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Bolsonaro reforça defesa de missas e cultos presenciais

Em Chapecó, presidente disse esperar que o STF mantenha templos abertos e chegou a sugerir vista de um ministro para adiar decisão

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Por Redação
Atualização:

BRASÍLIA, CHAPECÓ (SC) e FOZ DO IGUAÇU (PR) – No dia do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre liberação ou não de cultos religiosos presenciais durante a pandemia do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro voltou a defender a abertura de igrejas no País. Em Chapecó (SC), Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira, 7, esperar que o plenário da Corte referende a decisão de manter os templos abertos à visitação e chegou a sugerir que um ministro pedisse vista (mais tempo para análise) como forma de adiar a decisão. 

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“Espero que ao STF julgar liminar de Kassio Nunes (Marques), que a liminar seja mantida ou que alguém peça vista para discutir mais”, disse. “Qual é o último local que uma pessoa procura antes de cometer um suicídio? A igreja. Quem não é cristão, que não vá”. 

O presidente voltou ao assunto horas depois, ao participar de uma cerimônia em Foz do Iguaçu (PR). “Como estamos em um País onde mais de 90% do seu povo é cristão, eu acredito que hoje o Supremo vai dar uma boa resposta no tocante à abertura de templos e igrejas”, disse – o julgamento sobre atividades religiosas será retomado nesta quinta-feira, 8. Segundo especialistas, a reunião de pessoas em ambientes fechados é uma das principais formas de proliferação da doença. 

Jair Bolsonaro, presidente da República Foto: Evaristo Sá/ AFP

Bolsonaro iniciou sua vista a região Sul por Chapecó (SC), apontada por ele como exemplo no combate à covid-19. A cidade enfrentou colapso de saúde em fevereiro, quando precisou transferir pacientes, adotar medidas rígidas de restrição de circulação e ampliar o número de leitos. Hoje, apesar da redução de casos, ainda há 100% das UTIs lotadas no SUS e na rede privada, e acumula mais mortes por 100 mil habitantes do que o País e Santa Catarina. 

Na segunda-feira, Bolsonaro disse que Chapecó faz um “trabalho excepcional” contra a covid-19 porque deu “liberdade” a médicos para prescreverem o “tratamento precoce”, com uso de medicamentos sem eficácia para a covid-19, como a hidroxicloroquina. “Não sei como salvar vidas, não sou médico, mas não posso tolher liberdade do médico”, afirmou o presidente no discurso de ontem. 

“Se não tem remédio específico tem que procurar outra alternativa. Como na guerra do pacifico. Não tinha sangue para transfusão e se injetava água de coco no soldado. E deu certo”, completou Bolsonaro, citando ocasião em que água de coco foi usada no soro de soldados, e não injetado neles.

Acompanhado do Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, o presidente comparou a pandemia do coronavírus a outras crises na saúde como o HIV. “Naquela época, foi usado AZT e não era comprovado cientificamente. Se não tivéssemos usado, não teríamos o coquetel e hoje as pessoas levam uma vida quase normal.” 

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O presidente voltou a dizer que não é favorável às medidas restritivas. “Eu temo por problemas sociais gravíssimos no Brasil, converso com as nossas Forças Armadas... teremos efetivo para conter isso se eclodir no Brasil?” Tô me lixando para 22. Não vai ter lockdown nacional. O nosso Exército não vai pra rua para manter o povo dentro de casa. A liberdade não tem preço”, afirmou.

Infectologistas ouvidos pelo Estadão discordam que o “tratamento precoce” foi responsável pela queda de números em Chapecó, e apontam para as medidas de distanciamento social. “Basicamente, (a queda aconteceu) por conta do distanciamento social mais intensivo feito entre final de fevereiro e início de março, testagem mais ampla, isolamento dos positivos e contactantes. Isso fez diminuir o número de casos”, disse a infectologista Carolina Cipriani Ponzi.

Sobre a comparação que Bolsonaro fez da pandemia do coronavírus a outras crises na saúde como o HIV, o infectologista do Instituto de Infectologia Emilio Ribas Francisco Ivanildo de Oliveira Junior diz que isso “não faz sentido”, já que há uma diferença “muito grande” entre a infecção pelo HIV e a covid-19. “Quando a infecção pelo HIV se tornou conhecida, em meados da década de 1980, ela matava 100% das pessoas em poucos meses. É diferente da situação atual da covid-19, onde ocorre exatamente o inverso: a grande maioria das pessoas sobrevive sem ou apesar do tratamento”, disse o médico. 

“Ou seja, nós não estamos dando um medicamento para curar uma doença que seja 100% fatal em dias ou meses, onde até justificaria algum tipo de medida heroica. Estamos falando de se fazer um tratamento precoce para uma doença que 85% das pessoas vai evoluir bem independente de tomar ou não qualquer tipo de medicação”, completa o médico. / LAURIBERTO POMPEU, LUIS LOPES e DENISE PARO, ESPECIAIS PARA O ESTADÃO

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