'As brigas passaram, vamos eleger um novo presidente', diz Maia

Emocionado, presidente fala em tom de conciliação em seu último discurso como líder da Casa

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Por André Borges
Atualização:

BRASÍLIA – Emocionado e, por vezes, com a voz embargada, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, fez seu último discurso como líder da Casa, uma fala de tom conciliatório, antes de ser iniciada a eleição para escolha de seu substituto. Maia chegou a paralisar sua fala logo de início. “Me preparei para não chorar, mas não deu”, disse.

Presidente durante quatro anos e sete meses, Rodrigo Maia reconheceu a troca de farpas que teve durante as eleições da Câmara com o candidato Arthur Lira (Progresssitas-AL), apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, um processo que se intensificou desde o momento em que a sua recondução para o cargo foi inviabilizada por decisão do Supremo Tribunal Federal e Maia passou, então, a apoiar a candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP).

Rodrigo Maia se emociona ao fazer seu último discurso Foto: Adriano Machado/ Reuters

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“A partir dessa eleição, o passado ficou para trás. Precisaremos, unidos, eu, na planície, no plenário, com muito orgulho, com cada um de vocês, construirmos o futuro do País, não para os próximos dois anos, mas para os próximos 20 anos”, disse Maia. “As brigas passaram, vamos eleger um novo presidente.”

Rodrigo Maia disse que, nos quatro anos em que esteve à frente da Câmara, o ano de 2020 foi o “mais desafiador”, por causa da pandemia. “A Câmara dos Deputados teve, com todo respeito ao Judiciário, Poder Executivo e Senado, a condição de liderar, em conjunto, projetos que construíram as condições para o enfrentamento da pandemia”, disse o presidente, aplaudido pelo plenário.

“A PEC da Guerra foi uma construção dessa casa. Tive muito orgulho, porque nunca tinha conseguido colocar nesse painel, do PSL ao PSOL, onde tivemos voto de todos os partidos, que se uniram num momento tão difícil. Quero, do fundo do meu coração, agradecer a cada um de vocês, essa oportunidade, que é única para quem faz política, para quem sabe que, através da política, é que nós temos condição de mudar o País”, afirmou o presidente.

Em seus últimos momentos no comando da Câmara, Maia disse que o Brasil é “um País injusto”, porque ainda é fortemente marcado pela concentração de renda, tanto na elite dos servidores públicos, da qual ele e os demais poderes fazem parte, como da elite empresarial.

“O governo federal e seus Três Poderes é injusto, porque concentram renda na elite dos servidores públicos. Tenho certeza que todos que estão aqui, do PSL, ligados ao Bolsonaro, que batem em mim de forma democrática, porque é assim o processo democrático do País, à esquerda, todos nós sabemos que não é esse o Estado que temos que defender.”

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Diferentemente da Europa, declarou, o Brasil é concentrador de renda, não distribuidor. “Sabemos que nosso Estado concentra renda. São essas injustiças que fazem o Brasil ser tão desigual, porque o estado concentra na elite do serviço o público e do setor privado as riquezas que geramos todos os anos.”

Maia mencionou a necessidade de enfrentar as dificuldades do País em áreas como educação e de saúde e pediu união para a casa. “Tivemos um momento de mais atrito, no meu caso, com a candidatura do deputado Arthur Lira. A ele e àqueles que o apoiam, se em algum momento se sentiram ofendidos pelo que falei, não foi a minha intenção.”

Rodrigo Maia lembrou os momentos em que acompanhava os trabalhos da casa na época de seu pai, Cesar Maia, e citou ainda os nomes de Ulisses Guimarães, José Serra e Delfim Neto. “Tenho certeza que, qualquer que seja eleito, vai trabalhar para que nós continuemos e tenhamos muito mais respeito e orgulho de sermos deputados e deputadas brasileiros.”

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