os telefones foram usados ainda 39 vezes para falar com o empresário Roberto Carlos Kurzweil, entre fevereiro e dezembro de 2003. Kurzweil é quem teria intermediado a oferta de R$ 1 milhão oferecida por empresários de jogos para a campanha de Lula em 2002, em troca da legalização da atividade no País. Ele teve o sigilo quebrado duas vezes pela CPI dos Bingos, mas nas duas vezes a decisão foi suspensa pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Nelson Jobim. O motorista disse à Polícia Federal que trabalhou em Brasília, nos anos de 2003 e 2004, para antigos e atuais assessores de Palocci. Segundo ele, logo nos primeiros contatos, Poleto pediu cópia de seus documentos para habilitar um telefone - no que foi atendido. De acordo com a PF, os números só foram desativados neste ano. Entre as pessoas a que prestou serviço, o motorista citou o assessor Ademirson, Buratti e Kurzweil. No depoimento à polícia, o motorista contou ter indicado a empregada que trabalhava na casa do Lago Sul onde os amigos de Ribeirão Preto se reuniam. Entre as coisas que disse ter ouvido na residência, Costa contou que se lembrava de conversas sobre encontros com representantes da Gtech. A assessoria do Ministério da Fazenda foi procurada, mas não respondeu aos pedidos da reportagem.

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