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Arquivo de Curió confirma relatos de camponeses

Major será convidado a dar depoimento à Comissão de Anistia e à Secretaria Especial dos Direitos Humanos

Por Felipe Werneck
Atualização:

O ministro da Justiça, Tarso Genro, disse ontem que os arquivos sobre a Guerrilha do Araguaia (1972-1975) revelados ao Estado pelo oficial da reserva Sebastião Curió Rodrigues de Moura, o major Curió, "confirmam integralmente" relatos de camponeses da região feitos à Comissão de Anistia da pasta. Segundo ele, Curió será convidado pela comissão e pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos para, se quiser, dar seu depoimento. A intenção do ministro é que isso "facilite" a anistia de pessoas da região "atingidas por aqueles acontecimentos que a gente não quer que aconteçam nunca mais". "Temos uma série de depoimentos. Já anistiamos 44 camponeses que ficaram no fogo cruzado da guerrilha com o Exército e temos mais de 100 pedidos. O que posso dizer sobre isso no momento é que os arquivos do Curió confirmam integralmente os depoimentos que têm sido dados por camponeses", declarou o ministro, acrescentando "que teve, sim, um confronto entre o Estado e a guerrilha, datado dentro do regime autoritário, mas que houve uma grande vítima desse processo, além daqueles assassinados pelo regime e que vitimou também camponeses da região." DEFESA Tarso disse que o eventual depoimento de Curió também poderá ajudar nas buscas que o Ministério da Defesa pretende fazer na região, em cumprimento à ação judicial para entrega de corpos. "Estamos à disposição para nos integrar com o trabalho de perícia da Polícia Federal (PF), mas por enquanto está determinado ao Ministério da Defesa que cumpra a sentença. Não é o Ministério da Justiça. Se o ministro Jobim precisar, integramos imediatamente a PF e podemos ajudar", ressaltou Tarso Genro. Sobre as críticas em relação à participação de militares nas buscas, e não de civis, o ministro preferiu não se estender no comentário e foi sucinto na declaração. "Essa é uma opinião que não manifesto por enquanto." Ele participou ontem, no Rio, da assinatura de um acordo de cooperação com o governo do Estado para o combate a milícias. Além da participação da PF no planejamento de ações, o acordo prevê o encaminhamento de um projeto de lei ao Congresso propondo a tipificação do "crime de milícia", entre outras medidas. Os documentos revelados no domingo pela reportagem do Estado estavam guardados por Curió havia 34 anos. Detalham e confirmam a execução de adversários da ditadura em bases das Forças Armadas na Amazônia. Dos 67 integrantes do movimento de resistência mortos durante o conflito com militares, 41 foram presos, amarrados e executados quando não ofereciam risco às tropas, segundo os documentos. Até a abertura do arquivo de Curió, eram conhecidos 25 casos de execução. FRASES Tarso Genro Ministro da Justiça "Temos uma série de depoimentos. Já anistiamos 44 camponeses que ficaram no fogo cruzado da guerrilha com o Exército e temos mais de 100 pedidos. O que posso dizer sobre isso no momento é que os arquivos do Curió confirmam integralmente os depoimentos que têm sido dados por camponeses" "Ou seja, de que teve sim um confronto entre o Estado e a guerrilha, datado dentro do regime autoritário, mas que houve uma grande vítima desse processo, além daqueles assassinados pelo regime, que vitimou também camponeses da região"

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