Após jornalistas deixarem entrevista, segurança de Bolsonaro pede que claque evite criticar imprensa

'Só peço a vocês que quando o comboio parar aqui, evitar  ficar criticando o pessoal da imprensa', disse o funcionários aos apoiadores do presidente

Foto do author Marlla Sabino
Por Jussara Soares e Marlla Sabino
Atualização:

BRASÍLIA – Um dia após jornalistas se retirarem de entrevista do presidente Jair Bolsonaro por ele ter estimulado apoiadores a hostilizar os repórteres, um segurança da Presidência pediu, nesta quarta-feira, 1, que as pessoas na portaria do Palácio da Alvorada evitassem criticar os repórteres. O pedido foi feito quando o presidente se preparava para deixar a residência oficial.

"Só peço a vocês que quando o comboio parar aqui, evitarficar criticando o pessoal da imprensa", disse o segurança. “Infelizmente, eles também estão trabalhando”, justificou.Em seguida, Bolsonaro parou para cumprimentar os apoiadores. O presidente não falou com a imprensa.

Bolsonaro encontra apoiadores na portaria do Palácio daAlvorada em Brasília nesta terça, 16 Foto: REUTERS/Adriano Machado

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No dia anterior, quando questionado sobre declarações do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que tem defendido o isolamento social para evitar a propagação do coronavírus no País, o presidente mandou jornalistas ficarem quietos e disse que um apoiador responderia.

"É ele que vai falar, não é vocês não", disse, na ocasião. Neste momento, os jornalistas que estavam no local, uma área cercada na entrada da residência oficial, se retiraram.

A atitude surpreendeu Bolsonaro, que questionou: "Vai embora? Vai abandonar o povo? A imprensa que não gosta do povo", disse o presidente.

Os ataques contra a imprensa por parte de Bolsonaro têm se tornado constantes nas entrevistas que concede em frente ao Palácio da Alvorada. Na segunda-feira, após ser criticado por especialistas ao contrariar recomendações médicas e circular por áreas comerciais de Brasília, provocando aglomerações, o presidente disse que iria falar sem aceitar perguntas. No início do ano, chegou a mandar um repórter "calar a boca" e a ofender jornalistas que fizeram reportagens que o incomodaram.

As declarações hostis costumam ter o apoio da claque que diariamente aguarda a saída e a chegada do presidente na residência oficial. Por determinação da segurança presidencial, os jornalistas precisam ficar em uma área cercada por grades, ao lado de onde se concentram os apoiadores. 

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Depois de um período em que poucos apareceram por lá por causa das recomendações de se evitar aglomerações, os apoiadores voltaram a ir ao local diariamente, estimulados pelo pronunciamento do presidente do dia 24 de março em que chamou de "gripezinha" a covid-19, que já matou 201 pessoas no Brasil.

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