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Após votar impeachment de Dilma, Cunha volta a ser alvo das atenções no Conselho de Ética

Presidente da Câmara defendeu que processo contra ele trate apenas de depoimento em CPI; segundo ele, parlamentares do PT não se limitam a apenas o que faz parte da representação

Por Daiene Cardoso e Isabela Bonfim
Atualização:
"Acho engraçado quando vejo as entrevistas do advogado-geral da União pedindo que o Supremo limite a denúncia contra a presidente. Mas quando se trata de mim, não tem limite", disse Cunha Foto: AFP

BRASÍLIA - Encerrado o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara, os deputados voltam-se agora ao processo por quebra de decoro parlamentar contra o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O peemedebista conta com o apoio dos partidos do centrão e de parte da oposição ao governo para salvar seu mandato, mas como o voto em plenário será aberto, a avaliação é que o resultado do julgamento é imprevisível.

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O Conselho de Ética tem até o dia 19 de maio para concluir a fase de instrução e até 2 de junho para votar o parecer final do relator Marcos Rogério (DEM-RO). Com as recentes mudanças na composição do colegiado, há sinais de que Cunha pode ter mudado a correlação de forças no grupo, o que lhe permitirá enterrar eventual recomendação para cassação de mandato ou negociar uma punição mais branda.

Os aliados do peemedebista contam com o voto decisivo da novata Tia Eron (PRB-BA) para derrotar o grupo adversário. A deputada vem sendo disputada pelos dois lados, já disse publicamente admirar o desempenho de Cunha no comando da Casa, mas ainda não deu sinais claros de como deve votar. "Se ela votar com ele, estará morta politicamente", disse um conselheiro.

Nesta semana, não haverá trabalhos no colegiado, mas na próxima os conselheiros ouvirão os depoimentos do lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, e do ex-dirigente da BR Distribuidora, João Augusto Henriques (que será ouvido em Curitiba). Baiano depende ainda que a Câmara libere o pagamento de sua passagem aérea para Brasília, mas os conselheiros já falam em fazer uma "vaquinha" para custear a viagem. O objetivo é garantir que Baiano sustente as denúncias contra o presidente da Casa. Também são esperados os documentos da Procuradoria Geral da República (PGR) que comprovariam as contas ocultas no exterior, objeto do processo disciplinar na Câmara.

Os conselheiros afirmam que agora é o momento de pressionar os partidos para garantir o andamento do processo e que, qualquer que seja o resultado no conselho, haverá votação no plenário. "O que unifica coxinhas e mortadelas é o desejo de saída de Eduardo Cunha. Talvez esse seja o ponto de unificação social do País", disse o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), adversário do peemedebista.

Entre os tucanos, o discurso é que o foco a partir de agora será evitar manobras no conselho e aguardar que o Supremo Tribunal Federal (STF) se manifeste sobre o afastamento de Cunha. "É claro que a hora dele vai chegar. O que sair do conselho e for ao plenário, será aprovado", afirmou um oposicionista.

Pelo perfil de Cunha, a oposição duvida que ele renuncie à presidência da Casa e diz que não há acordo para preservá-lo após sua bem sucedida condução do processo de impeachment. "Não tem como fazer esse acordo com 367 pessoas", disse o líder da oposição no Congresso, deputado Mendonça Filho (DEM-PE), se referindo aos votos favoráveis ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. "É esdrúxulo imaginar que Eduardo Cunha mereça anistia por ter patrocinado o impeachment", respondeu Delgado.

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Dentro do PMDB, há quem vislumbre um cenário de crescente pressão sobre Cunha e diga que o caminho natural será a cassação. Um cacique do partido diz que o vice-presidente Michel Temer não tem intenção de fazer acordo para garantir o mandato de Cunha para não contaminar sua imagem em eventual substituição da presidente Dilma Rousseff. "Vejo o Temer tentando se desvencilhar dele. Essa proximidade causa constrangimento", resumiu um deputado do PMDB.

Na defensiva. No final da tarde de hoje, Eduardo Cunha comparou as tentativas do governo de limitar a análise do processo de impeachment da presidente às pedaladas com a possível limitação de seu processo no Conselho de Ética da Câmara ao seu depoimento na CPI da Petrobrás.

"Acho engraçado quando vejo as entrevistas do Advogado Geral da União pedindo que o Supremo limite a denúncia contra a presidente. Mas quando se trata de mim, não tem limite", disse nesta segunda-feira, 18, em visita ao Senado. Segundo ele, parlamentares do PT não se limitam a apenas o que faz parte da representação, mas tentam incluir na análise do processo "tudo aquilo que queiram colocar a mais".

Ele reiterou que a representação contra ele no Conselho de Ética diz respeito, estritamente, à possível inveracidade de seu depoimento espontâneo à CPI, quando afirmou que não possuía contas no exterior. "Comigo o PT tem um comportamento, mas quando defendem o impeachment, eles têm outro comportamento. Tem que ser restrito àquilo que é a representação, mas para eles são dois pesos e duas medidas", criticou.

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Sobre os protestos de deputados contrários a ele durante a sessão do impeachment de Dilma, o presidente da Câmara disse se tratar de uma estratégia para tentar atrasar a votação.

"Encarei como uma provocação, no intuito de me constranger, para ver se eu respondia e cancelava a votação. O objetivo era esse, melar a sessão", afirmou. O deputado afirmou que a estratégia não deu certo, já que ele não reagiu, mas que estuda a possibilidade de entrar com queixa crime contra aqueles que "passaram do limite e foram para a ofensa"

Jogo da sucessão. Aliados de Cunha contam hoje com PR, PP, PTB, PRB, PSD, PSC, Solidariedade e parte do DEM para blindá-lo na Casa e afirmam abertamente que já têm maioria no conselho. "A turma que está com ele vai continuar. Não tem por que não estar", disse um membro da "tropa de choque".

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Os amigos de Cunha passaram os últimos dias concentrados no andamento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e aguardam a retribuição da oposição para ajudar a enterrar um eventual pedido de cassação contra o presidente da Casa. Não à toa, Cunha manteve nos últimos tempos relações próximas com os principais líderes da oposição, oferecendo jantares e almoços aos deputados para costurar os detalhes da votação do impeachment.

Além do número expressivo de parlamentares que rebatiam os discursos contra Cunha na sessão de votação da admissibilidade do impeachment, o peemedebista mantém ao seu redor um grupo de líderes que despontam como possíveis candidatos à presidência da Casa em 2017. Nos bastidores aparecem como pré-candidatos o líder do PTB, Jovair Arantes (GO), o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), o ex-líder do PR, Maurício Quintella Lessa (AL) e o líder do PSC, André Moura (SE). Os quatro são potenciais herdeiros do grupo pró-Cunha na Casa. É com esses líderes que os aliados esperam proteger o peemedebista. "Ele vai alimentando (a esperança de) todos para manter o grupo unido", decifrou um líder partidário.

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