Assessor de 'deputado-tampão' passeia de lancha durante o expediente

Nomeado pelo suplente Wilson Beserra (MDB-RJ) em mandato relâmpago, Wattyla Felypeck posta vídeo em um barco na quarta-feira à tarde

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Por Camila Turtelli e Mariana Haubert
Atualização:
Gabinete de suplente fica vazio em Brasília, enquanto servidor passeia de lancha no Rio Foto: ERNESTO RODRIGUES/ESTADÃO

BRASÍLIA - Na quarta-feira passada, perto das 16h30, o gabinete do deputado Wilson Beserra (MDB-RJ), no anexo 4 da Câmara, estava vazio, com as portas trancadas. Enquanto isso, um de seus assessores, Wattyla Felypeck, transmitia ao vivo pelas redes sociais um passeio de lancha por uma praia na Costa Verde fluminense. O parlamentar é um dos 13 suplentes convocados no início do mês para um “mandato relâmpago”, de menos de um mês. 

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Com 20.597 votos em 2014, Beserra não se elegeu, mas assumiu o mandato por curtos períodos na atual legislatura, que acaba no dia 31. Mesmo com a Câmara em recesso, sem nenhuma atividade prevista, nomeou 11 assessores, como mostrou o Estado na semana passada. Entre eles, Felypeck, mais conhecido como Cebolinha. 

A função para qual o assessor foi nomeado tem carga horária de 40 horas semanais e salário de R$ 6.930. Ele não precisa dar expediente em Brasília, pois representa o deputado no Estado de origem, o Rio. “Ele faz o meu trabalho de base. Sempre fez no Estado. É a pessoa que visita os municípios”, disse Beserra. “Ele se desloca, vai de uma cidade para outra, trabalha aos sábados e domingos.”

Antes de ser nomeado como funcionário do gabinete de Beserra, Felypeck tentou ser vereador em Seropédica, no interior do Rio. Obteve 1.068 votos, três a menos do que precisava para se eleger. 

Wattyla Felypeck, assessor do deputado Wilson Beserra (MDB-RJ) Foto: REPRODUÇÃO/FACEBOOK

Questionado sobre o motivo de seu assessor estar passeando de barco numa quarta-feira à tarde, Beserra não soube explicar. “Se alguém comete alguma coisa que não seja dentro do nosso perfil de trabalho, a partir do momento que eu tenho ciência, eu vou buscar essa informação para saber”, afirmou. 

No vídeo, acompanhado ao vivo por cinco amigos, Felypeck aparece de óculos escuros, sem camisa, vestido apenas com um calção vermelho. Na postagem, ele não detalha a localidade, mas deixa claro que não se tratava de trabalho: “Aquela quarta com amigos”, seguido por um emoji de barco. “Só relaxando, né?”, comenta um dos seguidores que acompanhavam a transmissão ao vivo.

No dia anterior, o assessor havia feito outra transmissão ao vivo, quase no mesmo horário. Desta vez, porém, aparecia dentro de uma piscina cantando um hit sertanejo do momento. 

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Após o Estado procurar o gabinete, deixar recado e questionar também o deputado, os dois vídeos foram apagados do Facebook. A reportagem não conseguiu falar com o assessor até a conclusão desta edição. 

Porta fechada. Apesar do recesso, Beserra disse que tem viajado a Brasília com frequência. A reportagem esteve no gabinete do deputado três dias seguidos na semana passada, sempre em horário comercial. Na terça-feira e na quarta-feira, não encontrou ninguém no local e a porta estava fechada. Na quinta-feira, apenas dois servidores cumpriam expediente no local no período da tarde. Questionados, disseram que o deputado não havia aparecido por lá desde segunda-feira. Funcionários que trabalham no mesmo corredor afirmaram que a sala tem tido pouca movimentação e, na maioria das vezes, fica vazia.

O deputado disse que, desde que reassumiu o mandato, tem feito um trabalho na revisão de sua atuação na Câmara. Como suplente, ocupou o cargo por outras sete vezes desde 2015. O maior período foi entre janeiro e agosto de 2017. “Nesse mês de janeiro estou fazendo todo meu acervo de trabalho, tudo o que nós fizemos, para prestar contas”, disse.

Suplentes. Além de Beserra, outros oito suplentes que assumiram o mandato de deputado em janeiro nomearam assessores por um período de menos de um mês, em pleno recesso parlamentar. A reportagem bateu na porta de todos os gabinetes na terça e na quarta-feira da semana passada e, em quase todos, havia pelo menos um funcionário trabalhando. A exceção foi o de Beserra. Apenas na terceira vez, na quinta-feira, havia alguém no local.

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