Os países que integram a Organização dos Estados Americanos (OEA) alcançaram na madrugada desta terça-feira, 18, em Washington, uma resolução sobre a crise entre Equador e a Colômbia. Após cerca de 15 horas de reuniões e de quatro diferentes esboços terem sido apresentados, a OEA chegou a um documento final que "rechaça" a incursão militar colombiana e que foi recebido com reservas pelos Estados Unidos. Veja também: 'Terrorismo não pode virar guerra santa' Entenda o conflito entre Colômbia, Equador e Venezuela A crise entre os dois países foi deflagrada após forças militares colombianas terem bombardeado, no dia 1 de março, um acampamento do grupo guerrilheiro Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), dentro do território equatoriano. De acordo com a entidade, a operação colombiana foi feita "sem o conhecimento ou consentimento prévio do governo do Equador", o que viola artigos da carta da OEA. Os Estados Unidos apoiaram o texto final, mas fizeram restrições ao artigo 4 do texto, que condena a ação colombiana. Na visão da representação americana, a Colômbia exerceu o seu direito de "legítima defesa", durante o ataque voltado contra as Farc. Segundo o chanceler Celso Amorim, incluir um item que justificasse a ação colombiana sob o argumento de que o país agiu em legítima defesa seria contraditório, após a nação andina ter se desculpado por ter violado a soberania do Equador, durante a recente reunião do Grupo do Rio, na República Dominicana, no dia 7 de março. "Isso todo mundo disse que não podia entrar. Como é que faz sentido você pedir desculpas e dizer que foi legítima defesa", afirmou Amorim, minutos antes da divulgação do texto final. O governo americano vem defendendo que o ônus de impedir que a Colômbia volte a realizar operações militares fora de suas fronteiras cabe tanto aos colombianos como aos países vizinhos, que devem demonstrar um forte compromisso no combate ao terrorismo. Impasse Durante as discussões a portas fechadas com vistas à formulação do documento final, as representações de Colômbia e Equador trocaram farpas. Os colombianos diziam ter informado previamente o Equador sobre a presença das Farc em seu território, mas os representantes do Equador negaram as informações. Além disso, a representação da Colômbia enfatizou a necessidade de que outros países promovessem esforços no combate ao terrorismo. E o Equador procurou frisar a necessidade de respeitar a soberania de seu território. A resolução enfatiza os pontos acordados pelos presidente de Colômbia e Equador na reunião do Grupo do Rio, realizada no início do mês na República Dominicana. O texto final tanto "rechaça a incursão das forças militares e efetivos de polícia da Colômbia no território do Equador" como "reitera o firme compromisso de todos os Estados membros em combater as ameaças de segurança provenientes da ação de grupos irregulares e organizações criminosas". O documento prega ainda que a OEA deve assegurar o cumprimento da resolução e atuar em prol de um "clima de confiança entre as duas partes". A resolução reafirma o respeito à soberania territorial dos Estados, registra o pedido de desculpas de Bogotá pelo bombardeio e reitera "o firme compromisso" dos 34 países da OEA de combater a ação de "grupos irregulares" na região, como queria o governo colombiano. "(A OEA) reitera o firme compromisso de todos os Estados membros de combater as ameaças à segurança provenientes da ação de grupos irregulares ou de organizações criminosas, em particular aquelas vinculadas a atividades do narcotráfico", afirma o texto. Proposta brasileira Diante do impasse entre as duas nações, o ministro Celso Amorim teria proposto a adoção de duas resoluções, uma delas baseada na esboço inicial da OEA, que incentivava o diálogo e a cooperação entre os dois países, mas condenava a ação colombiana, ainda que sem a ênfase defendida pelo Equador. O outro documento se basearia em decisões prévias tomadas pela entidade e firmadas entre os dois países durante a reunião do Grupo do Rio, na República Dominicana, e daria um mandato para que o conselho permanente da OEA pudesse dar continuidade às medidas voltadas para obter a normalização entre as duas nações. A proposta brasileira foi abraçada pelos demais participantes. E o documento final pareceu ser um resultado da mistura entre as duas resoluções. O texto afirma também que o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, deverá apresentar um informe sobre o cumprimento da resolução, durante a próxima assembléia-geral da entidade, a ser realizada em junho, em Medellín, na Colômbia. Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.