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Aproximação do Planalto com Centrão é vista com reservas por bolsonaristas

As críticas ao chamado 'toma lá, dá cá' ajudaram a eleger Bolsonaro e parlamentares de sua base

Por Jussara Soares e Camila Turtelli
Atualização:

BRASÍLIA  - A aproximação do presidente Jair Bolsonaro com lideranças do Centrão é vista com reservas tanto por aliados do governo quanto por integrantes das legendas recebidas pelo Palácio do Planalto nos últimos dias. De um lado, bolsonaristas receiam serem acusados de ceder à “velha política” e, por outro, caciques das siglas temem ser traídos nos acordos com os quais Bolsonaro vem acenando nas conversas em seu gabinete.

Presidente Jair Bolsonaro. Foto: Gabriela Biló/Estadão

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Parlamentares da base do governo evitam comentar os encontros com os partidos do centro, justificando desconhecer quaisquer negociações. Nos bastidores, no entanto, aguardam uma sinalização do presidente para calibrar o discurso, caso a distribuição de cargos em troca de apoio no Congresso se concretize. As críticas ao chamado “toma lá, dá cá” ajudaram o presidente e os parlamentares de sua base serem eleitos.

Após uma semana de conversas com líderes, Bolsonaro, no domingo, 19, voltou a criticar a “velha política” em um discurso para apoiadores que pediam uma intervenção militar diante do Quartel General do Exército. “Nós não queremos negociar nada. Queremos é ação pelo Brasil”, disse.

Para interlocutores do Planalto, o presidente indica que poderá adotar dois discursos: um de gabinete, em que buscará aumentar aliados no Congresso, e outro para seus apoiadores que se inflamam com suas falas mais radicais e sustentam a defesa do governo nas redes sociais. Com pedidos de impeachment protocolados na Câmara e alvo de “panelaços” durante a pandemia do coronavírus, Bolsonaro, na avaliação de auxiliares palacianos, não pode abrir mão de nenhum dos dois se quiser evitar desgastes que possam atrapalhar o projeto da reeleição.

Neste momento, o governo contabiliza na Câmara o apoio de 70 parlamentares. Ao se aproximar do Centrão, o Planalto calcula que pode atrair pelo menos 130 deputados. Para conquistar a maioria dos 513 integrantes da casa nas votações, terá que seguir negociando o apoio no varejo a cada votação.

Ter a maioria também é fundamental para que o governo consiga emplacar o sucessor de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na presidência na Câmara. Nos bastidores, Bolsonaro tem incentivado as candidaturas do líder do PP, Arthur Lira, e de Marcos Pereira (SP), presidente do Republicanos, partido em qual dois de seus filhos políticos se filiaram recentemente.

Neste momento, ter um aliado no comando da casa é considerado fundamental nos últimos dois anos de governo. Com esta mexida no xadrez político, Bolsonaro quer neutralizar o DEM, de Maia, e o PSDB, do governador de São Paulo, João Doria, dois de seus principais adversários políticos. Os dois partidos, na visão dele, são seus principais adversários em 2022.

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Para colocar sua estratégia em curso, Bolsonaro se favoreceu da crescente irritação dos partidos de centro contra Maia. Para alguns líderes, o presidente da Câmara buscou ser protagonista da crise do coronavírus falando por todos. Além disso, caiu a ficha de que, passada a pandemia, Maia não terá mais do que três meses na Presidência da Câmara, o que esquentou a corrida para sua sucessão nos bastidores.

Com isso, o governo começou a procurar o Centrão, cujos líderes afirmam estar avaliando com “parcimônia” os acenos do presidente. Até agora já foram recebidos no Planalto os líderes do PP, Repubicanos, PL, PSD e MDB.  Outras lideranças, como o presidente do Solidariedade, Paulinho da Força (SP), manteve contato por telefone com integrantes do governo.

Nas conversas, segundo relatos feitos ao Estado/Broadcast, foram oferecidos alguns cargos que já tinham sido prometidos no ano passado, mas não foram entregues, como é o caso do Banco do Nordeste ao PL.  Nas negociações, também foi cogitado entregar ao PL o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). Ao Solidariedade foi oferecido o Porto de Santos.

Do lado dos partidos, não há ainda um acordo fechado com o governo. Líderes estão avaliando com cautela os acenos do Planalto. O receio é que Bolsonaro não honre as promessas e volte a atacar o Congresso na primeira oportunidade. Na semana passada, Rodrigo Maia reclamou da forma como o Parlamento é tratado pelo governo. “Você entra por uma porta e quando sai leva um coice”, disse.

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