Arquivos indicam parceria entre agência e PF

Dados apreendidos detalham visitas de Protógenes à Abin no Rio

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Por Fausto Macedo
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Quatro arquivos secretos da Agência Brasileira de Inteligência podem revelar os bastidores da polêmica aliança entre a Abin e a equipe do delegado Protógenes Queiroz, da Polícia Federal, no curso da Satiagraha - investigação sobre o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity. Os registros foram capturados por peritos da Polícia Federal em discos rígidos da Abin recolhidos por ordem judicial em 5 de novembro. A PF conduz inquérito sobre o furo do sigilo da Satiagraha. O alvo primeiro dessa apuração é Protógenes Queiroz. A Polícia Federal planeja indiciá-lo por crime de quebra de sigilo funcional e violação da Lei do Grampo porque deu acesso a um batalhão de arapongas da Abin - 84 agentes e oficiais -, aos autos da Satiagraha. Os arquivos sob análise de peritos foram encontrados na base de operações da Abin, no bairro do Santo Cristo, no Rio. Os especialistas da PF examinam metodicamente a CPU Compaq DX 5150 MT, patrimônio Abin 89437. Nela estão armazenados 64.217 arquivos - dos quais, 6.094 classificados como documentos e 7.007 são gráficos. Existem também 47 multimídias e, sobre elas, recai o exame "para verificação de pertinência à apuração dos fatos em questão". Nessa CPU está gravado inventário com 4 catálogos que indicam a origem e os passos da controversa articulação Abin/PF. Os apontamentos estão identificados por longa série numérica, hospedados na pasta Bookmark, intitulada Apoio Abin/Satiagraha. Um catálogo, sob a rubrica 48d028a2748d8, contém "relatório indicativo da participação da Abin na Operação Satiagraha". Outro, MI-024-20-190908, guarda memorando interno relativo às visitas de Protógenes à base de operações da Abin no Rio, com datas e horários de entrada e saída do delegado, expedientes e medidas que adotou, reuniões e contatos que fez e recebeu. Para a PF, é revelador o conteúdo do terceiro documento, MI-028-20-30092008, memorando que aponta a extensa relação de servidores da Abin engajados na Satiagraha. RESPONSABILIDADE Mais vital ainda para a investigação é o quarto arquivo, 59436-0, porque identifica a cadeia de responsabilidade da cúpula da agência em investigação de competência exclusiva da PF. "Trata-se de documento interno da Abin, dirigido aos diretores e superintendentes, solicitando informações quanto à participação de servidores das respectivas localidades consultadas na Operação Satiagraha", assinala Relatório de Análise de Mídias que a PF produziu. Esse último arquivo descreve sinteticamente o tipo de atividade desenvolvida pelos arapongas e seus superiores. Os peritos da PF também abriram o disco rígido de um notebook Acer, modelo aspire 5050 Atheros AR5BMB5, apreendido na sala do chefe de operações da Abin/Rio, Vicente Ernani Filho. Os peritos mapeiam 1.682 multimídias hospedadas no notebook que são de importância crucial para o inquérito. Nelas, existem 19 endereços eletrônicos "de pessoas diversas, dentre elas servidores da Abin e Protógenes Queiroz".

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