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Após 'sinal amarelo' de Lira, Bolsonaro recebe deputado no Planalto e diz ter 'zero problema'

O presidente da Câmara disse que o Legislativo não tolerará novos erros por parte do Poder Executivo no enfrentamento da pandemia da covid-19

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Por Pedro Caramuru , Emilly Behnke e Matheus de Souza
Atualização:

BRASÍLIA - Um dia depois de receber um "sinal amarelo" do presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), pela forma como conduz o enfrentamento da pandemia no País, o presidente Jair Bolsonaro recebeu o deputado para uma conversa no Palácio do Planalto. Após o encontro, Bolsonaro afirmou ter "zero problema" com o aliado, que ajudou a eleger ao comando da casa legislativa.

"Conversei com o Lira e não tem problema nenhum entre nós. Zero problema", disse Bolsonaro. "Nunca teve nada errado entre nós. Sou velho amigo de Parlamento. Torci por ele e o governo continua tudo normal", reforçou. 

Arthur Lira, presidente da Câmara, e Jair Bolsonaro, presidente da República Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

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O discurso dúbio de Bolsonaro - que pede união para enfrentar o vírus, mas ao mesmo tempo promove embates com governadores e defende medicamentos sem eficácia  - levou ontem o presidente da Câmara a fazer um alerta ao Palácio do Planalto. Lira disse que o Legislativo não tolerará novos erros por parte do Poder Executivo no enfrentamento da pandemia da covid-19.

“Estou apertando hoje um sinal amarelo para quem quiser enxergar: não vamos continuar aqui votando e seguindo um protocolo legislativo com o compromisso de não errar com o país se, fora daqui, erros primários, erros desnecessários, erros inúteis, erros que são muito menores do que os acertos cometidos continuarem a ser praticados”, disse o deputado na tribuna da Câmara.

A declaração ocorreu horas depois de Lira participar de uma reunião com Bolsonaro e diversos ministros do governo para tratar do combate à covid-19. Também participaram o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux. Como revelou o Estadão, foi a última tentativa do grupo de convencer o presidente da República a mudar a postura negacionista que prejudica as ações de combate à covid-19.

No encontro, realizado no dia em que o Brasil atingiu a marca de 300 mil mortes pela doença, foi definida a criação de um comitê para coordenar ações de combate à covid-19. Questionado desde ontem, porém, o Palácio do Planalto não informou como atuará nem quem fará parte do grupo.

Ao fim da reunião desta quinta-feira no Planalto, Bolsonaro desceu para acompanhar Lira pessoalmente até o carro e falou rapidamente com jornalistas. Segundo o presidente, durante a conversa, vários assuntos foram abordados, entre eles o combate à pandemia. "O que nós queremos, juntos, é buscar maneiras de contratar mais vacinas. É, na ponta da linha, fazer com que cheguem informações de que vacinas estão sendo aplicadas. É isso que queremos", disse Bolsonaro. O presidente da Câmara saiu do encontro sem dar declarações.

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Alemanha

Mais cedo, ao conversar com apoiadores no Palácio da Alvorada, Bolsonaro distorceu uma declaração da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, para se opor a medidas de isolamento social adotadas nos Estados como forma de conter a propagação do vírus. O presidente disse que Merkel cancelou um "lockdown" que haveria no país europeu por entender que as restrições são muito mais graves para a economia.

"Ia ter o lockdown rigoroso lá e ela cancelou e pediu desculpas. Ela falou lá, segundo a imprensa, que os efeitos de fechar tudo é muito mais grave que os efeitos do vírus. Palavras dela”, afirmou o presidente. Apesar do que disse Bolsonaro, não foi o que a chanceler declarou. Conforme relato da rede alemã Deutsche Welle de rádio e TV, a suspensão das medidas restritivas aconteceu por não terem sido planejadas com antecedência e em razão do curto período para adotá-las. “A ideia (do lockdown) foi um erro. Havia boas razões para optar por ela, mas ela não pode ser implementada suficientemente bem nesse curto período de tempo”, disse Merkel, segundo a rede. "Esse erro é somente meu", ressaltou a chanceler alemã. “Lamento profundamente e peço desculpas a todos os cidadãos."

Diferentemente do que disse Bolsonaro, a Alemanha foi um dos primeiros países na Europa a adotar restrições de circulação no ano passado, mas flexibilizou as medidas após os números da doença desacelerarem. No fim do ano, porém, Merkel chegou a adotar ações mais rígidas para evitar aglomerações durante as férias de verão e as festas.

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Bolsonaro é crítico a medidas de isolamento social adotadas no Brasil, por decisão de prefeitos e governadores, sem uma estratégia nacional. O presidente chegou a acionar  o Supremo Tribunal Federal para derrubar o toque de recolher determinado na Bahia, no Rio Grande do Sul e no Distrito Federal, mas teve o pedido negado.

Mourão

Na mesma linha de Bolsonaro, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou nesta quinta-feira, 25, não ver condições para um lockdown nacional. Segundo ele, a medida, discutida várias vezes, seria "impossível" de ser implementada em um País desigual como o Brasil. "Vai ficar só no papel. Julgo que medidas restritivas têm que ficar a cargo de governadores e prefeitos; cada um sabe como está a situação na sua área. E o governo federal tem de dar o apoio necessário, não no caso dessas medidas, mas em termos de recursos financeiros", completou ao chegar no Palácio do Planalto. Ele não participou do encontro com Lira.

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Segundo Mourão, o número de mortes pela covid-19 no País "ultrapassou o limite do bom senso" e o governo trabalha, neste momento, para reduzir o número de casos. "Tem um novo ministro da Saúde, que assumiu o comando ontem, e agora vamos enfrentar o que está aí e tentar de todas as formas diminuir a quantidade de gente contaminada e, obviamente, o número de óbitos, que já ultrapassou o limite do bom senso", disse o vice-presidente.

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