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Articulação política expõe perfil mais conservador do governo

Na formação do segundo governo Lula, partidos conservadores e antigas adversários ocuparam lugares de destaque, antes reservados ao PT e aliados de esquerda

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Por Agencia Estado
Atualização:

A posse de três novos ministros nesta sexta-feira expôs o novo perfil político do governo Luiz Inácio Lula da Silva, com partidos conservadores e antigos adversários ocupando lugares de destaque, antes reservados ao PT e aliados de esquerda. O novo ministro das Relações Institucionais, o mineiro Walfrido Mares Guia, e o líder do governo na Câmara, deputado José Múcio (PE), ambos do PTB, substituem uma série de petistas e políticos de esquerda que fracassaram no objetivo de garantir maioria no Congresso. Festejados pela habilidade política, Mares Guia e Múcio já foram adversários do PT em seus estados e também no Congresso. Simbolizam a mudança em relação ao primeiro mandato. O empresário Walfrido Mares Guia era vice do ex-governador tucano Eduardo Azeredo e adversário de Lula na primeira eleição, em 2002. O usineiro José Múcio era articulador do Centrão conservador na Constituinte e foi líder do PFL no governo Fernando Henrique Cardoso. "Se a economia crescer e essa dupla ficar na articulação, não vai ter como fugir do governo no Congresso", comentou na cerimônia de posse o ex-deputado Mauro Ricarte (PTB-MT). Lula já contava com apoio de partidos à direita do PT, como o próprio PTB, o antigo PL (hoje PR) e parte do PP. No segundo mandato, decidiu valorizar essas alianças, criando um conselho político com presidentes e líderes de 11 legendas. Em sua nova função, Mares Guia terá gabinete no Planalto e vai participar da reunião das 9 horas com Lula, junto com os petistas Luiz Dulci (Secretaria-Geral) Dilma Rousseff (Casa Civil) e frequentemente Guido Mantega e Paulo Bernardo. Participar desse núcleo é uma prerrogativa que Lula concedeu a poucos auxiliares não filiados ao PT; o vice-presidente José Alencar e, em certos períodos, aos ex-ministros Aldo Rebelo (PCdoB), Ciro Gomes (PSB) e Márcio Thomaz Bastos, amigo pessoal do presidente. "Fazer a coalizão é uma atitude corajosa e necessária para dar consistência política a um projeto de desenvolvimento do País", disse o líder do PT na Câmara, Luiz Sérgio (RJ). Além de Mares Guia, Lula deu posse nessa sexta-feira ao deputado Reinhold Stephanes (PMDB-PR) como ministro da Agricultura. Stephanes foi secretário-geral desse ministério no governo do general Emílio Médici e ministro da Previdência, indicado pelo PFL, nos governos Fernando Collor e Fernando Henrique. "Um governo de coalizão como esse é uma experiência inédita, que depende da sensibilidade do presidente Lula para administrar um conjunto grande de partidos, o que não é nada fácil", disse Stephanes. O deputado Paes Landim (PP-PI), também formado na Arena que apoiou a ditadura militar, diz que os conservadores se aproximam de Lula porque o presidente "não tem preconceito de conversar e fazer política com ninguém, seja de direita ou de esquerda". Na posse dessa sexta-feira, o ministério reservado ao PT foi o do Turismo, uma pasta que nem existia quatro anos atrás e que Lula criou justamente para acomodar o PTB, de maneira discreta, em 2003. A vaga serviu agora para acomodar uma das maiores estrelas do partido de Lula, a ex-prefeita Marta Suplicy.

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