Após denúncia a revista, Vedoin é preso em motel

Segundo apurou Felipe Recondo, repórter do blog do Noblat, o superintendente da PF do Mato Grosso, Geraldo Pereira, disse que Vedoin estava negociando a venda de documentos por R$ 2 milhões e abusando da liberdade condicional

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Por Agencia Estado
Atualização:

Luiz Antonio Vedoin, um dos donos da Planam e chefe da Máfia dos Sanguessugas, foi preso pela Polícia Federal (PF) do Mato Grosso em um motel de Cuiabá, nesta sexta-feira, dia 15, depois de ter tidos sua liberdade provisória suspensa pelo juiz substituto da 2ª Vara Federal em Mato Grosso, Cesar Bearsi. A Planam é a principal empresa envolvida no escândalo da máfia dos sanguessugas, em que parlamentares apresentavam emendas para compra de ambulâncias superfaturadas com verba da União. Vedoin ficará preso por 30 dias prorrogáveis por mais 30. Às 16h45, o empresário já era ouvido na superintendência da Polícia Federal em Cuiabá. Ele será transferido para o presídio Pascoal Ramos e ainda nesta sexta seus advogados ingressarão com pedido de habeas corpus solicitando o relaxamento da prisão do empresário. Segundo apurou Felipe Recondo, repórter do blog do Noblat, o superintendente da PF do Mato Grosso, Geraldo Pereira, disse que Vedoin estava negociando a venda de documentos por R$ 2 milhões e abusando da liberdade condicional. Entre tais documentos estaria um filme em que José Serra, candidato do PSDB ao governo de São Paulo, participa da cerimônia de entrega ambulâncias a prefeitos do Mato Grosso. Outro documento seria uma foto em que aparece Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à Presidência, ao lado de uma ambulância vendida pela Planam. O blog também informou que, a pedido de Vedoin, Paulo Roberto Trevisan, primo do empresário, foi detido pela Polícia Federal no aeroporto de Cuiabá quando tentava embarcar para São Paulo. Trevisan levava em uma pasta documentos, fitas de vídeo e fotografias que supostamente envolvem o ex-ministro da Saúde José Serra com o negócio dos sanguessugas. A missão de Trevisan era a de entregar todo o material a Valderan Padilha, ligado ao PT de São Paulo, com quem a Polícia Federal apreendeu R$ 1,7 milhão em dinheiro vivo. Denúncia A prisão acontece no mesmo dia em que a revista Istoé começa a circular com entrevista na qual Luiz Antônio e seu pai, Darci Vedoin, envolvem o ex-ministro da Saúde José Serra, candidato do PSDB ao governo de São Paulo, no escândalo da máfia dos sanguessugas. Segundo eles, a distribuição de propinas começou em 1998, durante a gestão de Serra no Ministério. "Naquela época, a bancada do PSDB conseguia aprovar tudo e, no Ministério, o dinheiro era rapidamente aprovado", disse Luiz Antonio à revista. Ainda nesta entrevista, os empresários afirmam que, do total de 891 ambulâncias comercializadas pela Planam entre 2000 e 2004, 681 tiveram verba liberada até 2002, durante a gestão de Serra e Barjas Negri, secretário executivo do Ministério que substituiu Serra quando ele candidatou-se à Presidência da República em 2002. De acordo com interpretação de alguns membros do Ministério Público, as emendas teriam sido liberadas com mais rapidez após a derrota de Serra nas eleições. O objetivo era pagar as dívidas de campanha. O esquema A maior parte das ambulâncias foi entregue em 2002: no total, 317. Além de substituto de Serra e secretário executivo do Ministério, Barjas Negri fez parte da equipe de Serra quando o tucano foi ministro do Planejamento e, em 2004, foi secretário estadual de Habitação em São Paulo. Hoje é prefeito de Piracicaba. "O Barjas Negri é o braço direito do Serra", acusou Darci. "Na época deles o nosso negócio era muito mais fácil. O dinheiro saía muito mais rápido. Foi quando mais crescemos", disse Darci à revista. "A confiança do pagamento era tão grande que chegamos a entregar cento e tantos carros apenas com o empenho do Ministério, antes de a verba ser liberada." Beneficiados pela delação premiada, Darci e Luiz Antonio apresentaram uma relação de emendas liberadas até 2002 que atenderam a seus interesses, além de extratos bancários para comprovar as acusações. Segundo eles, Abel Pereira, empresário da construção civil de Piracicaba, cidade hoje administrada por Barjas Negri, falava em nome do então ministro e era o principal operador do Ministério, apesar de não ser funcionário. Ele recebia 6,5% do valor de cada emenda. "Quando o Serra era ministro, as operações eram feitas por parlamentares. Quando o Barjas deixou de ser secretário executivo e assumiu o comando do Ministério, Abel passou a ser o responsável pela liberação dos recursos, apesar de não possuir nenhum cargo naquela Pasta", disse Luiz Antonio. Eles apresentaram cópias de 15 cheques emitidos pela Klass, empresa dos Vedoin, que teriam sido entregues a Abel e somam R$ 601,2 mil. "(Abel) falava que (o dinheiro) era para o ministro", disse Luiz Antonio. O dinheiro era depositado também em contas de pessoas jurídicas e físicas indicadas por Barjas Negri. Dois depósitos no valor de R$ 66,5 mil e um de R$ 33,5 mil foram feitos no dia 27 de dezembro de 2002 em uma empresa chamada Kanguru, fechada no início de 2003. A empresa Datamicro Informática recebeu dois depósitos, um de R$ 70 mil, em 19 de dezembro de 2002. A Império Representações Turísticas também recebeu dois depósitos, um de R$ 60 mil em 18 de dezembro de 2002. Os procuradores vão agora rastrear o destino desses cheques.

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