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'São irmãos siameses', diz Marina Silva sobre Dilma e Temer

A favor do impeachment, ex-senadora voltou a criticar o vice e defender a realização de novas eleições para presidente

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Por Luísa Martins
Atualização:

BRASÍLIA - A ex-senadora Marina Silva (Rede Sustentabilidade) defendeu a cassação da chapa eleita em 2014 sob o argumento de que a presidente Dilma Rousseff (PT) e seu vice, Michel Temer (PMDB) "são irmãos siameses e faces da mesma moeda". Porta-voz nacional da Rede Sustentabilidade, ela afirmou, em entrevista coletiva nesta segunda-feira, 18, que a convocação de novas eleições "é o melhor caminho para o Brasil". A ideia seria que ocorressem ainda neste ano, aproveitando a estrutura das eleições municipais.

A mais recente pesquisa do instituto Datafolha, de 9 de abril,mostra Lula (PT) na liderança das intenções de voto para presidente com 21% no cenário em que disputa com os candidatos mais prováveis. Ele é seguido de perto por Marina, que conta hoje com 19%, e pelo senador Aécio Neves (PSDB), com 17%. Jair Bolsonaro (PSC) tem 8% e Ciro Gomes (PDT), 7%.

A ex-senadora Marina Silva é a seguna mais bem colocada namais recente pesquisa do instituto Datafolha para possíveis eleições Foto: MARCOS DE PAULA/ESTADÃO

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Nesta segunda, Marina considerou o impeachment um instrumento legal. "Não é golpe", reiterou.

Apesar disso, a Rede entende que o impedimento da presidente não é suficiente para "resolver as crises política, econômica e social" do Brasil. "PT e PMDB praticaram crimes de corrupção juntos e tomaram decisões políticas juntos", disse a ex-candidata sobre a Presidência da República, em uma crítica a um eventual governo Temer.

Na terça-feira passada, o partido entrou com pedidos de amicus curiae junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Se admitida, a Rede se torna parte em algum dos quatro processos que pedem a cassação da chapa de Dilma e Temer,podendo apresentar novos elementos de provas e fazer sustentações orais em plenário.A decisão deve sair até o fim desta semana.

A oposição sustenta que ambos cometeram abuso de poder político e econômico e que utilizaram dinheiro desviado da Petrobras para abastecer a campanha à reeleição. "Quanto mais explícito fica o uso do dinheiro do petrolão nas eleições, mais há o imperativo ético desse julgamento, pois a chapa está toda comprometida", disse Marina.

"Quanto mais explícito fica o uso do dinheiro do petrolão nas eleições, mais há o imperativo ético desse julgamento, pois a chapa está toda comprometida", disse Marina.

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Para ela, Dilma e Temer cometeram crime de responsabilidade com as pedaladas fiscais. A ex-ministra fez, no entanto, uma crítica ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por "subtrair, por razões óbvias, denúncias referentes à Operação Lava Jato", uma vez que "não tem condições políticas, éticas e legais para conduzir o processo". "Ainda assim, quem deu legitimidade ao rito do impeachment foi o Supremo Tribunal Federal."

Sobre as novas eleições, Marina Silva afirmou que os ministros do TSE "têm poder de devolver a milhões de brasileiros a possibilidade de eleger um novo presidente". A medida possibilitaria, ainda na visão de Marina, que os partidos "se reapresentassem à sociedade brasileira". "A saída não é Dilma nem Temer. Não há como uma parte do fruto estragado ser removida e a outra continuar sendo usada como alimento", destacou.

A porta-voz da Rede - que se aliou a Eduardo Campos (PSB-PE) nas últimas eleições presidenciais - destacou que a Lava Jato faz um julgamento "jurídico e criminal", enquanto uma nova eleição "faria um julgamento ético e político das lideranças". Antes da coletiva de imprensa, a ex-senadora havia publicado em seu blog um artigo em que diz que "a população tem o direito de dar a palavra final, agora sabendo de tudo o que ficou oculto em 2014, e escolher um novo governo para coordenar os imensos esforços que o Brasil terá de fazer para tirar o país da crise". Ela pede "celeridade" ao TSE para julgar a cassação da chapa.

Em 2014, Marina concorreu à Presidência da República após a morte de Eduardo Campos (PSB-PE), de quem era candidata a vice. Ela ficou em terceiro lugar, com pouco mais de 21% dos votos no primeiro turno, deixando a disputa entre Dilma e o senador Aécio Neves (PSDB-MG). A Rede foi registrada no TSE quase um ano depois, em setembro de 2015.

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Leia a nota na íntegra:

"A Câmara dos Deputados aprovou a admissibilidade do pedido de impeachment contra a presidente Dilma e o processo deve seguir para o Senado, de acordo com o rito estabelecido pelo Supremo Tribunal Federal. A Rede Sustentabilidade já havia se posicionado, depois de intensa discussão, pela admissibilidade do impedimento, pois compreende que existem elementos que justificam a abertura de processo de crime de responsabilidade previsto na constituição. No entanto, é importante reforçar que, se o instrumento do impeachment cumpre a formalidade legal, não alcança ainda a finalidade de resolver a grave crise política, econômica, social e ambiental em curso.

Há clareza na sociedade de que o partido do vice-presidente Temer é tão responsável pela crise política, ética e econômica quanto o partido da presidente Dilma. Também há clareza de que Eduardo Cunha não pode continuar na presidência da Câmara dos Deputados e que Renan Calheiros não pode continuar na presidência do Senado, pois ambos estão profundamente envolvidos nos fatos que vem sendo revelados.

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Lideranças políticas do Brasil estão envolvidas em corrupção e querem usar o poder para se esconder das denúncias da operação Lava Jato. Embora hoje se digladiem, há bem pouco tempo os mesmos envolvidos estavam juntos e gestaram o caos atual, pela corrupção, pela incompetência, pelas artimanhas políticas. PT e PMDB são faces de uma mesma moeda, são complementares na sua determinação de manter de pé a política ultrapassada e corrosiva.

A solução passa pela Justiça Eleitoral, que investiga o uso de dinheiro da corrupção para a campanha de Dilma e Temer. A Rede Sustentabilidade confia que o Tribunal Superior Eleitoral julgará com a celeridade possível as denúncias de fraude eleitoral da chapa Dilma/Temer nas eleições de 2014, devolvendo à sociedade o poder de decidir o futuro do país. Afinal, os fiadores da Operação Lava-Jato somos nós, cidadãos e cidadãs, os únicos capazes de escolher um governo com credibilidade para tirar o país da crise. O TSE precisa ter o sentido de urgência para julgar o processo que pede a cassação da chapa Dilma-Temer e convocar novas eleições.

A população tem o direito de dar a palavra final, agora sabendo de tudo o que ficou oculto em 2014, e escolher um novo governo para coordenar os imensos esforços que o Brasil terá de fazer para tirar o país da crise.

A saída passa pelo TSE Nem Dilma, Nem Temer. Por uma nova eleição!"

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